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Confusão em formatura: não é moralismo; é incentivo ao estupro e ao feminicídio

by admin

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A confusão ocorreu no sábado (13), durante uma formatura de adolescentes no Colégio Madre de Deus, em Recife. Um homem aparentemente embriagado pega no braço do DJ e tenta interromper a execução de uma canção. Segundo ele, e outra mulher presente, a música não era adequada ao público da festa.

O que, em um primeiro momento pode parece excesso de moralismo dos pais, é na verdade uma aberração. O funk ostentação “Helicóptero”, lançada em 2019, por DJ Guuga e MC Pierre, dá uma escolha simples, direta e irrefutável à moça que está na aeronave com dois rapazes: ou ela mantém relações sexuais com os dois ou desce. Descer significa ser atirada para fora. Veja o trecho abaixo:

“DJ Guuga é o piloto e o Pierre é o copiloto
O Guuga é o piloto e o Pierre é o copiloto
Tu vai dar pra um, tu vai dar pra outro
Tu vai dar pra um, tu vai dar pra outro
Tu vai dar pra um, tu vai dar pra outro

Piranha tu quis o céu, tu tá no céu, qual que vai ser?
Piranha tu quis o céu, tu tá no céu, qual que vai ser?
Vai dar ou vai descer? Vai dar ou vai descer?”

Colégio se exime de culpa

Em nota, o Colégio Madre de Deus se eximiu da culpa e informou que não participou da organização da festa e que o evento foi conduzido pela produtora Super A Formaturas. A empresa foi procurada pelo G1, mas não respondeu até a última atualização desta matéria.

Apologia ao crime

A situação, que a princípio se apresenta como um problema de garotos levados, tem um pano de fundo muito mais pesado e perverso. Em que momento termina a liberdade de expressão e começa a apologia ao crime. No caso da canção “Helicóptero” – e é um espanto isso não ter sido levantado antes, pois a canção foi lançada em 2019 – temos a apologia a dois crimes.

O primeiro deles é, obviamente, o da apologia ao estupro coletivo, pois, como dito acima, a moça não tem a menor escolha. Ou mantém a relação sexual com os dois ou é atirada da aeronave.

E é aí que entra a segunda apologia ao crime: o feminicídio. Ser atirada significa, é claro, ser assassinada. Corta e volta pra festa.

Centenas de garotos dançam e gargalham alegremente enquanto o DJ executa os versos repetidamente, ao som das batidas eletrônicas: “Vai dar ou vai descer? Eu vou deixar você escolher”.

Ela, assim como várias mulheres do Brasil e do mundo neste momento, não tem escolha: “Não tô brincando/Se ficar de palhaçada eu taco no oceano.”

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