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Copom deve manter juros e evitar sinalizações, com “Flávio Day” aumentando incertezas

by admin

Brasília, 9/12/2025 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve manter a Selic inalterada em 15,0% nesta quarta-feira, em decisão sem surpresas, pela quarta reunião consecutiva, segundo amplo consenso de mercado,  com novas incertezas geradas pela pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência reduzindo adicionalmente as apostas em sinalização para um corte já em janeiro de 2026.

Com a manutenção da Selic dada como certa, a grande expectativa dos investidores era pelos eventuais ajustes na comunicação do BC, mas a avaliação de operadores é de que colegiado evitará qualquer aceno explícito a respeito de janeiro, com alguns citando o anúncio de Flávio Bolsonaro como mais um desafio para a política monetária.

Após o evento, que ficou conhecido no mercado como “Flávio Day”, a precificação da curva de juros para corte de 25 pontos-base em janeiro recuou a 54,4%, de cerca de 80% vistos na semana anterior, de acordo com a Bloomberg.

O Ibovespa teve a maior queda diária em quase cinco anos, e o dólar futuro o maior avanço desde outubro na sexta-feira, após o senador Flávio Bolsonaro afirmar que o pai, Jair Bolsonaro, o escolheu para seguir missão com pré-candidatura à Presidência. Os vértices da curva de juros dispararam cerca de 60 pontos-base no pior momento da sessão na sexta.

Na avaliação do economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, a reação dos mercados de câmbio e juros ao anúncio de Flávio poderia levar o Copom a ser “ainda mais conservador e cauteloso” na comunicação.

 

GALÍPOLO CAUTELOSO 

A manutenção de um tom conservador, sem dar pistas sobre uma eventual redução de juros em janeiro, também seria condizente com as mais recentes falas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, que em aparições públicas evitou qualquer sinal sobre os próximos passos, pregando cautela diante de um “lento” processo de convergência da inflação à meta.

Apesar de pressões pela redução da Selic no mundo político, e expectativas crescentes no próprio mercado financeiro, Galípolo tem enfatizado uma postura dependente de dados, diante de uma economia resiliente.

O Copom inicia reunião de juros de dois dias nesta terça-feira, e informa decisão na quarta, a partir das 18h30. Opções negociadas na B3 na segunda-feira indicavam 96,8% de chances de juros inalterados, de acordo com contratos vistos pela Mover ao fim da manhã desta terça.

Para a EYTSE Estratégia, de Sérgio Goldenstein, seria “contraproducente” ao Copom sinalizar agora redução de juros em janeiro. “Como a reunião ocorrerá apenas no final do mês que vem (28/01 e 29/01), a ênfase numa postura dependente de dados asseguraria flexibilidade, sem fechar a porta para um corte em janeiro”, ponderou.

Há uma série de dados econômicos para serem divulgados antes do próximo compromisso do Copom. Além disso, as mudanças inesperadas no cenário político, com o anúncio de Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência, impactaram curva de juros e câmbio, impondo incerteza adicional para o BC.

CONJUNTURA MACRO 

Por um lado, o BC vem observando o funcionamento da política monetária, mesmo que de maneira bastante lenta. O PIB do terceiro trimestre avançou apenas 0,1% na base sequencial, com desaceleração significativa do consumo das famílias (+0,1%) pela ótica da demanda. Já pela ótica da oferta, o setor de serviços desacelerou alta a 0,1% no período.

Soma-se ao quadro benigno observado pelo Copom a evolução dos preços, com as medidas de núcleo do IPCA rodando perto da meta pela primeira vez em muitos meses, na esteira da desaceleração da inflação de serviços subjacente, bem como pressão baixista contínua sobre preços das commodities nos mercados internacionais.

O mercado de trabalho também mostra, por um lado, sinais de inflexão, com redução da população ocupada na leitura da PNAD.

Por outro lado, o ano de 2026 evidencia o desafio que o BC terá para fazer política monetária. A expectativa por um fiscal expansionista reacende temor de uma reaceleração do crescimento, que, em última instância, poderia restringir a extensão do ciclo de flexibilização monetária pelo BC. Na véspera, mediana de projeção do Focus para Selic, ao fim de 2026, avançou a 12,25%, ante 12,0%.

A flexibilidade do Copom ao não se comprometer explicitamente com um corte de juros em janeiro também poderia usar como argumento as incertezas associadas ao fechamento do ano – tradicionalmente marcado por envio de remessas e dividendos ao exterior por investidores estrangeiros, agravadas recentemente pelo ambiente político-eleitoral.

E no mercado de trabalho, a despeito de uma desaceleração na geração líquida de postos de trabalho mensurada pelo Caged em outubro, dados da PNAD Contínua para a taxa de desemprego no trimestre encerrado em outubro renovaram mínima recorde pela terceira vez no ano, em 5,4%, sustentando tese de resiliência.

“O cenário levanta uma série de questões. Mais do que respostas. Tenho muita dúvida sobre a tese do desalento. Não tem sido simples fazer análises sobre mercado de trabalho. Difícil contestar o mercado de trabalho, que se mostra aquecido. Os dados reforçam a postura humilde e conservadora pelo BC”, afirmou Galípolo, na semana anterior.

 

CICLO DE FLEXIBILIZAÇÃO 

Apesar do cenário ainda recheado de incertezas, analistas do sell-side consultados pela Mover veem, em sua maioria, espaço para início de corte de juros em janeiro, diante de redução das expectativas de inflação, que podem alcançar o centro da meta, de 3,0%, com deslocamento do horizonte relevante do BC a partir de janeiro, bem como a desaceleração observada na atividade econômica.

“A conjuntura segue compatível com início do ciclo (de corte) em janeiro, com atividade em desaceleração, primeiros sinais de inflexão no mercado de trabalho, núcleos em desinflação e projeção de inflação próxima da meta no horizonte relevante, mas o ambiente de incerteza elevada e expectativas ainda desancoradas justificam uma abordagem gradual, com corte inicial de 25 pbs”, projetou o BTG.

A EYTSE Estratégia, de Goldenstein, também antevê início do ciclo de flexibilização monetária em janeiro de 2026, com projeção para inflação no horizonte relevante do BC – deslocada para o terceiro trimestre de 2027 em janeiro – recuando a 3,0%, em meio à perda de tração da atividade econômica.

“Não haveria perda de credibilidade do BC (com corte em janeiro). A manutenção do nível corrente da Selic por um período mais extenso significaria elevação passiva da taxa de juros real”, afirmou Goldenstein, destacando o ambiente de arrefecimento da inflação e da atividade.

A XP, porém, discorda, e espera início do ciclo de flexibilização monetária a partir de março. Embora aponte que dados e notícias desde a última reunião, em novembro, foram “marginalmente favoráveis”, a corretora avalia que o Copom deverá continuar a sugerir manutenção dos juros por mais algum tempo – embora não por período “bastante” prolongado, diante das falas recentes de autoridades.

“Membros do Copom têm argumentado que o cenário inflacionário melhorou, porém de forma mais gradual e menos intensa do que o esperado. A nosso ver, o comunicado pós-decisão desta semana transmitirá uma mensagem semelhante”, afirmou o economista-chefe da XP, Caio Megale, em relatório.

COMUNICADO 

O foco dos operadores estará sobre o comunicado do BC após a decisão de juros, especialmente sobre dois trechos: o primeiro, no qual Copom tem apontado que a conjuntura atual exige política monetária em patamar significativamente contracionista por período “bastante prolongado”; e o segundo, em que colegiado afirma que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.

Na semana passada, Galípolo afirmou que o termo “bastante prolongado” refere-se ao período completo em que a taxa permanece em território restritivo, e não a um horizonte que se redefine a cada reunião. Assim, o BTG aposta em manutenção desse trecho nesta quarta, mas que na visão do banco não impediria corte de juros em janeiro.

Já a EYTSE diz esperar que o trecho sobre retomada do ciclo de ajuste seja excluído, diante de precificação consensual de que o próximo passo será corte de juros. Há duas semanas, o diretor de Política Monetária do BC, Nilton David, afirmou que o ciclo de alta foi encerrado, e no cenário-base, o esperado é um corte como próximo movimento.

O balanço de riscos do Copom deve seguir sem indicar assimetrias, embora um adiamento do início dos cortes faça sentido caso haja deterioração relevante. O BTG avalia que uma eventual depreciação significativa da taxa de câmbio até a data da reunião, com impacto relevante sobre expectativas e projeções de inflação, sustentaria uma postergação do ciclo de flexibilização monetária.

Também na decisão desta semana, players de sell side divergem a respeito da projeção do Copom para inflação no horizonte relevante, atualmente no segundo trimestre de 2027. BTG vê manutenção em 3,3%, enquanto EYTSE calcula que deverá recuar a 3,2%, em meio à apreciação cambial. A XP também antevê redução a 3,2%.

 

(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)

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