Corrupção, fraudes, improbidade administrativa e nepotismo dominaram quase metade das manchetes do Atual7 em 2025. Das mais de 70 matérias publicadas ao longo do ano, mais de 30 trataram de malfeitos na gestão pública — de esquemas milionários a nomeações de parentes em prefeituras. O recorte reflete a vocação do veículo, que completa mais um ano dedicado ao jornalismo investigativo independente no Maranhão.
O ano foi marcado por investigações que geraram respostas concretas. A reportagem “13 anos sem o Circo da Cidade“, assinada por Camila Rodrigues e Yuri Almeida em outubro, revelou irregularidades no processo administrativo da Prefeitura de São Luís para reativar o equipamento cultural e motivou uma ação popular que cobra judicialmente o cumprimento das promessas feitas por três gestões municipais. Já a investigação sobre familiares de presos expostos a sol e chuva na Central de Custódia de São Luís, feita pela jornalista Kethlen Mata, foi citada como prova documental em ação judicial que tramita na Vara de Interesses Difusos e Coletivos da capital.
O trabalho jornalístico da equipe também foi reconhecido no âmbito estadual. Em setembro, reportagem produzida por Kethlen venceu o Prêmio Roberto Fernandes de Jornalismo, promovido pela Associação das Defensoras e dos Defensores Públicos do Estado do Maranhão, nas categorias texto e destaque especial. A reportagem premiada, “Quando a saúde vira caso de Justiça“, mostrou como a Defensoria Pública estadual atua para garantir acesso ao SUS (Sistema Único de Saúde) para pessoas em situação de vulnerabilidade. Kethlen também foi selecionada para uma bolsa de reportagem pela Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e Fundação Itaú sobre educação pública brasileira, cujo resultado foi publicado em dezembro na investigação sobre escolas indígenas prometidas há mais de uma década no Maranhão.
Também em dezembro, o Atual7 lançou seu novo site, com organização por eixos temáticos — Vida Pública, Cultura e Cotidiano, Sociedade e Direitos, e Desenvolvimento e Sustentabilidade — e reforçou o compromisso com uma cobertura que prioriza contexto e profundidade sobre velocidade e superficialidade.
A equipe também cresceu. Em junho, a jornalista Rayane Castro passou a integrar a redação, ampliando o volume de produção e elaborando reportagens de maior aprofundamento. Em agosto, chegou a advogada e estudante de Jornalismo Camila Rodrigues, para atuar como aprendiz, mas já entregando reportagens de fôlego e contribuindo de forma decisiva para o fortalecimento do veículo. O reforço amplia a capacidade de apuração e abre caminho para coberturas mais diversificadas em 2026.
Vida Pública foi o eixo que mais demandou atenção
A cobertura de Vida Pública respondeu por mais de 80% das publicações, com destaque para casos de corrupção e fraudes que atravessaram o ano.
A Operação Tântalo, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Maranhão, foi um dos temas acompanhados. O Atual7 cobriu a operação que mira o prefeito de Turilândia, Paulo Curió (União Brasil), suspeito de comandar esquema que causou dano de R$ 56 milhões ao erário. Em dezembro, a segunda fase resultou em 21 mandados de prisão — incluindo o prefeito, a vice, a primeira-dama e todos os vereadores do município. Paulo Curió e a esposa, Eva Curió, se entregaram à polícia na véspera de Natal, após a defesa tentar obter liberdade em plantão judiciário.
Em Coelho Neto, o Atual7 revelou que a Polícia Federal investiga contrato de quase R$ 2,6 milhões da gestão Bruno Silva (PP) para reforma de escolas com recursos do Fundeb. A empreiteira contratada, Guedes Construções, e seu proprietário já haviam sido alvo da Operação Creta, da própria PF, por fraudes a licitações e desvio de recursos.
O prefeito de Santa Inês Felipe dos Pneus (PP) foi alvo de cobertura contínua. Denunciado no final de 2024 por organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude em licitação, ele se tornou réu em agosto deste ano após a Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça aceitar a denúncia que apura esquema de R$ 74 milhões. O Gaeco pediu a perda do mandato do gestor municipal.
Eduardo José Barros Costa, o Eduardo DP, empreiteiro preso pela Polícia Federal em 2022 na Operação Odacro, reapareceu nas manchetes. O Atual7 revelou que ele reativou uma antiga empresa de construção, lançou a esposa Larissa DP como pré-candidata a deputada federal pelo MDB e viu um contrato da EDP Infraestrutura e Pavimentação saltar de R$ 14,2 milhões para R$ 19,2 milhões em Santo Antônio dos Lopes. Outra publicação, de fevereiro, mostrou que a prescrição o livrou de condenação pelos crimes de uso de múltiplos CPFs e registros de identidade.
A morosidade e outros erros da Justiça maranhense também foram temas de investigações. A ação de improbidade contra o ex-secretário de Educação de São Luís Geraldo Castro Sobrinho, que apura obra de R$ 1 milhão em terreno particular, completa sete anos sem julgamento e pode prescrever. Foi mostrado ainda que a investigação do Gaeco contra o presidente da Câmara de São Luís, Paulo Victor (PSB), foi prejudicada por falhas processuais. O inquérito que apontava o parlamentar como suspeito de liderar organização criminosa especializada em desvio de emendas parlamentares foi trancado pelo TJ-MA em julho de 2024. O Ministério Público tentou contestar, mas perdeu o prazo, segundo o desembargador Ricardo Duailibe. No STJ (Superior Tribunal de Justiça), o ministro Saldanha Palheiro também não analisou o mérito por questão processual.
O ano registrou ainda outras movimentações judiciais e políticas relevantes. O deputado estadual Cláudio Cunha (PL) se tornou réu sob acusação de corrupção. O TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) mandou trancar ação penal em que Bernardo Pereira, filho do deputado Antônio Pereira (PSB), era acusado de desvios na Saúde. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) registrou a suspensão dos direitos políticos do deputado estadual Hemetério Weba (PP), e a Mesa da Alema formalizou a perda do mandato. Já o novo presidente do consórcio de municípios afetados pela Ferrovia de Carajás, José Francinete Bento Luna, o Didi (PP), assumiu o cargo sendo réu por desvio de verba. O Atual7 noticiou também que o suplente de deputado estadual Dalton Arruda (PSD), condenado por agredir a ex-esposa, ganhou um período de assento na Assembleia Legislativa, além de homenagem da Polícia Militar maranhense, mesma corporação que o prendeu.
Nepotismo e familismo
O nepotismo em prefeituras maranhenses foi tema recorrente. O Atual7 documentou casos em pelo menos cinco municípios.
Em Imperatriz, o prefeito Rildo Amaral (PP) nomeou o próprio irmão, Flamarion Amaral, para comandar a Secretaria de Saúde — pasta com orçamento inicial de R$ 387 milhões para 2025. Em Buritirana, o prefeito acomodou esposa, cunhados, primos, irmã e tia em secretarias. Em Buriticupu, o Atual7 identificou irmãos, esposas, filhas, cunhadas, noras e até o padrasto de prefeito, secretários e vereadores em cargos da prefeitura.
Em Timon, o prefeito Rafael Brito (PSB) afrouxou regras para escolha de procurador-geral antes de colocar no cargo a advogada Amanda Waquim, filha da vice-prefeita da cidade, Socorro Waquim (PP). O Ministério Público apontou nepotismo e recomendou a exoneração. E em Arame, a Câmara Municipal virou palco de homenagem ao próprio prefeito da cidade, Pedro Fernandes (União Brasil), e seus filhos, o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União) e o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Paulo Casé Fernandes.
Gestão Braide sob escrutínio
A gestão do prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), foi tema de uma em cada seis matérias publicadas.
A crise do teto salarial, que resultou em denúncia por crime de responsabilidade na Câmara Municipal, teve origem em veto do prefeito a projeto que beneficiaria servidores — episódio coberto pelo Atual7 desde janeiro. Já a reportagem sobre o Circo da Cidade expôs que Braide afirmou em campanha que a licitação “já estava autorizada”, mas o processo para elaborar os projetos técnicos só foi aberto sete meses depois, com prazos já vencidos e irregularidades apontadas pela própria área jurídica da prefeitura.
Outras coberturas incluíram a acusação do Ministério Público de que Braide anunciou como reformada uma escola no Coroadinho que apresentava risco de desabamento, a demora no cumprimento de promessas durante a greve de ônibus, a liberação judicial de mais de R$ 1,3 bilhão em gastos extras no orçamento municipal e o veto a projeto que ampliaria direitos de alunos com transtornos de aprendizagem e desenvolvimento. Agora em dezembro, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nunes Marques identificou falha e suspendeu compensação de subsídios na lei de transporte por aplicativo sancionada pelo prefeito.
Transparência em xeque
A falta de transparência na gestão pública também foi documentada. Em Pinheiro, a gestão André da Ralpnet (Podemos) tirou o site da prefeitura do ar, limitando o acesso a serviços e informações essenciais. A gestão Fred Campos (PSB), em Paço do Lumiar, não informou os gastos com o novo centro administrativo. E o ministro Flávio Dino, do STF, voltou a suspender processo de indicação ao cargo de conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Maranhão, sob a justificativa de falta de transparência da Assembleia Legislativa. Até o momento, as nomeações seguem travadas.
Disputa na Assembleia Legislativa e eleições 2026
A disputa entre Iracema Vale (PSB) e Othelino Neto (Solidariedade) pela presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão rendeu sete publicações e teve desfecho no STF (Supremo Tribunal Federal).
O Atual7 acompanhou cada etapa, como os votos de Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes, a manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra a ação do Solidariedade, a desinformação disseminada pela própria Procuradoria da Alema ao distorcer o voto inicial de Moraes, e a vitória unânime que consolidou Iracema como figura central na sucessão estadual de 2026.
A cobertura da Alema também incluiu o aumento do salário dos deputados para R$ 34,7 mil e os bastidores da relação entre o governador Carlos Brandão (sem partido) e o vice Felipe Camarão (PT), incluindo a decisão de Brandão, de que só deixaria o governo se Camarão também renunciasse, e de permanecer no Palácio dos Leões até o final do mandato no próximo ano, para apoiar o sobrinho, o secretário estadual de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), como seu sucessor para o posto.
Histórias que precisavam ser contadas
O eixo Sociedade e Direitos trouxe à tona realidades frequentemente ignoradas pela imprensa tradicional.
A cobertura sobre educação escolar indígena mostrou que comunidades no Maranhão ainda aguardam escolas prometidas há 13 anos, com crianças estudando em estruturas de palha, piso de terra e sem professores. A reportagem sobre a Central de Custódia de São Luís mostrou familiares de presos expostos a sol e chuva na calçada, em descumprimento de normas estaduais. Na rede municipal de educação de São Luís, outra matéria documentou a falta de vagas que deixou crianças e adolescentes sem escola.
A investigação sobre divergência de preços em supermercados, conduzida pela jornalista Rayane Castro, documentou o descumprimento sistemático da legislação de defesa do consumidor e foi seguida, em dezembro, pela cobertura do novo acordo firmado entre Procon-MA e a Associação Maranhense de Supermercados.
O aniversário de 413 anos de São Luís foi marcado por uma reportagem de Rayane e Yuri que mostrou o saneamento básico ainda como privilégio na capital. Os 19 anos da Lei Maria da Penha foram lembrados por Camila Rodrigues com uma publicação sobre como o caso que deu origem à legislação transformou a proteção às mulheres vítimas de violência no Brasil.
O Atual7 também alertou para golpe no WhatsApp em que criminosos se passavam pela ativista de direitos dos autistas, Poliana Gatinho, para enganar famílias de pessoas com deficiência, oferecendo falsa ajuda com benefícios do governo.
Censura judicial
O Atual7 também documentou casos de censura judicial no estado. Em junho, revelou que o desembargador do TJ-MA Joaquim Figueiredo, atuando no plantão judiciário do Segundo Grau, e a juíza Ariane Mendes Castro Pinheiro, da 13ª Vara Cível de São Luís, determinaram a remoção de publicação do blog Maranhão Metrópoles sobre falas misóginas e sexistas atribuídas ao vice-governador Felipe Camarão contra a deputada Mical Damasceno (PSD) — mesmo após perícia da Polícia Civil apontar autenticidade das mensagens. Em agosto, nova matéria esclareceu que Camarão não foi inocentado no caso, contrariando narrativa que circulava. Em dezembro, o Atual7 voltou ao tema ao noticiar nova decisão de censura envolvendo publicações que implicam PMs e o próprio Camarão em investigações no TJ-MA sobre corrupção passiva.
O que vem em 2026
O ano termina com investigações em andamento. A apuração sobre o carro abandonado em São Luís com R$ 1 milhão no porta-malas pode gerar novas operações. As investigações contra Paulo Curió e Felipe dos Pneus seguem no Tribunal de Justiça. A ação popular pelo Circo da Cidade aguarda decisão judicial.
Para 2026, o Atual7 prepara a ampliação da cobertura de conflitos socioambientais e direitos de comunidades tradicionais no eixo Desenvolvimento e Sustentabilidade, além de reportagens sobre identidade, pertencimento e o dia-a-dia dos maranhenses em Cultura e Cotidiano, áreas que tiveram menor presença em 2025. O veículo também vai fortalecer o jornalismo de dados aplicado ao controle social de licitações e políticas públicas, com o lançamento de ferramentas interativas para facilitar o acesso do cidadão a informações de interesse público. E vai acompanhar de perto a corrida eleitoral que definirá os rumos do Maranhão.
O compromisso segue o mesmo, de fiscalizar o poder e dar visibilidade ao que outros preferem não mostrar.
