O trabalho, uma reverência ao Tambor de Crioula, traduz figuras rítmicas e toadas consagradas em uma nova sonoridade, conduzida por timbres da world music.
Um balaio de sons onde o toque ancestral do tambor se encontra com a linguagem universal do beat. Assim se apresenta “Isso É Criolabeat”, primeiro álbum do coletivo homônimo, que chega como uma polissêmica contribuição ao cenário da cultura popular maranhense. O trabalho, uma reverência ao Tambor de Crioula, traduz figuras rítmicas e toadas consagradas em uma nova sonoridade, conduzida por timbres da world music.
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Fruto da vivência do produtor Adnon Soares com mestres da cultura maranhense, o álbum é interpretado por artistas cujas trajetórias entrelaçam a matriz afro-pindorâmica, a religiosidade, o hip-hop e a cultura soundsystem. Cada faixa se espraia a partir de toadas populares, carregando a poeira dos motes e das rimas do cotidiano das rodas, ambientes tradicionais de expressão e resistência.
Nesse terreiro musical onde, como destacam os criadores, “o céu não é o limite”, os arranjos são conduzidos por uma rítmica descrita como onírica, que evoca o embalo de uma infância ancestral dos povos de Upaon-Açu, nome indígena para a Ilha do Maranhão. A obra conta com a participação de nomes fundamentais da cultura local, como Célia Sampaio, Mestre Amaral, Mestre Peixinho e Mestre Militão, que grava uma faixa especial de Tambor de Mestre Felipe.
A abertura do disco é um tributo ao sagrado, com a toada “Flor de Laranjeira” para São Benedito, interpretada por Mestre Amaral. A faixa-título, “Isso É Criolabeat”, anuncia em suas rimas a expansão da cultura de Upaon-Açu. Clássicos do coletivo, como “Plantei Maria”, ganham novos adubos sonoros, enquanto “Puêrô” e “A Toada É Boa” convidam os corpos ao movimento das saias e das pungadas.
Um dos pontos altos do repertório ocorre nas faixas “Aê Preta” e “Preta No Sotaque do Tambor”, onde Célia Sampaio, Dicy e Pantera Black assumem o centro do terreiro para expressar a resistência cultural da mulher preta. O álbum mantém o fogo ancestral aceso até o final, com a participação da banda Casa Loca e se despede com um medley das toadas “Virou Na Ladeira” e “Dessa Vez Eu Vou Me Embora”.
Mais do que uma fusão, “Isso É Criolabeat” se propõe a ser um marco, projetando a riqueza cultural maranhense para um horizonte global. A obra se firma como um convite à escuta atenta de uma cultura que resiste e celebra, mantendo viva a chama do Tambor de Crioula através da inovação sonora. O projeto foi realizado com apoio do Edital Rumos Itaú Cultural 2023-2024 e produzido pela Upaon Mundo Produções.
