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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (7) que pediu ao Departamento de Justiça (DOJ) para investigar as empresas frigoríficas que, segundo ele, estão elevando o preço da carne bovina.
“Pedi ao DOJ que inicie imediatamente uma investigação sobre as empresas frigoríficas que estão elevando o preço da carne bovina por meio de conluio ilícito, fixação de preços e manipulação de preços”, disse Trump em publicação no Truth Social, sem mencionar os nomes das empresas.
Entenda o que está acontecendo
A nova ofensiva de Donald Trump contra os frigoríficos dos Estados Unidos marca o retorno de uma pauta recorrente no agronegócio americano: a concentração do mercado de processamento de carne bovina e seus impactos sobre preços, produtores e consumidores.
1. O ponto de partida
Desde o início de 2025, os preços da carne bovina nos EUA registram alta contínua. Dados do Departamento de Agricultura (USDA) indicam que o rebanho nacional caiu para 86,7 milhões de bovinos, o menor nível desde 1951. A redução está ligada à seca no cinturão pecuário e à escalada dos custos de alimentação. O resultado foi o aumento do preço do boi gordo e, em cadeia, do valor final da carne ao consumidor.
2. A pressão sobre os frigoríficos
Trump tem repetido, desde outubro, que os grandes grupos frigoríficos — entre eles nomes como Tyson Foods, Cargill, JBS USA e National Beef — estariam se aproveitando da escassez de oferta para ampliar margens. Ele acusa o setor de manipulação de preços e conluio, prática proibida pelas leis antitruste americanas. Essa é a base do pedido de investigação feito agora ao Departamento de Justiça.
3. O histórico de conflitos
A relação entre a Casa Branca e o setor frigorífico é marcada por episódios semelhantes. Em 2020, ainda durante seu primeiro mandato, Trump já havia determinado uma apuração sobre “disparidades entre o preço pago ao produtor e o preço cobrado no varejo”. A investigação terminou sem punições, mas expôs a forte concentração de mercado: quatro companhias controlam mais de 80% do abate de gado nos Estados Unidos.
4. As medidas adotadas antes da nova denúncia
Em outubro deste ano, o governo americano já havia adotado duas ações para conter os preços:
- Aumento da cota de importação de carne argentina para 80 mil toneladas, medida destinada a ampliar a oferta interna.
- Incentivo à reativação de plantas frigoríficas regionais e subsídios para pequenas operações de abate, tentando reduzir a dependência das grandes corporações.
Essas ações, no entanto, não produziram efeitos imediatos. A carne bovina segue entre os produtos que mais pressionam a inflação de alimentos nos EUA.
5. O pano de fundo político
A decisão de pedir uma nova investigação ocorre em meio à corrida presidencial de 2026. Trump tem usado o tema da alta dos alimentos como arma de campanha, associando o aumento de preços à “ganância corporativa” e à falta de fiscalização. A retórica remete à política de “America First” que marcou seu primeiro governo, com foco em proteger produtores rurais e consumidores americanos.
6. O que pode acontecer agora
Se o Departamento de Justiça confirmar a abertura do inquérito, o caso pode atingir as maiores processadoras de carne dos EUA. Multas, restrições a contratos e revisões de fusões anteriores estão entre as possibilidades. Também há expectativa de reações políticas, já que parte das empresas é de capital estrangeiro, o que pode gerar tensão comercial com países exportadores, como Brasil e Canadá.
7. O impacto global
Os Estados Unidos são o segundo maior produtor e exportador de carne bovina do mundo. Qualquer mudança regulatória ou sanção sobre suas indústrias pode alterar fluxos de exportação e preços internacionais. Para o Brasil, maior exportador global, o episódio é acompanhado de perto. Um eventual recuo da oferta americana poderia valorizar a carne brasileira nos mercados premium e abrir espaço para novos contratos.
