Uma pesquisa do Instituto DataIlha revelou que 90,1% dos entrevistados não aprovam a possibilidade de a Câmara Municipal de São Luís abrir um processo de cassação contra o prefeito Eduardo Braide (PSD).
O levantamento, no entanto, induziu os entrevistados ao levar em consideração na pergunta um argumento utilizado pelo próprio gestor, segundo o qual ele estaria sendo processado porque ele teria “recusado o aumento do próprio salário”.
Já mostramos aqui que isso não é verdade (reveja).
Apenas 3,1% disseram aprovar a instauração do processo, enquanto 6,8% não souberam responder.
O levantamento foi divulgado dias após a formalização, na Câmara, de um pedido de impeachment que acusa o prefeito de crime de responsabilidade. Diferentemente do que sugere a pergunta da pesquisa, a denúncia protocolada não trata de Braide “recusar aumento salarial”, mas sim de manter cortes remuneratórios de auditores e controladores municipais, mesmo após a vigência da lei que redefiniu o teto salarial do funcionalismo.
Derrotas judiciais
O pedido de cassação, apresentado por um auditor aposentado e endossado por centenas de servidores, afirma que Braide descumpriu a Lei 7.729/2025 ao manter cortes salariais de categorias específicas — conduta que poderia, segundo a acusação, configurar infração político-administrativa. O documento destaca ainda que a Prefeitura teria aplicado o novo teto de forma seletiva, prejudicando aposentados e pensionistas desde novembro de 2024.
Ao longo do debate, Braide tem acumulado sucessivas derrotas judiciais. Tanto o Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), quanto o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), já rejeitaram recursos da Prefeitura que buscavam impedir a aplicação da lei que elevou o subsídio do prefeito e, consequentemente, o teto salarial dos servidores. Os auditores, por sua vez, reagiram cobrando do prefeito imediata suspensão dos cortes.
Os números da pesquisa DataIlha evidenciam que grande parte da população não concorda com a abertura do processo — mas também expõem um fator determinante: o motivo apresentado na pergunta não corresponde ao motivo real da denúncia. A pesquisa avalia a percepção dos eleitores sobre um cenário em que Braide estaria sendo cassado por “recusar aumento salarial”, narrativa defendida pelo próprio prefeito em vídeos publicados nas redes sociais.
Essa versão, contudo, é frontalmente rebatida pelos autores da denúncia e por entidades da categoria, que afirmam que o foco não é reajuste do prefeito, mas sim o direito dos servidores ao teto remuneratório estabelecido em lei — e descumprido pela Prefeitura.
