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De onde vêm as ideias? E para onde podem nos levar?

by admin

Quanto o funk, que hoje movimenta a economia e faz dançar as favelas e o asfalto, tem do rap ou do soul? Quanto veio das batidas do candomblé e da capoeira? E quanto foi inspirado no freestyle americano ou no funk que se fazia por lá? Foi tudo isso, mas nada disso explica tudo. Pois a realidade e a identidade da juventude periférica brasileira moldaram algo totalmente novo, que não é explicado só pela música inspiradora, mas também pelo que vemos, vivemos, sonhamos e sentimos.

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Criação é isso: uma corrente contínua. As referências se misturam com nossa vivência, afeto, com o que ouvimos na rua, o que aprendemos vendo outros fazerem. Nada se cria sozinho, sem história. Talvez seja justamente por isso que a pergunta “de onde vem uma ideia?” tenha tanta força quando se discute em todo o mundo o papel da inteligência artificial (IA) na arte.

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Foi essa inquietação que me levou recentemente a lançar um manifesto visual totalmente feito com IA, das imagens à trilha sonora. O vídeo parte dessa pergunta básica, e ao mesmo tempo tão profunda, sobre o que é criar. Para mim, a resposta é: a ideia vem de todo mundo. Vem da troca, do coletivo. Boas ideias nascem em mutirão.

Muita gente olha para a inteligência artificial como ameaça à sensibilidade humana. Enxerga competição, risco, substituição. Eu vejo a IA como parte dessa corrente criativa que atravessa gerações. Ela reorganiza, combina, amplifica. O prompt perfeito vem sempre de dentro da gente.

O debate sobre IA cresce no mundo inteiro; e precisa crescer mesmo. É uma tecnologia disruptiva, como todas foram em algum momento. Uma questão ética central não é se a ferramenta é boa ou ruim, porque toda tecnologia carrega a intenção de quem a usa. Existe uma questão que, para mim, é ainda mais urgente. Quem terá acesso às ferramentas que definem o futuro da criatividade? Quando a gente limita a inovação, fecha portas justamente a quem sempre criou muito com pouco: a juventude das periferias, que transforma falta de recurso em imaginação todos os dias.

A IA pode democratizar caminhos. Pode dar escala a talentos que, historicamente, ficaram fora dos grandes espaços da indústria criativa e permitir que mais gente experimente, teste, erre e invente. Para isso acontecer, é preciso olhar para essa tecnologia com responsabilidade, mas sem medo do novo e sem fechar as portas para o futuro.

Com esse propósito, nasceu o Mutirão.AI, um projeto que levará formação em inteligência artificial a comunidades de várias cidades do Brasil. A primeira edição, o Crias.BR, aconteceu no Museu das Favelas, mostrando como a IA pode fortalecer a criação musical, visual e empreendedora. E impulsionar a cadeia da economia criativa democratizando o acesso à tecnologia, ampliando oportunidades de aprendizado e inovação nas periferias.

No fim das contas, talvez a pergunta certa não seja “de onde vêm as ideias?”, e sim “para onde elas podem nos levar quando a gente junta talento, sentimento e novas ferramentas?”.

Misturei aqui música, desigualdade, cultura de rua e futuro, como sempre fiz na minha caminhada. E, assim como no manifesto, também usei inteligência artificial para escrever este artigo. A ideia é minha, o sentimento é meu, a vivência é minha. A IA só ajudou a dar forma. Do mesmo jeito que um arranjo reforça uma melodia, ela me ajudou a organizar o que já existia dentro de mim. Porque, no fim, é sempre o ser humano que dá o tom. A tecnologia só acompanha a batida. É apenas mais uma ferramenta. Quem pilota, quem está no controle, somos nós.

*Konrad Dantas, o KondZilla, produtor e empresário brasileiro, tem o maior canal de música da América Latina, com mais de 67,8 milhões de inscritos no YouTube

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