Deputados democratas do Comitê de Supervisão da Câmara dos EUA tornaram públicas, nesta quarta-feira (3), fotos e gravações que revelam novos detalhes de uma das ilhas privadas de Jeffrey Epstein – o bilionário condenado por crimes sexuais que morreu na prisão em 2019.
O material, produzido por autoridades das Ilhas Virgens Americanas, território caribenho sob jurisdição dos EUA, exibe dormitórios, banheiros, salas de massagem e até um telefone de mesa com nomes escritos nos botões de discagem rápida. Também aparece um quadro-negro com palavras como “power” e “deception”.
Um dos vídeos divulgados mostra imagens tremidas feitas por uma câmera portátil na Ilha Epstein. O registro começa com uma paisagem costeira antes de quem filma caminhar por arbustos até a piscina, adornada com estátuas de bronze.
Outro clipe faz um breve passeio por um quarto da propriedade. Em 16 segundos, a gravação inicia em um pequeno banheiro e segue para um cômodo organizado, semelhante a um quarto de hotel, com tapete colorido, cômoda branca, cama, escrivaninha e cadeiras.
Uma foto adicional mostra uma placa advertindo que a entrada na área é proibida.
Em comunicado, o líder democrata do comitê, Robert Garcia, afirmou que o conjunto das imagens forma um “retrato perturbador” sobre o universo de Epstein e que sua divulgação busca “garantir transparência pública”.
O comitê havia solicitado, em 18 de novembro, informações ao procurador-geral das Ilhas Virgens Americanas sobre investigações envolvendo Epstein e sua parceira, Ghislaine Maxwell, atualmente presa nos EUA. Garcia informou ainda que documentos fornecidos pelos bancos J.P. Morgan e Deutsche Bank serão disponibilizados “após análise nos próximos dias”.
“Não vamos parar de lutar até garantir justiça para as sobreviventes”, disse o deputado.
“É hora de o presidente Trump divulgar todos os arquivos, agora.”
Em 20 de novembro, o então presidente Donald Trump assinou uma lei que ordena a divulgação de arquivos governamentais sobre Epstein – ponto decisivo de uma disputa que se arrastava havia meses. A divulgação desta quarta, porém, não está vinculada a essa legislação.
Trump classificou reiteradas vezes os pedidos de liberação de documentos como uma “farsa” movida por democratas para desviar a atenção de suas realizações políticas.
Segundo o correspondente da BBC na América do Norte, Anthony Zurcher, o novo material não parece conter elementos politicamente explosivos.
“Os poucos detalhes existentes — escrita rabiscada em um quadro-negro e alguns nomes na discagem rápida de um telefone — são enigmáticos ou estão ocultos”, afirma.
“Os democratas no Congresso, que tornaram os arquivos públicos, podem estar esperando que essa nova divulgação mantenha o caso Epstein nas notícias e pressione o governo Trump a cumprir a lei federal e divulgar o que quer que constitua os ‘arquivos Epstein’ que possui.”
O conteúdo revelado agora é menos impactante que os milhares de e-mails de Epstein divulgados no mês anterior, alguns dos quais citavam o nome de Trump. Também veio à tona uma suposta carta enviada por Trump a Epstein, com o desenho de um corpo feminino.
Quem foi Jeffrey Epstein
Antes de se tornar o centro de um dos casos de tráfico sexual mais conhecidos do mundo, Epstein foi professor de matemática e um influente gestor financeiro em Nova York. Nos anos 1980, circulava entre ricos e famosos, com jatos privados e festas luxuosas, administrando centenas de milhões de dólares.
Figuras como o então presidente Donald Trump, o ex-presidente Bill Clinton e Andrew Mountbatten-Windsor, antes príncipe Andrew, estavam entre seus conhecidos. “Conheço o Jeff há 15 anos. Cara excelente”, disse Trump à revista New York em 2002.
Em 2005, após pais denunciarem que sua filha de 14 anos fora molestada na casa dele em Palm Beach, Epstein evitou acusações federais e cumpriu 18 meses de prisão. Desde 2008, estava registrado como criminoso sexual nível três em Nova York — classificação vitalícia de alto risco de reincidência.
Em julho de 2019, foi preso por tráfico sexual, acusado de chefiar “uma vasta rede” de exploração de menores. Teve fiança negada e morreu meses depois em sua cela no Metropolitan Correctional Center, em Nova York.
A ilha particular
Epstein possuía duas ilhas: Little St. James e Great St. James. A primeira, localizada ao sudoeste de St. Thomas, foi sua propriedade por mais de 25 anos, onde ele ergueu uma grande estrutura nos 365 mil metros quadrados do terreno.
Foi nessa área que as fotos agora divulgadas foram registradas.
A procuradora-geral das Ilhas Virgens Americanas, Denise George, disse à CBS News que Epstein usava a ilha como refúgio para esconder suas atividades criminosas. Na acusação movida após a morte dele, George afirmou que funcionários do aeroporto e controladores de tráfego aéreo relataram ter visto Epstein na ilha acompanhado de meninas com aparência pré-adolescente.
“Lembre-se, ele é dono de uma ilha inteira”, afirmou. “Então não era uma situação em que uma criança ou jovem pudesse simplesmente escapar e correr até a delegacia de polícia mais próxima.”
Uma suposta vítima contou anonimamente à CBS que Epstein a estuprou e a manteve presa na propriedade.
“Ele também me trancou no quarto dele na ilha, onde tinha uma arma presa ao estrado da cama. Eu não podia sair”, relatou. “A única forma de sair da ilha era de helicóptero ou barco.”
Little St. James foi colocada à venda em 2022, e representantes do espólio confirmaram à BBC que parte dos recursos obtidos será utilizada para liquidar processos pendentes.
Veja:
The U.S. Congress has released new footage from Epstein Island
Jeffrey Epstein and his wealthy guests exploited minors for years on his private island, Little St. James.
The materials show a disturbing room resembling a dental office, filled with strange equipment and masks on… pic.twitter.com/YkM1nH8SIV
— NEXTA (@nexta_tv) December 4, 2025
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