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Deputados do PT contestam versão de contador da “Máfia do INSS”

by admin

Waldemir Barreto/Agência Senado

Documentos do depoente na CPMI do INSS, o contador Mauro Palombo Concílio

Os deputados petistas Paulo Pimenta (RS), Rogério Correia (MG) e Alencar Santana (SP) afirmaram, durante reunião da CPMI do INSS realizada nesta quinta-feira (27), que não acreditam na inocência do contador Mauro Palombo Concílio. Palombo, que vive atualmente nos Estados Unidos, é contador de diversas entidades fantasmas, empresas e pessoas físicas investigadas pela Polícia Federal por fraudes em descontos irregulares aplicados em aposentadorias pagas pelo INSS.

Segundo as investigações, o contador é suspeito de auxiliar na lavagem de dinheiro por meio de várias empresas das quais é dono ou sócio — muitas delas sem lastro econômico real — ou em outras criadas para atender envolvidos no esquema fraudulento.

Em depoimento, Palombo alegou que apenas prestava serviços contábeis às empresas e pessoas físicas investigadas e que desconhecia qualquer irregularidade praticada por seus clientes. Disse ainda que, com base nas informações contábeis fornecidas, não era possível identificar práticas ilegais relacionadas aos descontos irregulares no INSS.

Relatórios financeiros e documentos obtidos por investigadores, porém, indicam que Palombo desempenhou papel central na engrenagem que sustentou o esquema de descontos associativos fraudulentos em aposentadorias e pensões. Dono do grupo contábil Nelma & Palombo, com operações no Brasil e nos Estados Unidos, ele aparece ligado a diferentes núcleos — operacional, empresarial, político e financeiro — envolvidos na fraude.

Serviços prestados aos núcleos do esquema
Mauro Palombo Concílio é o contador de quatro entidades que concentraram grandes arrecadações irregulares: Amar Brasil (R$ 325 milhões), Master Prev (R$ 232 milhões), ANDDAP (R$ 94,6 milhões) e AASAP (R$ 63 milhões).

Ele também prestava serviços aos chamados “Golden Boys” — Felipe Macedo, Anderson Vasconcelos e Américo Monte Jr. — dirigentes de entidades fantasmas responsáveis por descontos indevidos de aposentadorias e por empresas acusadas de lavar recursos do esquema.

Além disso, o contador aparece vinculado a empresas de familiares de dirigentes do INSS suspeitos de facilitar a concessão de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs), que autorizavam os descontos associativos em folha. Entre elas:

  • Metropole Empreendimentos (Caroline Fidelis, filha do ex-diretor do INSS André Fidelis);

  • Duatx Tecnologia (ligada a Eric Fidelis, também filho de André Fidelis);

  • Sphere Participações (Thaisa Hoffmann, esposa do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Guimarães).

Ele também era responsável pela contabilidade da Kairos Representações, ligada ao grupo de João Camargo Jr., conhecido como “alfaiate dos famosos”, investigado por lavar dinheiro da chamada “Máfia do INSS”.

Petistas afirmam não acreditar em coincidências
O deputado Paulo Pimenta, autor do requerimento de convocação de Palombo, afirmou que é improvável que o contador desconhecesse o esquema diante da quantidade de entidades, empresas e pessoas para as quais prestava serviços.

“Essa história apresentada por Mauro Palombo é confusa. Por que alguém contrataria um contador que mora nos Estados Unidos, com milhões de contadores no Brasil? E, curiosamente, o núcleo dos ‘Golden Boys’, todos eles, escolhem o mesmo contador. O Eric Fidelis quer montar uma empresa e procura quem? O senhor. O Virgílio precisa montar uma empresa em nome da esposa para receber propina dos ‘Golden Boys’ e procura quem? Mauro Palombo Concílio. Está difícil acreditar na sua inocência”, disse.

Pimenta também destacou ser “inacreditável” que o contador não tenha desconfiado do aumento repentino da movimentação financeira das entidades.

“Como é que um contador não desconfia de algo errado quando uma empresa ou entidade passa a receber R$ 100 milhões, R$ 200 milhões? Isso não para em pé. Contador de esquema criminoso serve exatamente para montar a engrenagem da lavagem de dinheiro”, afirmou.

O deputado Rogério Correia lembrou que Palombo também é investigado em um inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura um esquema semelhante ao do INSS. Segundo a denúncia, ele foi contador do Sindeepres, sindicato acusado de manter convênios fraudulentos com entidades que prometiam benefícios a trabalhadores, mas não entregavam os serviços.

Correia comparou o caso paulista ao esquema da Amar Brasil, dos “Golden Boys”, que cobrava de R$ 30 a R$ 40 de aposentados sem prestar qualquer serviço.

RIF aponta indícios de lavagem de dinheiro
Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) identificaram movimentações incompatíveis com a renda declarada pelo contador, apontadas como indícios clássicos de lavagem de dinheiro.

Palombo declarou possuir R$ 29,2 milhões em bens — quase tudo classificado como “créditos a receber” da empresa MLAM, da qual afirma já ter se desligado, mas que permanece vinculada à sua família.

Também foram identificados depósitos fracionados de R$ 50 mil a R$ 1,1 milhão, realizados por funcionários da Contábil Nelma & Palombo com salários entre R$ 1,5 mil e R$ 15 mil. Entre eles está Osvaldo Cardoso Júnior, reconhecido pelo próprio contador como motoboy de sua empresa.

Governo Bolsonaro abriu caminho para o esquema
O deputado Alencar Santana afirmou que o trabalho do contador só foi possível devido a uma decisão do governo Bolsonaro que autorizou ACTs permitindo descontos associativos na folha do INSS por parte de entidades fantasmas.

“Algumas pessoas foram cérebros desse esquema, inclusive José Carlos Oliveira, ex-presidente do INSS e ex-ministro da Previdência do governo Bolsonaro, que deveria estar preso, mas foi blindado. O seu trabalho profissional conectou muitos envolvidos, inclusive os ‘Golden Boys’”, disse.

Ao rebater narrativas da oposição que tentam atribuir o escândalo ao governo Lula, Pimenta lembrou que foi um decreto do governo Bolsonaro que deu origem à fraude.

“É impressionante a capacidade de mentira da oposição. Não estaríamos aqui ouvindo o contador dos ‘Golden Boys’ se Bolsonaro, Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni não tivessem assinado o decreto que permitiu que entidades fantasmas recebessem ACTs para realizar descontos fraudulentos”, afirmou.

Héber Carvalho


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