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Disputa partidária revela divergências sobre “melhor projeto para o país” – Cubo

by admin

O próprio ministro, em sua defesa, aponta para o que realmente está em jogo: “o melhor projeto para o país”.

O episódio da expulsão do ministro Celso Sabino do União Brasil não é, em sua essência, uma novela pessoal ou um mero conflito de egos. Ele funciona como um raio-X perfeito, e bastante revelador, das entranhas da política brasileira contemporânea. Um exame que expõe menos uma crise de princípios e mais a crônica de um cálculo: o custo-benefício da participação no projeto de reconstrução nacional.

A narrativa oficial do partido fala em “infidelidade partidária”. Uma acusação curiosa, vinda de uma agremiação que nasceu de fusões e sobrevive de migrações, onde a fidelidade ideológica há muito foi substituída pelo tráfego de cargos e influência. A verdadeira “infidelidade” de Sabino, aos olhos da cúpula do União, não foi a uma suposta doutrina, mas a uma ordem tática de abandonar o governo. Ele desobedeceu ao comando de se tornar oposição e preferiu permanecer no Ministério do Turismo, apostando suas fichas na aliança com o presidente Lula.

O próprio ministro, em sua defesa, aponta para o que realmente está em jogo: “o melhor projeto para o país”. É uma frase que merece destaque. Em um cenário onde a extrema-direita golpista ainda respira e articula, a opção de Sabino (e de tantos outros que compõem o chamado “centrão”) pelo governo Lula não é um ato de amor à social-democracia. É um reconhecimento pragmático. Reconhecem que, no atual tabuleiro, alinhar-se ao projeto de reconstrução das políticas sociais, de retomada do investimento público e de defesa da democracia é, sim, o caminho mais estável e vantajoso. Para o país, talvez. Para suas carreiras, certamente.

Aqui reside o cerne da análise: a base governista que sustenta Lula é ampla, mas é costurada com fios de interesses frequentemente contraditórios. De um lado, um núcleo de partidos comprometidos com um programa de esquerda, de retomada do Estado indutor e protetor. De outro, legendas como o União Brasil, que veem na governabilidade uma commodity a ser negociada. A expulsão de Sabino é o sinal de que a direção nacional do partido avalia que, no médio prazo, a rentabilidade eleitoral estará mais na oposição furiosa do que na participação responsável.

O cálculo de Sabino, por sua vez, é transparente. A âncora da COP30 em Belém e o apoio de Lula são ativos valiosíssimos para sua pretensão ao Senado em 2026. Ele trocou a lealdade partidária pelo capital político que o governo pode lhe oferecer. É a velha política de balcão, agora travestida de “defesa de um projeto para o país”.

O que este episódio deixa claro para a sociedade é um alerta. A reconstrução do Brasil após os anos de desmonte não será feita apenas com boas intenções. Ela será permanentemente tensionada por esse jogo de poder, onde partidos sem rumo ideológico claro podem, a qualquer momento, puxar o tapete da governabilidade em busca de uma migalha a mais no orçamento ou de um ataque que agrade a bolsa de valores ou setores reacionários.

A expulsão de um ministro por trabalhar é o ápice da contradição. Ela não fragiliza Sabino, que provavelmente aterrissará em outro partido da base com seu cargo intacto. Fragiliza, isso sim, a já combalida noção de que os partidos existem para representar projetos de sociedade. Para a esquerda que sustenta Lula, a lição é amarga: é preciso fortalecer a mobilização popular e os resultados concretos na vida do povo. Só assim o “melhor projeto para o país” deixará de ser uma expressão de conveniência em uma disputa entre caciques e se tornará uma realidade inegociável, capaz de constranger até os mais pragmáticos operadores do poder. Enquanto a política for este teatro de interesses imediatos, estaremos todos reféns do próximo ato.

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