A polícia dos Estados Unidos afirmou nesta sexta-feira (19) que o português Claudio Neves Valente, de 48 anos, é o principal suspeito tanto do ataque ocorrido na Universidade Brown quanto da morte de Nuno Loureiro, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). As autoridades indicam que ambos teriam passado pela mesma universidade em Lisboa, em Portugal.
Os dois crimes aconteceram com um intervalo de apenas dois dias. No sábado, Valente teria aberto fogo contra estudantes no campus da Universidade Brown, em Providence, deixando duas pessoas mortas e nove feridas. Já na terça-feira seguinte, Nuno Loureiro foi encontrado baleado dentro de sua residência em Boston. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital. As duas cidades estão separadas por cerca de 50 quilômetros.
De acordo com investigadores, há indícios de que suspeito e vítima tenham tido ligação acadêmica em Portugal. Segundo o jornal português Público, Valente mudou-se para os Estados Unidos há mais de duas décadas para estudar física na Brown, mas não concluiu o curso. O atirador foi localizado morto na quinta-feira (18), e até o momento não há informações oficiais sobre a motivação dos ataques.
Nuno Loureiro tinha 47 anos e nasceu em Viseu, no centro de Portugal. Graduou-se em Física pelo Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, no ano 2000, e concluiu o doutorado no Imperial College London, em 2005.
Desde 2016, atuava como professor de Ciência e Engenharia Nuclear e de Física no MIT. Em maio de 2024, passou a dirigir o Centro de Ciência do Plasma e Fusão, considerado um dos maiores laboratórios da instituição.
Ao anunciar sua nomeação, o MIT ressaltou o reconhecimento internacional de Nuno Loureiro por contribuições relevantes ao estudo do plasma. Sua pesquisa, premiada diversas vezes, era voltada ao desenvolvimento de tecnologias de fusão nuclear com potencial para gerar energia limpa, praticamente inesgotável, sem emissão de carbono ou produção de resíduos radioativos.
“A energia de fusão mudará o curso da história humana. É ao mesmo tempo, humilde e empolgante liderar um centro de pesquisa que terá um papel fundamental para tornar esse futuro possível”, disse Nuno em entrevista para a universidade.
Ao longo da carreira, recebeu distinções como o Thomas H. Stix Award for Outstanding Early Career Contributions to Plasma Physics Research, da Sociedade Americana de Física, o ANS Faculty PAI Outstanding Professor e o NSF CAREER Award, todos em 2017.
Em um obituário publicado no site do jornal Público, o cientista Luís Oliveira e Silva destacou não apenas a excelência acadêmica de Nuno, mas também seu impacto humano e institucional.
“É difícil aceitar que a sua inteligência e generosidade se tenham apagado tão cedo e tão abruptamente. É uma perda irreparável para Portugal e para o IST, que ele nunca deixou de acompanhar e apoiar, e também para a física, onde nos deixa um legado único nos trabalhos que publicou, nos estudantes que formou, nas equipas que liderou e nas instituições que ajudou a transformar”, afirmou.
Segundo a agência Reuters, Nuno Loureiro foi baleado em sua casa, no bairro de Brookline, Massachusetts, na noite de segunda-feira. Ele foi levado de ambulância para um hospital em Boston, onde morreu na manhã seguinte. O professor deixa a esposa e três filhas.
O ataque na Universidade Brown
O assassinato do professor ocorreu dois dias após o ataque a tiros na Universidade Brown, em Rhode Island, que resultou na morte de dois estudantes e deixou outros nove feridos. O crime aconteceu durante o período de exames finais do semestre.
Uma das vítimas foi Ella Cook, estudante de 19 anos do segundo ano e vice-presidente do grupo Republicanos da Universidade Brown. Ao comunicar sua morte, o reverendo R. Craig Smalleym, da igreja que ela frequentava no Alabama, descreveu-a como “uma pessoa incrivelmente centrada, fiel e iluminada”, que incentivava e “inspirava aqueles ao seu redor”.
A outra vítima fatal foi Mukhammad Aziz Umurzokov, calouro de 18 anos natural da Virgínia, que cursava bioquímica e neurociência. Sua família havia emigrado do Uzbequistão para os Estados Unidos quando ele ainda era criança.
A Universidade Brown integra a Ivy League, grupo que reúne algumas das instituições mais prestigiadas do país, como Harvard, Yale, Columbia, Princeton, Cornell, Dartmouth e a Universidade da Pensilvânia.
