*Publicada originalmente às 13h44
Por Alice Maciel
Documento ao qual o ICL Notícias teve acesso revela que um ex-desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) participou da chamada “festa da cueca”, realizada em um quarto de hotel em Curitiba com a presença de magistrados e garotas de programa. Segundo os registros, o desembargador, “com medo de que as fitas das festas vazassem, contou para a mulher que foi filmado pelado”. O mesmo magistrado participou do julgamento de processos relacionados à Operação Lava Jato.
Segundo denúncias de colaboradores da própria operação — atualmente sob investigação da Polícia Federal (PF) —, o episódio teria sido usado pelo ex-juiz Sergio Moro, hoje senador, como instrumento de chantagem para pressionar colegas e assegurar a manutenção de condenações de investigados. Um vídeo do evento foi apreendido pela PF. É a primeira vez, no entanto, que um documento vem a público confirmando a “festa da cueca”.
De acordo com a descrição do arquivo de áudio de uma conversa do então desembargador do TRF4, ao qual a reportagem teve acesso, o magistrado “contou que estava pelado em uma festa”. Os registros indicam que ele tinha conhecimento de que havia sido filmado e demonstrava temor de que as imagens viessem a público.
A conversa, no entanto, foi gravada de forma ilegal. À época, o desembargador possuía foro por prerrogativa de função e foi interceptado pelo advogado Sérgio Costa, colaborador da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Conforme revelou nesta quarta-feira (17) a jornalista Daniela Lima, no portal UOL, a Polícia Federal encontrou, durante busca e apreensão na vara, provas documentais de que Sergio Moro teria grampeado autoridades com foro privilegiado por meio de colaboradores, entre eles Sérgio Costa.
O ICL Notícias também teve acesso ao documento revelado pelo UOL, de julho de 2005, em que Moro exige que o colaborador Tony Garcia tentasse gravar “novamente” o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), Heinz Herwig, alegando que as gravações anteriores eram “insatisfatórias para os fins pretendidos”. Também tivemos acesso à íntegra do grampo de Herwig.
A busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, foi realizada pela PF em 3 de dezembro, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, após repetidas cobranças por documentos, arquivos e gravações da Operação Lava Jato, que não haviam sido encaminhados à Corte, mesmo após Sergio Moro deixar o cargo de juiz.
A PF investiga suspeitas de que colaboradores teriam sido usados para grampear autoridades a mando de Moro, com a finalidade de submetê-las a chantagens e pressões posteriores. O inquérito corre em segredo de Justiça.
O ICL Notícias entrou em contato com a assessoria do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que enviou uma nota reproduzida a seguir:
“O senador Sergio Moro nega que tenha tido acesso a qualquer vídeo denominado de “festa da cueca” envolvendo outros magistrados ou que tenha autorizado escuta contra desembargadores do TRF4. Igualmente é mentirosa e fantasiosa a afirmação de que desembargadores do TRF4 atuantes na Lava Jato teriam sido chantageados de qualquer forma.
O ICL divulga calúnias infundadas contra o senador e contra a honra de desembargadores que atuaram na Lava Jato e que nunca se permitiriam ser chantageados ou envolvidos em situações vexatórias”.
