O nascimento de Jesus é continuamente lembrado pela humanidade, pois contamos os anos a partir daquele acontecimento. Gratos pelo dom que recebemos, em nome daqueles que o aceitam como “Senhor”, e dos que não o conhecem.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj – Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia
Se procurarmos no Evangelho alguma indicação sobre o dia do nascimento de Jesus, nada encontraremos. No início de seus trabalhos apostólicos, a preocupação principal dos evangelizadores estava centrada na ressurreição do Senhor. Eles procuravam destacar que aquele a quem seguiam estava vivo, porque havia morrido, sim, mas ressuscitara. Isso se nota claramente nos dez discursos de Pedro e de Paulo no livro dos Atos dos Apóstolos – discursos chamados “querigmáticos” (querigma: primeiro anúncio; apresentação das verdades fundamentais do cristianismo). Só num segundo momento os pregadores aprofundaram e pormenorizaram as verdades da fé.
No tempo do Papa Júlio I, que governou a Igreja do ano 337 a 352, é que foi introduzida a solenidade do Natal no calendário litúrgico. Até então, celebrava-se apenas a festa da Epifania – isto é, a manifestação do Senhor aos povos pagãos, representados pelos magos do Oriente. Com a Epifania ficava claro que Jesus era o Salvador não só de um povo, mas de todos os povos.
A escolha da data atual do Natal ocorreu ainda durante o Império Romano, que obrigava todos os povos a celebrarem a festa do “sol invicto”, o renascimento do sol invencível. Era invencível, uma vez que caía (morria) de noite e se levantava (renascia) a cada manhã. Esse renascimento diário era celebrado no dia 25 de dezembro. O sol era também símbolo da verdade e da justiça, igualmente consideradas invencíveis uma vez que, por mais que muitos tentassem destruí-las, elas sempre renasciam vitoriosas. O sol, considerado um deus, era uma luz poderosa, que iluminava o mundo inteiro. Igualmente, a verdade e a justiça eram luzes poderosas para todos os povos.
Em vez de simplesmente combater essa festa pagã, os cristãos passaram a apresentar Jesus Cristo, nascido em Belém, como o verdadeiro sol, já que ele nos veio trazer a verdade e a justiça. Também ele passou pela morte, mas dela ressurgiu, mostrando que era invencível. Seu nascimento – isto é, seu natal –, passou, então, a ser celebrado no dia do sol invicto, isto é, a 25 de dezembro.
Com o nascimento de Jesus, tínhamos possibilidade de conhecer o rosto de Deus. Afinal, ele passou a viver em nosso meio. Mais: “trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado” (Concílio Vaticano II, GS, 22).
O nascimento de Jesus é continuamente lembrado pela humanidade, pois contamos os anos a partir daquele acontecimento. Gratos pelo dom que recebemos, em nome daqueles que o aceitam como “Senhor”, e dos que não o conhecem e, por não conhecê-lo não o amam, somos convidados a lhe dizer:
Vimos te adorar, Menino Jesus. Estamos maravilhados diante da grandeza e da simplicidade do teu amor! Tu agora estás conosco para sempre! Tu, pobre, frágil, pequeno. Estás conosco, pois és o Emanuel! Em ti refulgem a divindade e a paz. Tu nos ofereces a vida da graça. Teu sorriso volta-se para os pequenos, pobres e simples. Por isso, depositamos a teus pés as nossas orações, a nossa vida e tudo o que somos e temos. Olha com especial carinho para aqueles que não te conhecem. Que também eles descubram as dimensões infinitas do teu amor, Sol invencível! Amém!
