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Em favelas, 1 em cada 5 moradores vive em ruas sem acesso para veículos – Cubo

by admin

Censo revela que 3,1 milhões de pessoas habitam vias acessíveis apenas a pé, de bicicleta ou moto, cenário que restringe serviços básicos e aprofunda desigualdades urbanas

Dados inéditos do Censo 2022, divulgados nesta quinta-feira (5) pelo IBGE, escancaram o abismo nas condições urbanísticas entre as favelas brasileiras e o restante das cidades. Em 2022, 19,2% da população residente em favelas e comunidades urbanas – o equivalente a 3,1 milhões de habitantes – vivia em trechos de via com acesso restrito, onde apenas pedestres, bicicletas e motos conseguem circular. Fora desses territórios, essa realidade atingia apenas 1,4% da população.

A pesquisa “Censo 2022: Favelas e Comunidades Urbanas – Características urbanísticas do entorno dos domicílios” analisou as condições de 12,3 mil comunidades em 656 municípios, onde residem 16,2 milhões de pessoas. A restrição de acesso, definida pela largura da via ou por obstáculos como fiação baixa, impede a passagem de carros, caminhões, ambulâncias e veículos de coleta de lixo.

Entre as 20 favelas mais populosas, a Rocinha, no Rio de Janeiro, apresentou o pior cenário: 81,9% de seus moradores residiam nessas vias de acesso limitado. Rio das Pedras (RJ) e Paraisópolis (SP) também registraram índices alarmantes, de 71,5% e 59,2%, respectivamente.

Impacto direto na coleta de lixo e no saneamento

A limitação de acesso tem consequências diretas para serviços essenciais. Apenas 86,6% dos moradores de favelas que vivem em ruas com capacidade para caminhões tinham coleta de lixo domiciliar. Nos trechos acessíveis apenas a veículos leves, esse percentual despenca. No Sudeste, por exemplo, menos da metade (48,6%) dos residentes nessas condições tinha o lixo coletado por serviço de limpeza, contra 73,3% nas áreas externas às favelas.

“Para que o lixo seja coletado diretamente por serviço de limpeza, é esperado que os domicílios se localizem em vias com acesso para caminhão”, explicou Filipe Borsani, chefe do Setor de Pesquisas Territoriais do IBGE.

A infraestrutura de drenagem também é crítica. Menos da metade (45,4%) dos moradores de favelas vivia em trechos de via com bueiro ou boca de lobo. Em números absolutos, São Paulo lidera a carência, com 1,6 milhão de pessoas nessas condições, seguida por Rio de Janeiro (695 mil) e Recife (626 mil).

Pavimentação e iluminação: contrastes regionais

Outro dado que evidencia a desigualdade é a pavimentação. Enquanto 91,8% da população fora de favelas vive em vias pavimentadas, dentro dessas comunidades o índice cai para 78,3%, deixando 3,5 milhões de pessoas em ruas sem asfalto. Em Brasília, o contraste é extremo: 98,1% de pavimentação fora das favelas contra apenas 47,8% dentro delas.

A iluminação pública, presente para 98,5% da população urbana geral, chega a 91,1% nas favelas, deixando 1,4 milhão de pessoas na escuridão. Na Rocinha, apenas 54,3% dos moradores têm iluminação pública em seu trecho de rua.

A pesquisa também analisou a presença de pontos de ônibus. Apenas 5,2% dos moradores de favelas têm esse equipamento em sua rua, metade do percentual verificado fora dessas áreas (12,1%). A análise do IBGE ressalta, no entanto, que este é um item que não precisa estar em todos os trechos.

Ciclo de carências se retroalimenta

Os técnicos do IBGE destacam a interdependência das infraestruturas. A falta de pavimentação compromete a eficácia das redes de esgoto, enquanto a pavimentação sem rede adequada pode piorar a drenagem. “São dois elementos interdependentes no planejamento urbano”, avaliou Larissa Catala, chefe do Setor de Suporte a Favelas do IBGE.

Os dados, disponíveis no Portal do IBGE e em suas plataformas de divulgação, oferecem um retrato detalhado das carências que marcam o dia a dia de milhões de brasileiros, apontando para a necessidade de políticas públicas integradas que enfrentem o déficit histórico de infraestrutura nessas comunidades.

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