Dadas as mais recentes e horripilantes notícias que nos chegam do Planalto Central é urgente começar a pensar nisso: Quais rostos veremos quando estivermos diante da urna eletrônica. Quem é votado, ou seja, os políticos, não pensam em outra coisa. Então, não adie esta reflexão, pois até para o mais desinformado dos brasileiros está cada vez mais óbvio que concentrar todo o debate e toda a briga eleitoral no cargo do Presidente da República tem construído a nossa derrota civilizatória.
Talvez seja mais fácil pensar pelo oposto, ou seja, em quem não votar. E para construir esse pensamento entram na equação vivências, crenças, noção (ou falta de noção) de ética. Parte da geração X viveu a ditadura quando era criança e entrou na adolescência já na redemocratização, e as seguintes (Y e Z) só sabem de ouvir falar. Isso significa que pouca gente no Brasil de hoje realmente viveu intensamente a ditadura a ponto de lembrar o quão o autoritarismo é péssimo, o que é viver estado de sítio, toque de recolher, mordaça real, tortura, morte, etc.
Dizer que ninguém sabe é muita gente. Uma parcela da população ainda vive intensamente tudo isso e com métodos aprendidos pelas forças de segurança durante a ditadura. Sabemos qual. Todavia, quem só viu estes dramas nos filmes, não precisa colocar a mão no fogo para saber se queima, mas soma-se falta de vivência com lacunas educacionais, culturais e ainda a uma máquina poderosa de desinformação, literalmente na palma da mão com as telas de celulares, e tem-se o ecossistema perfeito para que prosperem defesas do que é indefensável.
Chegou a hora de pensar seriamente em como reformar uma maioria do congresso que vota na calada da noite em benefício próprio, faz barganha com questões cruciais para nação, apoia todo e qualquer projeto que prejudique os mais precarizados, pouco se importa em parar uma nação para hipotecar apoio a criminosos e surrupiar direitos adquiridos.
Há ainda a opção de não só não encarar nenhum rosto na urna, mas também a própria, ou seja, há a alternativa de simplesmente ficar dormindo e não sair para votar. No entanto, em um país em que coronéis contam com a desmobilização para dirigir a nação como no período anterior a 1888, será esta uma escolha razoável?
E mesmo para quem é super consciente de todas as suas apostas políticas, é bom fazer esta pergunta ao travesseiro e responder com muita sinceridade sobre o que é democracia para você. Parece uma reflexão simplória, mas não é. Perguntar-se sobre o óbvio pode trazer respostas surpreendentes e no Brasil não há questionamento mais urgente e atual que este.
Hora de pensar em quem vamos e não vamos votar e conversar com os jovens. Todos eles, pois não é preciso colocar (de novo) o corpo do país inteiro neste fogo para provar que é verdadeira a afirmação de que a democracia — esta velha e calejada senhora — por mais falha que seja, é infinitamente melhor que qualquer sistema autoritário e fascista.
Não podemos deixar sem lutar que paguem para ver.
