Em uma votação marcada por reviravoltas, a Câmara aprovou nesta quarta-feira a suspensão do mandato de Glauber Braga por seis meses.
O resultado foi muito comemorado por Glauber e seus aliados assim que o placar foi revelado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta.
Até poucas horas antes da sessão, a cassação do parlamentar do Psol era dada como certa até mesmo por aliados.
Atendendo a uma ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deputados da tropa de choque governista entraram pesado na articulação que garantiu uma pena mais branda para o psolista.
Lideranças do Psol também encabeçaram a articulação, que envolveu a elaboração de uma emenda que atenuou a punição para uma suspensão de mandato no lugar da cassação e, consequentemente, da inelegibilidade.
Durante a discussão, as votações de requerimentos de retirada de pauta e de encerramento de discussão já foram um termômetro de que os opositores de Glauber teriam dificuldades de alcançar os 257 votos necessários para cassa-lo.
Na sequência, ocorreu a votação acirrada do destaque de preferência do Psol, que pedia que a emenda que sugeria que a suspensão fosse analisada pelos parlamentares antes da apreciação da cassação – que só seria votada se a suspensão fosse rejeitada.
O placar final teve uma diferença de 6 votos, com 226 deputados colocando sua digital a favor da análise preferencial da emenda do PT que sugeria suspender o mandato de Glauber.
Diante da preocupação de que não conseguiriam os 257 votos necessários para cassar o mandato, parlamentares do Centrão passaram a defender que pelo menos a suspensão do mandato fosse aprovada.
Essa virada de comportamento determinou a decisão do plenário de suspender o mandato do psolista, por 318 votos a 141.
Antes mesmo do resultado final, parlamentares da oposição alegaram que a Secretaria de Relações Institucionais, comandada por Gleisi Hoffmann, entrou de cabeça nas negociações e teria oferecido melhorar o fluxo da liberação de emendas para aqueles que apoiassem a manutenção do mandato de Glauber.
Ainda que admitam ter participado ativamente nas negociações, auxiliares da ministra petista negam que tenham feito a oferta de emendas em troca de votos favoráveis ao deputado do Psol.
A vitória de Glauber ocorreu um dia depois de ele ter ocupado a mesa da presidência da Casa por quase duas horas em protesto contra a decisão de Motta de pautar a sua cassação.
Ao informar que não deixaria a cadeira de Motta, o deputado do Psol descumpriu o regimento. Acabou sendo retirado à forca pelos policiais legislativos.
Marcada por violência, a operação dos policiais não foi televisionada, porque, em uma decisão inédita, a TV Câmara teve sua transmissão cortada.
A imprensa também foi retirada do plenário, impedida de registrar a ação e alguns profissionais foram agredidos segundos antes de Glauber ser conduzido para o salão verde da Casa.
Os parlamentares alinhados a Glauber registraram a retirada do psolista da cadeira de Motta. Marcada por confusão e violência, a operação deixou o próprio deputado, Sâmia Bomfim e Célia Xakriabá, ambas do Psol, com lesões corporais.
Ao retomar os trabalhos, o presidente da Câmara disse que Glauber desrespeitou o Legislativo e determinou a apuração de excessos dos policias contra a imprensa.
“A cadeira não pertence a mim. Ela pertence à República, pertence à democracia, pertence ao povo brasileiro. E nenhum parlamentar está autorizado a transformar em instrumento de intimidação ou desordem. Deputado pode muito, mas não pode tudo”, disse Motta.
