O governo de São Paulo emitiu, nesta quinta-feira (25), um alerta para que a população reduza o consumo de água diante do agravamento da crise hídrica no estado. A explicação oficial aponta a combinação entre uma onda de calor intensa e a estiagem prolongada, que elevou o consumo em até 60%, segundo a Sabesp, além da queda expressiva no nível dos mananciais que abastecem a Grande São Paulo.
O comunicado recomenda que a água seja destinada apenas à alimentação e à higiene pessoal, com orientação para evitar usos considerados não essenciais, como lavar carros, calçadas ou encher piscinas. O sistema Cantareira atingiu o menor nível em quase dez anos, o que levou o governo a declarar escassez hídrica e a suspender novas outorgas de uso da água.
A narrativa oficial insiste em responsabilizar o comportamento da população. Em nota, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, afirmou que o uso consciente da água deve integrar a rotina das famílias e que cada ação individual interfere no nível das represas. Pouco se fala, porém, sobre decisões estruturais tomadas pelo próprio governo.
Sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Sabesp foi privatizada com a promessa de modernização, ampliação de investimentos e maior eficiência no abastecimento. Na prática, a crise atual expõe um cenário de fragilidade no sistema, com manobras emergenciais, uso de caminhões-pipa em regiões específicas e alertas sucessivos à população. Para críticos do governo, a privatização não trouxe melhorias perceptíveis no serviço e tampouco garantiu maior segurança hídrica ao estado.

Em meio ao agravamento da situação, o governador se afasta do comando do Palácio dos Bandeirantes entre 26 de dezembro e 11 de janeiro, conforme publicação no Diário Oficial. Durante esse período, Tarcísio viajará para os Estados Unidos, segundo informações de pessoas próximas, em uma agenda descrita como pessoal, voltada ao descanso e à convivência familiar, sem compromissos oficiais divulgados. A administração estadual ficará sob responsabilidade do vice-governador Felício Ramuth (PSD).
A ausência do governador ocorre justamente quando milhões de paulistas são orientados a restringir o consumo de um serviço essencial. Ainda assim, o tema tem recebido tratamento discreto em parte da grande mídia, que pouco relaciona a crise hídrica às escolhas políticas recentes, incluindo a privatização da Sabesp e a falta de medidas preventivas de longo prazo.
