O bitcoin (BTC) voltou a recuar com força nesta quinta-feira (19) e ampliou a preocupação entre investidores que tentam identificar quando a queda vai acabar. A criptomoeda chegou a ser negociada na casa de US$ 89 mil à tarde, em seu menor nível desde abril e cerca de 30% abaixo da máxima histórica. A baixa seria o suficiente para caracterizar um bear market pela definição usada nos mercados tradicionais.
Vinicius Bazan, CEO da casa de análise Underblock, destaca que por esse critério popular de bear market, a baixa atual do bitcoin seria o terceiro do ciclo atual. No entanto, ele admite que desta vez as coisas parecem mais preocupantes. “Quando juntamos todos os indicadores, alguns começam a ficar piores. A média móvel exponencial (EMA) de 50 períodos no gráfico semanal, por exemplo, foi quebrada, o que é preocupante e perigoso”, afirma.
Apesar do ambiente negativo, parte do mercado vê elementos que diferenciam o momento atual do vivido em 2022, quando o setor enfrentou uma crise que derrubou o preço do BTC de US$ 69 mil para US$ 15 mil. Entre os analistas que defendem essa leitura está Axel Blikstad, sócio-fundador da gestora B2V Crypto, e o próprio Bazan.
Blikstad lembra que quedas de 30% fazem parte da trajetória histórica do bitcoin. No entanto, destaca que, em 2022, o movimento esteve associado a uma sucessão de rupturas de gigantes do mundo cripto, tais quais a stablecoin algorítmica Terra/Luna, o fundo 3AC, a empresa de empréstimos de ativos digitais Celsius e, por fim, a corretora FTX.
Na época, a deterioração do ambiente minou liquidez, afastou investidores e reforçou a postura restritiva da administração Biden em relação ao setor. Somando-se a isso, o temor de contágio levou bancos e outras instituições financeiras a restringirem drasticamente qualquer exposição a criptoativos.
O gestor afirma que o quadro de 2025 é distinto. Desta vez, o movimento negativo não decorre de uma crise sistêmica nem de episódios de solvência. Pelo contrário: há sinais até de aprofundamento da presença institucional.
Afinal, mesmo com o desempenho fraco do bitcoin no ano (recuo acumulado de 5%) investidores institucionais ampliaram suas posições.
Blikstad cita como exemplo o fundo patrimonial da universidade de Harvard, que reportou participação de US$ 443 milhões no fundo negociado em bolsa (ETF) de bitcoin IBIT, da BlackRock. Já o Abu Dhabi Investment Council (ADIC) divulgou ter aumentado sua posição para US$ 518 milhões, triplicando a fatia no terceiro trimestre.
Segundo Blikstad, esse tipo de investidor opera com horizonte mais longo e tende a priorizar fundamentos. O gestor acrescenta que o momento lembra o que o analista Jordi Visser descreveu como “IPO silencioso” do bitcoin, ou seja, a fase em que investidores iniciais realizam ganhos, enquanto instituições absorvem o fluxo vendedor.
Blikstad cita ainda que Luxemburgo e Emirados Árabes vêm ampliando a exposição a BTC, reforçando a percepção de profissionalização do mercado. Ele também menciona um webinar recente do Morgan Stanley sugerindo alocação de 2% a 4% em criptoativos em portfólios diversificados.
Bazan, por sua vez, entende que a correção já é bem mais profunda do que seria o normal neste momento e isso pode estar relacionado ao “flash crash” de 10 de outubro, quando houve uma liquidação de US$ 19 bilhões em posições compradas nos futuros de criptoativos.
“No ‘flash crash’ houve uma reação desproporcional. Você tem uma queda que é tão profunda que quebra alguns investidores e isso faz com que leve algum tempo para o mercado se recuperar totalmente”, destaca.
O CEO da Underblock diz que não seria surpreendente se muitas vendas forçadas de bitcoin que vemos hoje fossem reflexo de players que quebraram naquela ocasião. E tudo isso ocorre em um momento no qual a visibilidade é limitada no cenário macroeconômico por conta de indicadores que não saíram durante a paralisação (shutdown) do governo dos Estados Unidos.
Assim, Bazan entende que o momento atual é de indefinição, pois porquanto muitas métricas comecem a indicar o atingimento de fundo, outras mostram que ainda há incerteza o bastante para colocar os investidores em estado de alerta. Mesmo assim, o especialista diz acreditar que o inverno cripto ainda não começou.
“Em 2021 cresceu toda uma indústria que colapsou em 2022 e não vemos isso agora. Temos hoje simplesmente um balanço e desbalanço entre oferta e demanda de varejo e investidores de longo prazo”, afirma.
Para Blikstad, os investidores podem estar observando o ciclo de quatro anos do bitcoin e se antecipando à queda que viria no ano que vem para realizar ganhos. “Se for isso é bom, porque agora as pessoas não vão mais ficar com medo do quarto ano”, defende.
O gestor considera que 2026 pode ser positivo com reflexos nas cotações do bitcoin deste movimento em que cada vez mais bancos criam áreas de ativos digitais.
“Acho que o que não veio em 2025 pode chegar em 2026, quebrando o ciclo de quatro anos”, diz. Ele lembra que no ano que vem haverá mudança no comando do Federal Reserve, o banco central dos EUA, e isso pode trazer mais cortes de juros. Se isso ocorrer, será benéfico para ativos de risco, como são as criptomoedas.
Às 20h09 (horário de Brasília), o bitcoin caía 2,2% em 24 horas, a US$ 91.094 por unidade.
