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Estação de Tratamento de Água Itapuã parada ameaça abastecimento de Viamão e Alvorada

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O clamor por água potável marcou a mobilização de moradores de Viamão e Alvorada na manhã do sábado (6). Em protesto em frente à Estação de Tratamento de Água Itapuã (ETA Itapuã), famílias da região expressaram indignação pela paralisação de uma obra considerada estratégica para mitigar a crise hídrica que atinge os dois municípios há anos. O ato contou com apoio da deputada estadual Stela Farias (PT), vereadores e lideranças comunitárias.

Obra estratégica deixada de lado

A ETA Itapuã – planejada para captar água diretamente do rio Guaíba e abastecer o sistema integrado de Alvorada e Viamão – já recebeu mais de R$ 100 milhões em investimentos públicos, ainda na época em que a antiga concessionária estava sob gestão estatal. A construção visava garantir abastecimento mesmo em períodos de seca, beneficiando uma população estimada em cerca de 140 mil pessoas.

Entretanto, desde 2023 as obras estão paralisadas. Com a privatização da empresa de saneamento – agora operada pela Aegea/Corsan – a ETA Itapuã foi abandonada, e a estratégia foi alterada. Em vez de concluir a estação de tratamento, a concessionária passou a perfurar poços artesianos no distrito de Águas Claras, em Viamão, para captar água subterrânea.

Contestação técnica e risco ambiental

A perfuração dos poços despertou preocupação de moradores e de entidades ambientais, que apontaram riscos à sustentabilidade do abastecimento e aos aquíferos subterrâneos. Segundo críticas das entidades, a alternativa representava apenas uma solução de curto prazo, com potencial de causar danos ambientais e comprometer a segurança hídrica da região.

Em 2025, a Justiça do Rio Grande do Sul manteve a suspensão das obras de perfuração em Águas Claras, atendendo a uma Ação Civil Pública movida por associações de moradores com apoio do Ministério Público. A decisão considerou inadequadas as licenças ambientais e outorgas para exploração dos poços. Representantes da comunidade explicaram que, das 26 perfurações previstas, apenas seis haviam sido iniciadas antes da paralisação, e estimavam que o plano original previa a extração de 47 a 77 milhões de litros por dia – volume alarmante, muito superior ao consumo local.

Para os moradores, a ETA Itapuã representa uma solução mais sustentável e duradoura, captando água superficial tratada, com menor impacto ambiental e menor risco de escassez ou contaminação.

Defesa da concessionária: técnica e legalidade

Em resposta às críticas, a Aegea/Corsan afirma que a alternativa dos poços profundos é “a mais segura, eficiente e sustentável” para garantir o abastecimento de Viamão. A empresa informa que os seis poços perfurados em Águas Claras receberam outorga do órgão responsável pelos recursos hídricos estaduais e licença ambiental da autoridade ambiental. Alega, ainda, que este modelo já é utilizado em várias regiões do Rio Grande do Sul.

A concessionária declara que a decisão de não retomar a ETA Itapuã se fundamenta em estudos técnicos – inclusive relativos à cota de inundação do local, o que representaria risco de alagamento e inviabilizaria as operações. Da forma que foi repactuado, o plano de captação por poços subterrâneos serviria para garantir o fornecimento mesmo diante de secas ou inundações, conforme a empresa.

Mobilização social e controle público

A suspensão das perfurações em Águas Claras se deu após mobilização de moradores, associações ambientais e do Ministério Público, o que resultou em vitória judicial para a comunidade. A pressão social, no entanto, segue firme: representantes dos moradores reivindicam a retomada imediata da construção da ETA Itapuã como “alternativa definitiva” ao problema de abastecimento.

Em setembro de 2025, a Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado na Assembleia Legislativa solicitou o contrato completo entre a Corsan/Aegea e a prefeitura de Viamão, além de anunciar vistoria técnica à ETA Itapuã, com o objetivo de apurar volumes já investidos e o atual estado da obra.

A deputada estadual Stela Farias – que apoiou o protesto de 6 de dezembro – afirmou que vai pedir ouvidoria urgente à agência reguladora Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) e cobrar explicações da empresa e providências concretas do governo do estado para garantir saneamento e abastecimento.

Crise persistente e população no aguardo

Segundo Farias, a paralisação da ETA Itapuã, o impasse judicial sobre a captação subterrânea e a ausência de soluções estruturais deixam milhares de famílias vulneráveis a interrupções no abastecimento – especialmente nos períodos de estiagem e calor intenso.

Segundo moradores, o protesto desta semana evidenciou a exaustão da comunidade diante de promessas não cumpridas e da persistência de problemas básicos como a falta de água. “A ETA Itapuã não representa apenas uma infraestrutura, mas a segurança hídrica de Viamão e Alvorada. A expectativa agora é de que as autoridades e a concessionária convertam o ciclo de reivindicações em ações concretas, com retomada da obra e garantia de água tratada nas torneiras”, destacaram.

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