Pete Hegseth, secretário de Defesa de Trump, enfrenta a crise mais grave de seu mandato, em meio a acusações de crimes de guerra no Caribe e um relatório do inspetor-geral que o acusa de má gestão de informações militares confidenciais. Apesar de parlamentares de ambos os partidos exigirem sua renúncia, Hegseth não demonstra qualquer intenção de deixar o cargo e ainda conta com o apoio de Donald Trump.
A controvérsia mais recente surge em um momento em que a campanha no Caribe se concentra nas execuções extrajudiciais promovidas pelo governo Trump contra civis acusados sem prova de tráfico, que mataram pelo menos 87 pessoas em 22 ataques desde setembro.
Parlamentares democratas reacenderam os pedidos por sua demissão após revelações de sobreviventes de um ataque a um barco em setembro foram mortos deliberadamente em uma ofensiva com “duplo disparo”, enquanto uma investigação interna do Pentágono, divulgada na quinta-feira (4), expôs que ele violou gravemente protocolos de segurança ao compartilhar detalhes confidenciais pelo aplicativo de mensagens Signal horas antes de ataques aéreos no Iêmen.
Hegseth confirmou em seguida durante uma reunião de gabinete esta semana, tentando justificar seus atos sob a desculpa da ”névoa da guerra”, mas que “não permaneceu no local” para observar o restante da missão.
O relatório do inspetor-geral do Departamento de Defesa, divulgado na quinta-feira, concluiu que ele violou as normas do Pentágono ao usar o Signal para compartilhar detalhes precisos sobre os próximos ataques aéreos no Iêmen, incluindo a quantidade e os horários dos ataques de aeronaves tripuladas americanas sobre território hostil, aproximadamente duas a quatro horas antes da execução das missões em 15 de março.
Segundo o documento, as ações de Hegseth “criaram um risco para a segurança operacional que poderia ter resultado no fracasso dos objetivos da missão dos EUA e em danos potenciais aos pilotos americanos”. A investigação também constatou que ele não guardou todas as mensagens relacionadas, violando as normas federais de arquivamento de registros.
Cresce pressão por renúncia, mas blindagem de Trump se mantém
A senadora Patty Murray, vice-presidente democrata da Comissão de Orçamento do Senado, pediu a demissão do Secretário após uma reunião bipartidária sobre o incidente na quinta-feira. “Entre supervisionar esta campanha no Caribe, arriscar a vida de militares norte-americanos ao compartilhar planos de guerra no Signal e tantas outras coisas, ficou mais do que óbvio que o secretário Hegseth é inadequado para o cargo e já passou da hora de ele sair”, disse Murray.
A Coalizão dos Novos Democratas, o maior grupo democrata na Câmara dos Representantes, com 116 membros, divulgou sua própria declaração chamando Hegseth de “incompetente, imprudente e uma ameaça à vida dos homens e mulheres que servem nas Forças Armadas”. O presidente da Coalizão, Brad Schneider, e o presidente do grupo de trabalho de segurança nacional, Gil Cisneros, acusaram o secretário de Defesa: “Repetidamente, o secretário mentiu, esquivou-se, desviou-se e, chocantemente, usou seus subordinados como bodes expiatórios”, disseram. “Ele é uma vergonha para o cargo que ocupa e deveria renunciar imediatamente antes que suas ações custem vidas americanas.”
O senador Jack Reed, principal democrata na comissão de serviços armados, afirmou que o relatório deixou claro que “o secretário Hegseth violou as normas do Departamento de Defesa e compartilhou informações que eram classificadas na época em que lhe foram enviadas. Tratavam-se de horários e locais precisos de ataques que, se tivessem caído em mãos inimigas, poderiam ter permitido aos houthis alvejar pilotos americanos”.
Até mesmo o senador republicano Rand Paul, usualmente alinhado a Trump, admitiu que Hegseth mentiu sobre o ataque de barco em setembro, dizendo que o secretário de Defesa ou “estava mentindo para nós ou é incompetente e não sabia que tinha acontecido”. O congressista republicano Don Bacon disse à C-SPAN que já tinha “visto o suficiente” para concluir que Hegseth não era o líder certo para o Pentágono.
Apesar das controvérsias criarem o que esses legisladores descreveram como uma situação insustentável para a secretária, Trump continuou a apoiar Hegseth publicamente, com a Casa Branca expressando “a máxima confiança” em sua equipe de segurança nacional.
