Sonhar como gesto político e coletivo é o ponto de partida da exposição Nós Ousamos Sonhar, da fotógrafa pernambucana Thays Medusa, que será aberta ao público no dia 20 de dezembro, às 18h, no Museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife. Com curadoria de Bell Puã, a mostra reúne fotografias produzidas na Favela do Canal, no bairro do Arruda, Zona Norte da cidade, propondo uma nova narrativa sobre pessoas periféricas, deslocando o foco do estigma para o direito de sonhar, fortalecer vínculos comunitários e afirmar pertencimentos.
A partir de um olhar atento ao território, Thays Medusa apresenta imagens que articulam realidade e projeção de futuro. Crianças, adolescentes e jovens da comunidade aparecem como protagonistas de seus próprios sonhos, em cenas que mesclam o cotidiano da favela com aquilo que desejam ser amanhã. A quebrada se transforma em espaço de criação, onde o futuro é imaginado a partir do que já existe no território.
“Nós Ousamos Sonhar nasce desse desejo de mostrar que sonhar é um ato político e possível, mesmo pra gente que vem da favela. Quero que cada pessoa se veja ali e que isso fortaleça o sentimento de pertencimento”, afirma a fotógrafa. Para Medusa, sonhar em conjunto é uma forma de construir perspectivas de futuro.
A exposição dá continuidade ao projeto Eles Têm Medo de Nós, no qual a artista registrou o cotidiano da comunidade do Bode, no bairro do Pina, onde morava à época. Se antes o trabalho abordava o medo e a resistência, agora o foco se desloca para o sonho como eixo central da narrativa. “Desta vez, pensei em falar a partir da vivência de alguém que já atua no território, que constrói com essas crianças no dia a dia”, explica.
Esse ponto de partida é a trajetória de Okado do Canal, rapper, b-boy, ator e arte-educador que há 18 anos desenvolve um trabalho contínuo com crianças e adolescentes da Favela do Canal por meio da cultura Hip Hop. Sua história conduz a narrativa da mostra, que se amplia para retratar outros jovens que mantêm seus sonhos mesmo diante das dificuldades.
Fundador do Espaço Cultural do Beco, criado em 2018, Okado transformou o interesse pela dança em um projeto coletivo de formação artística. “O espaço virou um sonho coletivo de transformação aqui na favela. Um caminho para que o hip-hop faça por essas crianças o que fez por mim”, afirma. Ao longo do mês de outubro, ele participou dos encontros com Thays Medusa e as crianças da comunidade que deram origem às fotografias.
O artista visual Afro’G também integra a exposição, aparecendo nas imagens enquanto grafita uma jaqueta usada por um dos b-boys retratados, reforçando a presença do hip-hop como linguagem estética e cultural. Para ele, o trabalho contribui para o fortalecimento da autoestima. “Pela fotografia, Thays devolve dignidade ao ser”, reflete.
A curadoria é assinada por Bell Puã, poeta e escritora pernambucana, que destaca o valor do pertencimento presente na mostra. Segundo ela, Nós Ousamos Sonhar rompe estereótipos ao evidenciar artistas e crianças da Favela do Canal que constroem perspectivas de futuro fora das narrativas negativas comumente associadas às periferias.
A exposição segue até o dia 16 de janeiro, com entrada gratuita.
Serviço
Exposição: Nós Ousamos Sonhar
Abertura: 20 de dezembro, às 18h
Visitação: de 20 de dezembro a 16 de janeiro de 2026
Local: Museu Cais do Sertão (Av. Alfredo Lisboa, s/n, Armazém 10, Bairro do Recife)
Entrada gratuita
