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Nesta semana, o ContilNet divulgou um relatório elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que confirma a presença do Terceiro Comando Puro (TCP) no Acre. Trata-se de uma facção criminosa que ganhou notoriedade por reunir traficantes que se declaram evangélicos.
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No RJ, paredes estão pinchadas com a estrela de Davi, marcando território. Foto: Reprodução
O Terceiro Comando Puro (TCP) é uma facção criminosa do Rio de Janeiro criada por volta de 2002, após uma dissidência interna do Terceiro Comando (TC). O racha ocorreu principalmente por disputas de poder e desacordos entre lideranças. Desde então, o TCP se consolidou como rival direto do Comando Vermelho (CV), travando conflitos pelo domínio de territórios e pontos de venda de drogas em várias regiões do estado.
A facção se estruturou dentro e fora dos presídios, mantendo hierarquia própria e alianças pontuais com outros grupos criminosos. Ao longo dos anos, tornou-se conhecida pelo uso de armas de grosso calibre, explosivos e estratégias violentas para expandir sua atuação. Hoje, segue como uma das principais organizações criminosas do Rio, envolvida em tráfico de drogas, roubos, extorsões e confrontos armados em comunidades dominadas ou disputadas pelo grupo.
Complexo de Israel surgiu em 2020, com domínio de cinco comunidades na zona norte do Rio. Foto: Reprodução/Redes Sociais
O relatório sobre a expansão da facção foi apresentado no início de novembro, durante reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência no Congresso, pelo coordenador-geral de Análise de Conjuntura Nacional da Abin, Pedro Souza Mesquita. Segundo ele, o TCP já domina áreas no Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, além do Acre.
Um dos movimentos mais recentes da facção ocorreu no Ceará. Há cerca de três meses, símbolos associados ao TCP, como a estrela de Davi, começaram a aparecer em paredes de bairros de Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, acompanhados de pichações com frases do tipo “Jesus é dono do lugar”. No mesmo período, surgiram relatos de fechamento de terreiros de umbanda, supostamente por ordem de integrantes do grupo, repetindo práticas observadas na zona norte do Rio, onde o TCP tem histórico de intolerância religiosa.
Os reflexos dessa expansão já preocupam especialistas em segurança pública no Ceará, estado que, apesar de ter reduzido seus índices de homicídio nos últimos anos, continua entre os mais violentos do Brasil. Três cidades cearenses aparecem no ranking das dez com maiores taxas de assassinatos no último Anuário Brasileiro de Segurança Pública: Maranguape, Maracanaú e Caucaia.
O receio de autoridades e estudiosos é que a chegada do TCP resulte em uma nova disputa direta pelo controle de comunidades, aumentando o risco de confrontos armados e a elevação das mortes violentas.
Situação no Acre
O ContilNet procurou nesta semana o delegado titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) da Polícia Civil do Acre, Gustavo Henrique da Silva Neves, para saber como essa facção está avançando no estado.
O delegado afirmou que uma facção do Acre procurou abrigo no TCP. “A gente sabe que uma facção daqui procurou abrigo lá no TCP. A gente sabe da troca de informações entre eles e já existem algumas informações que vão desencadear operações por parte da Polícia Civil por conta da rivalidade com o CV, o que pode ter provocado a chegada do grupo no estado”, pontuou.
Delegado titular da DRACO, Gustavo Henrique da Silva Neves/Foto: ContilNet
O titular da DRACO disse que não pode informar a quantidade aproximada de pessoas do Acre e locais envolvidos com essa facção, mas garantiu que a Polícia Civil está ciente da expansão.
“Quantidade de pessoas e local de atuação eu não posso informar, mas a gente sabe, a gente tem ciência disso, a gente está cuidando disso também. Isso também é um ponto de atenção nosso e, em um curto espaço de tempo, vai haver novidades”, acrescentou.
Gustavo explicou como ocorreu a aliança do Bonde dos 13 com o TCP no Acre:
“O Comando Vermelho está aqui no Acre bem forte. Aí a facção local, que é o Bonde dos 13, ela toda hora fica tendo embates com o Comando Vermelho. Aí acaba que ela procura se aliar a outras facções inimigas do Comando Vermelho de outros lugares. Assim como já aconteceu a aliança com o PCC, agora estão tendo aliança com o TCP, que é uma facção rival do CV no Rio de Janeiro.”
O delegado disse que desconhece a possibilidade de ter alguma liderança do TCP do Rio de Janeiro no Acre para fortalecer o grupo.
“É o pessoal daqui que busca apoio do pessoal de lá, mas a gente não tem informação sobre pessoas que vêm do Rio de Janeiro para ajudar aqui”, concluiu.
