Até novembro, cerca de 678 mil unidades habitacionais foram financiadas pelo país com o programa Minha Casa, Minha Vida, apontam dados do Ministério das Cidades. Pouco mais de 20 mil casas separam os dados parciais deste ano do recorde de 698.582 financiamentos de 2024.
O setor vê 2025 como um ano “extremamente positivo” para o programa de moradia social, com ênfase em atualizações, como o lançamento da Faixa 4, e reforços que o impulsionaram.
Destaca-se também o fato de que o programa contou neste ano com um orçamento recorde próximo a R$ 180 bilhões, o maior já destinado à habitação no país.
“Esse volume expressivo de recursos garantiu previsibilidade, segurança e capacidade de contratação ao programa, permitindo a ampliação das contratações”, afirma Luiz França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias).
Como resultado desse movimento, França ressalta as expectativas de a meta inicial de 2 milhões de moradias previstas para quatro anos ser alcançada já em 2025, podendo chegar a 3 milhões de unidades até o fim de 2026.
Só na cidade de São Paulo, o Secovi-SP (Sindicato da Habitação, Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis do Estado de São Paulo) estima que os lançamentos de imóveis residenciais cresceram 41% e as vendas avançaram 10% no acumulado de 12 meses até outubro.
O setor avalia que o “desempenho dinâmico” foi “sustentado especialmente” pelas contratações do Minha Casa, Minha Vida, aponta o SindusCon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo).
“Em 2025, o mercado de baixa renda da construção civil apresentou um desempenho positivo e dinâmico, sustentado principalmente pelas contratações do programa Minha Casa, Minha Vida”, diz o presidente do SindusCon-SP, Yorki Estefan, reforçando o papel do MCMV como principal motor da habitação de interesse social no país.
Atualizações impulsionam programa
Em maio, o governo federal lançou a nova Faixa 4 do programa, destinada às famílias de classe média. O critério de entrada é renda mensal de até R$ 12 mil, garantindo juro nominal de 10% ao ano e prazo de pagamento de até 420 meses.
Com a inflação e reajustes salariais anuais, eventualmente famílias que se enquadrariam no programa poderiam acabar perdendo a capacidade de participar. Eduardo Fischer, CEO da MRV&Co, destaca que nos anos em que não aconteceu reajuste no programa, perceberam-se perdas.
“Como o objetivo é atingir a renda mais baixa no Brasil, é importante que os parâmetros sejam constantemente reavaliados. […] Importante que sejam reajustados porque inflação existe, imóveis crescem e famílias sobem renda”, pontua Fischer.
A readequação foi fundamental em um momento no qual o país enfrenta um cenário de juros elevados.
Clausens Duarte, vice-presidente de Habitação de Interesse Social da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), pondera que a classe média dependia quase exclusivamente da poupança, que estava escassa e cara devido à Selic elevada, o que vinha reduzindo as contratações.
“O setor respondeu rapidamente, com aumento de oferta, novos lançamentos e crescimento mensal consistente nas contratações”, diz.
No terceiro trimestre, enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) cheio cresceu 0,1% na comparação com o segundo trimestre, e o industrial expandiu 0,8%, a indústria da construção registrou ganho de 1,3%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A Sondagem da Indústria da Construção da CNI (Confederação Nacional das Indústrias) mostrou que os empresários do setor fecham 2025 com expectativas positivas para 2026.
“O início do ano costuma ser um momento melhor para a construção e, aliado a isso, há uma série de medidas que vão influenciar e dar ritmo à atividade do setor no ano que vem, além da perspectiva de redução da taxa de juros”, explica o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
Na linha das atualizações para tornar o programa mais amplo, o Conselho Curador do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), aprovou, nesta quinta-feira (18), uma ampliação do teto de compras de imóveis das faixas 1 e 2 do Minha Casa, Minha Vida. A medida passa a valer a partir de janeiro de 2026.
Em nota, o presidente da CBIC, Renato Correia, avalia como “necessária” a mudança nos valores de teto dos imóveis.
“O setor da construção encontrava obstáculos para implementar empreendimentos imobiliários em capitais do Norte e do Nordeste, o que comprometia a oferta de moradias e a geração de emprego e renda nessas localidades”, afirma.
Olhando para essas especificidades regionais, o setor destaca a importância da complementaridade entre programas estaduais com o federal.
“Os estados Brasil afora começaram a entender a dimensão do problema e como poderiam participar da solução, […] e trabalham em conjunto com o Minha Casa, Minha Vida. Essa integração de programas alcança famílias de renda ainda mais baixa, tornando o acesso à habitação muito mais facilitado”, conclui Fischer.
Em São Paulo, destacam-se o Casa Paulista e a atuação da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo); já em Minas Gerais, notam-se a política estadual de habitação e o histórico de atuação via COHAB (Conjunto Habitacional). Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco também possuem programas estaduais próprios; Paraná e Rio Grande do Sul atuam também via COHABs; e Ceará, com programas complementares ao MCMV; entre outros.
