A filha da líder da oposição venezuelana María Corina Machado aceitou o Prémio Nobel da Paz em nome da sua mãe na quarta-feira, horas depois de as autoridades terem anunciado que Machado não compareceria à cerimónia.
Jørgen Watne Frydnes, presidente do Comité Norueguês do Nobel, disse na cerimónia de entrega do prémio em Oslo que “María Corina Machado fez tudo o que estava ao seu alcance para poder comparecer à cerimónia aqui hoje — uma viagem em uma situação de extremo perigo”.
“Embora ela não possa estar presente nesta cerimónia e nos eventos de hoje, estamos profundamente felizes em confirmar que ela está segura e que estará conosco aqui em Oslo”, disse, sob aplausos.
Machado está escondida e não é vista em público desde 9 de janeiro, quando foi brevemente detida após se juntar a apoiadores em um protesto na capital venezuelana, Caracas.
O diretor do Instituto Nobel da Noruega e porta-voz de Machado disse na quarta-feira que ela não poderia comparecer à cerimónia.
María Corina Machado disse numa gravação de áudio de uma chamada telefónica publicada no site do Nobel que muitas pessoas “arriscaram as suas vidas” para ajudá-la a chegar a Oslo.
“Estou muito grata a elas, e isso mostra o quanto esse reconhecimento significa para o povo venezuelano”, disse ela antes de indicar que estava prestes a embarcar num avião.
“Sei que há centenas de venezuelanos de diferentes partes do mundo que conseguiram chegar à sua cidade e que estão agora em Oslo, familiares, minha equipa, tantos colegas”, acrescentou Machado.
“E como este é um prémio para todos os venezuelanos, acredito que será recebido por eles. Assim que chegar, poderei abraçar toda a minha família e os meus filhos, que não vejo há dois anos, e tantos venezuelanos e noruegueses que conheço e que partilham a nossa luta e o nosso combate.”
“Há uma longa tradição de que, quando um laureado com o Prémio da Paz não pode estar presente, familiares próximos o representam”, disse o diretor do Instituto Nobel, Kristian Berg Harpviken, à emissora pública NRK. “Isso aconteceu com Narges Mohammadi e com Ales Bialiatski, ambos presos na época.”
A mãe de Corina Machado, Corina Parisca, e os seus três filhos estão todos em Oslo para a cerimónia.
A ausência de um laureado não é inédita. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo, que estava preso, não pôde comparecer e ninguém recebeu o seu prémio.
Em 2022, o bielorrusso Ales Bialiatski foi representado pela sua esposa, Natallia Pinchuk. Um ano depois, os filhos adolescentes da iraniana Narges Mohammadi viajaram para Oslo para receber o Nobel em seu nome.
O Comité Norueguês do Nobel concedeu o prémio a Machado em outubro por manter «a chama da democracia acesa em meio a uma escuridão crescente» e por «seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela».
Machado venceu as eleições primárias da oposição, mas foi impedida pelo governo de concorrer contra Maduro nas eleições presidenciais de julho de 2024. Ela acusou Maduro de roubar a eleição, uma alegação apoiada por grande parte da comunidade internacional.
O presidente argentino Javier Milei, o presidente do Panamá José Raúl Mulino, o presidente do Paraguai Santiago Peña e o presidente do Equador Daniel Noboa estão presentes na cerimónia.
Os quatro chefes de Estado latino-americanos serão recebidos pelo rei Harald V na quarta-feira após a cerimónia, antes de realizarem reuniões individuais com o primeiro-ministro norueguês Jonas Gahr Støre.
O candidato presidencial da oposição venezuelana no exílio, Edmundo González Urrutia, que solicitou asilo na Espanha em setembro de 2024, também chegou a Oslo na terça-feira.
