A candidatura de Flávio Bolsonaro é para valer? Bem, depende para quem você pergunta. Se, neste momento, você for dar uma olhadinha no Fintweet, a turma da Faria Lima que badala no X, no Twitter, eles ainda estão convencidos de que Tarcísio é candidatíssimo. Essa é daquelas análises que misturam muito desejo com o racional. Se você for perguntar a Gilberto Kassab, ele já está trabalhando ativamente com o cenário Flávio é candidato até o fim e Tarcísio disputa a reeleição em São Paulo. Nessa análise não tem nada de desejo mas também não quer dizer que seja por convicção. O que rola, aí, é cálculo. O cenário pode mudar, mas é prudente operar como se já fosse certo.
Flávio anunciou sua candidatura em 5 de dezembro. Aí, no dia 7, um domingo, fez que podia negociar uma saída. Na segunda da semana passada, reiterou a candidatura. No final de novembro, o pessoal da AtlasIntel fez perguntas sobre um cenário em que Flávio seria candidato. No primeiro turno, Lula teria 47% dos votos e, Flávio, 23%. Ronaldo Caiado chegaria em terceiro com 10%, Ratinho Júnior com 7, Zema com 5, daí vêm os nanicos, os retardatários. Importante registrar: esse aí é um levantamento no qual ainda não havia se espalhado, pelas redes bolsonaristas, a notícia de que o filho Zero Um havia sido ungido.
Nesse cenário da Atlas, tem segundo turno e Flávio disputa com Lula. Perde, mas essa é outra história, muito cedo pra realmente dizer. Quando o anúncio da candidatura Flávio foi feito, muita gente no Bluesky lulista ficou eufórica. Agora sim, vitória no primeiro turno. Vai ser fácil. Pois é. Muito mais desejo do que análise também aí. Na verdade, uma candidatura Flávio pode até não levá-lo ao segundo turno, mas aumenta em muito as chances de haver segundo turno.
Vem cá, qual é a regra? É simples. Se um candidato recebe mais votos do que seus adversários somados, vitória no primeiro turno. Metade mais um dos votos válidos. Se recebe menos, ele e o segundo colocado vão disputar uma nova eleição. Vocês lembram como foi, em 2022? Primeiro turno, Lula teve 48,4%. Jair Bolsonaro teve 43,2%. Diferença de cinco pontos percentuais. De seis milhões de votos. Um bocado. Chegou no segundo, apertou e muito. Lula chegou muito perto do seu teto já no primeiro. Bolsonaro, não. A diferença entre os dois foi de menos do que dois pontos percentuais. Ficaram por dois milhões de votos um do outro.
Se Flávio for candidato mesmo, esta eleição de 2026 vai ser muito diferente daquela. Os motivos são dois. Um, que o bolsonarismo enfraqueceu. E, dois, que Bolsonaro não é presidente. O incumbente, quer dizer, o sujeito que está na presidência e se candidata a seguir no cargo, tem uma vantagem natural. Olha só, todo presidente, no ano da reeleição, tem uma melhora de sua avaliação entre o primeiro e o segundo semestre. Não tem nenhuma razão para achar que isso não será verdade para Lula. Isso acontece pelo seguinte: o governo gasta mais com propaganda e se organiza para gastar mais dinheiro no ano eleitoral. Mais dinheiro na economia dá uma aquecida a mais, as pessoas têm a impressão de que tem mais grana rolando. O otimismo é bom pro governante. Todo mundo fez isso, todo presidente, todo governador, até os prefeitos fazem isso. Vencer incumbente é difícil.
O problema para Lula é o seguinte: só um político, em todo o Brasil, tem rejeição maior do que a de Lula. Jair Bolsonaro. Lula é muito rejeitado. Os dois são. Mais de metade dos brasileiros, realmente, gostariam de ver os dois pelas costas. Só que, aí, entra outra questão. Eles são também os políticos com a maior base de fãs, de eleitores dedicadíssimos, do país. Lula tem 17% de fãs, segundo o Instituto Ideia. Bolsonaro tem 12% de fãs. Essa é a base, o alicerce, o mínimo do mínimo do mínimo. Parte daqueles 23% de votos que a Atlas encontrou na pesquisa para Flávio são esses 12%, aí. Isso é sólido. A outra parte é puro reconhecimento de nome. É a parte que dá pra roubar. Ou não.
Então voltamos para nossa pergunta essencial. A candidatura de Flávio Bolsonaro é para valer? A chave é saber se tem segundo turno e se ele estará lá. Se chegarmos a junho, julho, e Flávio ainda estiver em segundo nas pesquisas, com cara de que vai ter segundo turno, não tem muito motivo para ele sair da briga. E o fato de Flávio estar na briga já meio que faz essa uma eleição com jeitão que terá segundo turno.
Sabe por quê? Porque, gente, vamos voltar à regra? Metade mais um. Se o líder da corrida não tiver metade mais um dos votos válidos, tem segundo turno. Se a direita apresenta muitos candidatos, o que ocorre? Na maior parte das eleições presidenciais que tivemos, o cenário é algo assim: um primeiro lugar acima dos trinta, um segundo acima dos vinte e um terceiro, distante, mas ali com 10 a 15 porcento dos votos. E um pelotão com cinco, com quatro, com seis, com dois. Eleição com muito candidato tem disso. As pessoas não querem Dilma, não querem Aécio. Correm pra Marina. As pessoas não querem Bolsonaro, não querem Haddad, correm pro Ciro. Sempre tem esse candidato meio para-raios. Uma pessoa que atrai os votos de todo mundo que quer evitar aquela dupla no segundo turno.
Se a direita lança o governador paulista Tarcísio de Freitas, a tendência são os partidos de direita se reunirem ao redor dele. Pouca gente na briga. Mas, se alguém com o sobrenome Bolsonaro entra na briga, aí a tendência é a direita se dividir. Ironicamente, Tarcísio é simultaneamente o candidato mais forte da direita e aquele que dá a maior chance de Lula vencer no primeiro turno. Porque uma eleição com Tarcísio candidato é uma com poucos outros candidatos. Tem menos gente para ser aquele terceiro para o qual todo mundo que não quer nem um, nem o outro, consegue correr.
E aí? A candidatura de Flávio vale, vale de verdade, é firme? Vamos trabalhar com duas datas-chaves para sabermos. A primeira, 4 de abril de 2026. E, a segunda, 15 de agosto. Se Flávio ainda for candidato no dia 4 de abril, isso é tipo um mês depois do carnaval, 80% de chances de ele ser candidato. Se em 15 de agosto estiver de pé, essa é a briga.
Por que, vocês perguntam. Vamos lá ao por quê.
Vamos lá, sem firula. Os partidos de direita querem lançar Tarcísio de Freitas à presidência. Tarcísio deixou claro para todo mundo que só sai com apoio de Bolsonaro. E Bolsonaro indicou Flávio. Pois bem, Tarcísio tem um de dois caminhos. Por um lado, candidatura fácil à reeleição em São Paulo. Por outro, a batalha pelo Planalto. A Constituição determina que, se você concorre à reeleição, pode seguir onde está. Se quer outra disputa, precisa deixar o cargo executivo seis meses antes. A eleição é em 4 de outubro. Tarcísio tem até 4 de abril para renunciar ao governo de São Paulo. Se não renunciar, só tem uma eleição que ele pode disputar. A para continuar onde está.
Então vamos lá: por que Flávio desiste da candidatura se, em 4 de abril, ele se mantiver em segundo, distante do terceiro, num quadro com cara de dar segundo turno? Tem um motivo. Anistia para o pai. O Congresso aprova a anistia, o Supremo deixa rolar. Está com zero cara de que vai acontecer. Tem outro cenário? No momento, muito difícil imaginar. “Ah, mas de que adianta chegar ao segundo turno se vai perder para Lula?” Muito simples. Por mais quatro anos a família Bolsonaro poderá dizer que é líder da direita no Brasil. Pode valer mais perder tendo chegado ao segundo turno do que não disputar. No momento, é este cálculo que estão fazendo.
Agora, conforme julho vai se aproximando, os partidos precisarão definir seus candidatos. Isso quer dizer que, embora a campanha não esteja rolando oficialmente, todo mundo vai estar batendo perna pelo Brasil. Governadores como Zema, Ratinho e Caiado terão renunciado ao cargo e vão fazer de tudo e gastar os tubos para se apresentarem a muita gente. E os números vão começar a flutuar. Mais gente vai ver estes nomes no Zap, no Insta, no TikTok, no X, onde for. Uns vão crescer, um deles vai botar o pescoço pra fora e chegar ali em terceiro. Esse terceiro é um terceiro 12%? Ou um terceiro 18%? Flávio, a essa altura, vai estar estável, vai inclinar para baixo, para cima?
No primeiro semestre, tudo é pesquisa. As pesquisas vão mostrar que, para uns, é mais negócio desistir e virar vice. Para outros, bota mais grana porque está rendendo. Em 15 de agosto, os partidos terão já de ter registrado os candidatos. É dada a largada. Alguém ultrapassa Flávio? Flávio desiste antes?
E aí? Flávio é candidato ou não é? Tudo é pesquisa. Vamos assistir de camarote. Vai ser intenso. Vai ter surpresa. Que surpresa? Pois é.
Flávio é mesmo candidato? – Meio
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