Gabriel Sanches, o Breno da novela Dona de Mim, tem sentido a popularidade de seu personagem ao ser reconhecido nas ruas. “Apesar de muita gente detestar o Breno (risos), tenho recebido muito afeto. Na verdade, é bom conseguir fazer um personagem que cause impacto na trama e no público”, conta o ator.
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Na trama, Breno é casado com Caco (Pedro Alves), que é pai biológico do bebê de Ayla (Bel Lima), namorada de Gisele (Luana Tanaka). Embora a gravidez tenha sido por inseminação artificial, a gravidez causou uma situação familiar complexa envolvendo dois casais homossexuais e uma gestação de gêmeos. “O tema da gravidez tem sido um pouco mais sensível porque é delicado mesmo. Quatro personagens com interesses diversos e que agora convergem para um interesse em comum: filhos. Eu torço muito por essa história e acredito que vai ser um marco na teledramaturgia ver essa família formada por dois pais e duas mães.”
Em ‘Dona de Mim’, Gisele (Luana Tanaka), Ayla (Bel Lima), Caco (Pedro Alves) e Breno (Gabriel Sanches) são dois casais com uniões homoafetivas e vivem uma gestação de gêmeos
TV Globo
Nascido em Brasília, Gabriel cursou a faculdade de Letras e conta que a morte do irmão, quando ainda era adolescente, acabou o impulsionando para não desistir da vontade de ser ator. “Com a morte do Dudu, tive muitas reflexões categóricas: só tenho essa vida e é nela que preciso me concentrar, encontrar alegria, minha alegria de viver”, afirma.
Paralelamente ao trabalho na novela, Gabriel Sanches forma a dupla de drags Sara e Nina, com Alessandro Brandão, que completa 10 anos em 2026. “Estamos preparando nosso terceiro álbum musical”, diz.
Quem: Como surgiu a chance de interpretar o Breno em Dona de Mim?
Gabriel Sanches: Foi um convite para fazer o teste. O Allan Fiterman (diretor da novela) e o Giovani Barros (produtor de elenco) falaram comigo que ainda estavam definindo perfil e faixa etária para o casal Breno e Caco. Fui testado para o Breno. Não demorou muito pra ele me retornar com o tão festejado sim. Vibrei muito! Estou muito feliz em dar continuidade ao trabalho no audiovisual.
Gabriel Sanches
Luisa Worcman
Desde que recebeu o personagem, sabia deste desenrolar? Ou foi surpreendido?
Fui surpreendido algumas vezes. Primeiro, com o susto sobre a possibilidade da trama que tinha sido pensada nem acontecer. Alguns temas são tratados como sensíveis e sexualidade é um deles, ainda mais envolvendo uma gravidez e a formação de família não convencional. Fizemos a preparação sem ter certeza de qual caminho nossos personagens tomariam. Por um lado, isso trouxe mais camadas para a interpretação, por outro vira um tiro no escuro. Podia naufragar. Estou muito contente porque estamos conseguindo trilhar essa jornada sobre um tema tão rico e importante. Só a presença de dois casais LGBTs estáveis, com trama presente na narrativa, já é de se celebrar, mas ainda com o conflito da gravidez e a paternidade de Caco e Breno ser colocada como uma realidade possível torna tudo ainda mais rico e interessante.
Como sente a receptividade do público com o casal Breno e Caco? Com a gestação da Ayla, percebe um aumento de comentários?
A receptividade nas ruas tem sido muito linda de acompanhar. O público gosta de amor, de família, de gente como a gente, né? Apesar de muita gente detestar o Breno (risos), tenho recebido muito afeto. Na verdade, é bom conseguir fazer um personagem que cause impacto na trama e no público. O tema da gravidez tem sido um pouco mais sensível porque é delicado mesmo. Quatro personagens com interesses diversos e que agora convergem para um interesse em comum: filhos. Eu torço muito por essa história e acredito que vai ser um marco na teledramaturgia ver essa família formada por dois pais e duas mães.
Caco (Pedro Alves) e Breno (Gabriel Sanches) são casal em ‘Dona de Mim’
TV Globo
Você nasceu em Brasília e se mudou para o Rio decidido a investir na carreira artística? Você tinha algum plano B?
O plano B era o plano A desde sempre. Mesmo quando decidi fazer faculdade de Letras foi pensando no quanto a literatura está presente na minha profissão de ator. Nem fiz a licenciatura para não dar aula. Na época, eu pensava que não podia nem dar a chance de desviar do meu foco de ser ator. Hoje, penso que sempre é bom abrir um pouco mais o leque. Quando o dinheiro fica apertado no final do mês, por exemplo, sempre vale ter umas cartas na manga. Antes da novela, por exemplo, fiz bico de assistente de cozinha para uma chef. A gente precisa se virar, né? Outro período, trabalhei na assessoria de comunicação do Detran. Não era bom, mas era o que pagava minhas contas. Dedico muito do meu tempo aos meus projetos no teatro e na música, mas nem sempre as contas fecham. Então, a gente precisa fazer jornada dupla, às vezes, tripla. Estou muito agradecido e consciente do bom momento profissional que estou vivendo.
Quando você se mudou para o Rio, sua família acabava de passar por um baque — a perda do seu irmão. Eles te incentivaram na profissão?
A morte do meu irmão foi uma fatalidade, um susto, posso dizer. Nenhum de nós podia imaginar. Na época, eu fazia teatro, mas não imaginava meios para fazer daquilo a minha profissão. Com a morte do Dudu, mesmo eu ainda novo, aos 17, tive muitas reflexões categóricas: só tenho essa vida e é nela que preciso me concentrar, encontrar alegria, minha alegria de viver. Se o que eu queria era ser ator, então encontraria os meios. Menos de um mês daquele episódio fatal, eu já estava com a decisão tomada. Tomei coragem e compartilhei com meus pais cheio de força e orgulho daquela ação. Minha mãe, primeiro, negou. Ela já tinha perdido um filho, não queria o outro longe. Mas meu pai disse que a minha coragem era a que ele também queria ter tido na adolescência para poder estudar o que ele sonhava. Apesar da dor, a nossa vida seguia, ele entendeu o que precisava ser feito para que eu encontrasse o meu lugar no mundo, a minha jornada. Minha mãe entendeu depois também. Meus pais são muito apoiadores do meu trabalho e da minha decisão profissional. Sofrem comigo quando as coisas ficam difíceis, de vez em quando minha mãe pede pra eu voltar pra Brasília, pra casa deles. Ao mesmo tempo entendem e torcem por mim. Aliás, a pandemia nos deu essa oportunidade. Fiquei com eles durante alguns meses, vivemos esse momento de família morando juntos outra vez. Foi importante.
Gabriel Sanches
Luisa Worcman
Teve receios por conta da instabilidade do mercado?
Na verdade, não imaginava como seguir um percurso de estudo para me tornar ator e trabalhar com arte. Não tive exemplos próximos nessa área, não conhecia atores em Brasília e não tínhamos o hábito, na minha família, de ir ao teatro, nem mesmo ao cinema. Meu avô materno era fotógrafo e cineasta, mas isso era tratado como um hobby pelas pessoas. Não conheci meu avô, só sei de histórias que contaram para mim. Esse lado artista dele não era exaltado com orgulho. Cresci duvidando se era possível mesmo ser ator, tudo parecia muito distante.
Você já realizou trabalhos como drag. A dupla Nina e Sara ainda existe?
Existe! Estamos preparando nosso terceiro álbum musical que ainda vai ser lançado até o fim do ano. O nome mudou algumas vezes, mas agora batemos o martelo. Vem aí “Sara e Nina: com lágrimas nos olhos.”
Alessandro Brandão e Gabriel Sanches formam a dupla de drag queens Sara e Nina
Reprodução/Instagram
Como você avalia o atual momento para os personagens LGBTQIA+ no audiovisual?
Audiovisual é muito amplo e funciona de maneira diferente, dependendo do veículo. No cinema, há menos tabu, o cinema abre portas para a criação e a arte de forma menos mercantil. Existe resistência, “guerrilha”, revolução, existe respeito à visão e autoria. Na TV, o que manda é o capital e isso dita muito as regras da dramaturgia. Quando se fala em diversidade de personagens, agora estamos acompanhando uma melhora considerável no aspecto racial, mas isso ainda é muito frágil e é preciso seguir vigilante. No que tange à sexualidade, a estrada ainda é longa.
O que gostaria de ver representado?
Torço muito para ver, em breve, um protagonista gay de novela, com romance, com tramas relevantes, herói, por exemplo. Isso vai gerar um movimento de inclusão muito grande de outros personagens inclusive. Seria incrível inclusive participar desse momento histórico.
Gabriel Sanches
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Profissionalmente, quais seus maiores desejos?
Me sinto pronto para dar vida a um protagonista. São muitos desafios, claro. E foi muito importante não ter vivido isso tão novo, mesmo que eu quisesse muito. Tudo tem o seu tempo. A aprendizagem demanda caminhada e dedicação. Os desafios maiores podem precisar de tempo pra serem encarados de forma responsável.
Com 2025 se aproximando do fim, qual balanço faz do ano? Já tem planos para 2026 ou gosta de viver um dia de cada vez?
Adoraria poder viver um dia de cada vez, mas estou me movimentando todos os dias para fazer a roda continuar girando. Esse foi um ano muito próspero profissionalmente. Fiz novela, teatro e gravei disco. Em 2026, serão 10 anos de carreira musical com Sara e Nina, tem muito o que fazer para celebrar esse marco com shows. Espero conseguir o feito de um próximo trabalho na TV. Quero conseguir que meus textos, como dramaturgo e roteirista, ganhem vida nos palcos e telas também. Movimenta que a roda anda.
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Créditos
Gabriel Sanches, de 'Dona de Mim', sobre representatividade em novelas: "Torço por um protagonista gay"
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