- Mídia (Globo, Estadão, Folha) critica Toffoli por acareação no caso Master, envolvendo suposta tentativa do BRB de salvar o banco.
- Acareação marcada por Toffoli coloca frente a frente Vorcaro, Ailton de Aquino (BC) e Paulo Henrique Costa (ex-BRB) para apurar pressão política na liquidação do Master.
- Investigação apura se houve irregularidades na liquidação do Banco Master pelo Banco Central e possível impacto financeiro em instituições e fundos de pensão.
- Crise do Banco Master envolve disputa bilionária na Faria Lima, com possível impacto político e judicial, incluindo ações contra bancos e risco de quebra de instituições.
Representantes históricos dos interesses da burguesia financista no Brasil, os clãs que dominam a mídia hegemônica gritam em uníssono contra qualquer ação que coloque em risco o conluio com banqueiros e a estrutura de polícias neoliberais no país, como é com a defesa das privatizações e o ataque às políticas sociais, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.
Não está sendo diferente nas investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e relatadas pelo ministro Dias Toffoli no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a tentativa do governo Ibaneis Rocha (MD), por meio do Banco de Brasília (PRB), de salvar o Master, de Daniel Vorcaro, que foi preso no mesmo dia em que seu banco foi liquidado.
Após vazamentos seletivos sobre suposto contrato milionário entre o escritório de Viviane Barci de Moraes com o Master e a narrativa, de “seis fontes sigilosas”, sobre reuniões de Alexandre de Moraes com presidente do Banco Central, Gabriel Galípolio, para “fazer pressão” sobre o canso do banqueiro – negado por todos os envolvidos -, reveladas pela mesma jornalista da Globo, a mídia liberal agora centra fogo na acareação marcada por Toffoli para o dia 30 de dezembro.
Neste sábado (27), Estadão e O Globo soltaram editoriais atacando Toffoli pela “precipitada acareação”, que coloca “caso Master entra em rota perigosa”. Mais polida, a Folha recorreu a “empresários” – na maioria banqueiros ou agentes do sistema financeiro – entre eles dois ex-presidenciáveis do partido Novo -, para dizer que a medida “levanta alerta sobre a reputação do STF após escândalo do Master”.
Cara a cara
A decisão do ministro, mantida mesmo parecer contrário do Procurador-Geral da República Paulo Gonet, vai colocar frente à frente Vorcaro, Ailton de Aquino, diretor do Banco Central (BC), e Paulo Henrique Costa, ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), usado pelo grupo político de Ibaneis Rocha na tentativa de negociata para salvar o Master e colocar o excêntrico banqueiro mineiro no comando da principal instituição estatal do Distrito Federal.
Na negociata frustrada pelo BC e pela PF – o que contraria a grita da mídia liberal sobre “pressão” sofrida pela instituição -, o BRB teria adquirido R$ 12,e bilhões em títulos podres para turbinar o Master antes da decisão do BC. Com a liquidação, a instituição estatal corre risco de solvência.
Além disso, instituições privadas, como o BTG Pactual, de André Esteves, proliferou a venda dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com estratosférica – e irreal – rentabilidade de 140%. Com a falência do Master, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) deve desembolsar R$ 41 bilhões para investidores que tinham até R$ 250 mil nos títulos podres.
Os que tinham acima disso – um negócio de alto risco assumido por muitos endinheirados – terão que cobrar o ressarcimento das próprias instituições privadas, como o BTG. Dessa forma, como antecipou Rovai, a guerra travada na Faria Lima foi levada ao STF, que deve receber uma avalanche de ações contra bancos que levaram os clientes a assumirem o risco Vorcaro.
A acareação ainda coloca em evidência Paulo Henrique Costa, o PHC, braço político do grupo que além de Ibaneis Rocha e José Roberto Arruda, envolve grande parte do Centrão e da ultradireita, que vai de Ciro Nogueira e Antônio Rueda, presidentes do PP e do MDB, a Cláudio Castro (PL-RJ) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), governadores do Rio de Janeiro e São Paulo, passando pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
A acareação proposta por Toffoli quer saber, justamente, de onde veio a pressão política para que o Banco Central, ainda com diretores remanescentes indicados por Jair Bolsonaro, não liquidasse antes o Master.
“O ministro teve papel fundamental na defesa e preservação da democracia que estava sob ataque da direita e ultradireita. E, mais importante, ele enviou a mensagem de que qualquer tentativa de golpe de Estado em 2026 terá resposta implacável do STF. Antes de qualquer parecer sobre o caso, temos de ver os fatos e principalmente quais são os vínculos de Daniel Vorcaro com o centrão, a direita e a ultradireita”, disse sobre Alexandre de Moraes, o empresário Lawrence Pih, única voz dissonante – e lúcida – citada no pé da reportagem da Folha de S.Paulo.
Ataques coordenados
No restante da reportagem, a Folha cita o “manifesto” de banqueiros como José Olympio Pereira (Safra), expoentes do neoliberalismo como Armínio Fraga, e empresários bolsonaristas como Eugênio e Salim Mattar (Localiza) pedindo um “código de conduta” ao STF para falar das “preocupações que têm prevalecido no setor privado diante do escândalo do Master”.
No ataque, a Folha usa aspas dos ex-presidenciáveis do Partido Novo, Luiz Felipe d’Avila e Antônio Amoedo, que chega a defender o afastamento de Moraes do Supremo.
“O ministro Alexandre de Moraes deveria solicitar imediatamente o afastamento do STF e só retornar se comprovar que não tentou interferir no processo de liquidação do Banco Master. Normalmente, cabe aos acusadores o ônus da prova. No caso de Moraes, entretanto, o contrato de R$ 129 milhões, muito acima dos padrões, firmado pelo escritório de advocacia de sua esposa com o banco, inverte essa lógica”, disse Amoedo, em linha com o “impeachment” do ministro proposto por bolsonaristas no Senado.
A tese da “insegurança jurídica” para investidores – entenda-se especuladores do mercado financeiro – se alia à outra infundada, divulgada nos editoriais do Estadão e do Globo: a anulação da decisão do Banco Central de liquidar o Master.
“Mais grave, contudo, é a rota perigosa em que o caso Master entrou. Não é desarrazoado inferir que o objetivo último de Vorcaro, usando o Supremo, seja suspender as medidas cautelares que lhe foram impostas e, sobretudo, criar um ambiente propício para questionar – e eventualmente anular – a decisão do BC de liquidar o Banco Master após meses de rigorosas análises técnicas”, diz o Estadão.
Sob o manto de outro preceito neoliberal, de defender a “autonomia” do Banco Central – que significa colocar a instituição nas mãos dos banqueiros, como fez a dupla Paulo Guedes e Jair Bolsonaro -, o clã Marinho revela finalmente de que lado está na guerra da Faria Lima levada ao Supremo.
“A missão do BC não é salvar banqueiros encrencados, mas garantir a estabilidade do sistema financeiro. Depois de um mês, já ficou claro que a liquidação do Master não representou risco sistêmico e que o BC cumpriu seu dever. Não se pode dizer o mesmo do TCU ou do Supremo”, diz o editorial d’O Globo.
Guerra na Faria Lima
Na edição do Fala, Rovai desta sexta-feira (26), o editor da Fórum, Renato Rovai, traçou um retrato de forte tensão no sistema financeiro brasileiro, com desdobramentos diretos na política e no Judiciário.
O epicentro do conflito está na Faria Lima, onde uma disputa envolvendo o Banco Master, grandes bancos privados e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) teria escalado para um embate bilionário.
De acordo com Rovai, a crise ganhou novo fôlego após a publicação de uma coluna da jornalista Malu Gaspar, no jornal O Globo, que sugeriu a existência de pressões do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes sobre o Banco Central, em especial sobre seu presidente, Gabriel Galípolo, no contexto da intervenção no Banco Master. A colunista também havia noticiado anteriormente um suposto contrato milionário entre o banco e Viviane Barci, esposa do ministro.
“As duas informações somadas levam a um indício de, digamos, pressão por dinheiro: o ministro Alexandre de Moraes estaria pressionando Galípolo em relação ao Banco Master, enquanto sua esposa receberia dinheiro do Banco Master, de Daniel Vorcaro.”
Segundo o jornalista, a reportagem teria sido produzida a partir de seis fontes ligadas a grandes bancos, especialmente a setores descontentes com os efeitos da intervenção no Master. Na leitura apresentada no Fala Rovai, o banqueiro André Esteves, controlador do BTG Pactual, aparece como figura central desse grupo.
“O André Esteves seria, hoje, o capitão do time dos banqueiros em guerra contra o Vorcaro”, afirmou.
O pano de fundo do embate, segundo a análise, é o impacto financeiro da crise do Banco Master. Instituições que venderam títulos do banco a clientes agora podem ser obrigadas a arcar, via Fundo Garantidor de Créditos, com ressarcimentos de até R$ 250 mil por investidor. O custo estimado chega a R$ 40 bilhões.
“É a guerra dos R$ 40 bilhões”, resumiu Rovai.
No campo institucional, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffoli conduz um inquérito que apura se a intervenção do Banco Central no Master foi correta. Segundo Rovai, Toffoli determinou uma acareação entre Daniel Vorcaro, dono do banco, e o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), instituição que teria adquirido cerca de R$ 12 bilhões em papéis do Master.
“O BRB hoje é um morto-vivo, está próximo de quebrar”, afirmou Rovai. “Não estou especulando. São informações obtidas a partir de muitas conversas com gente que circula nesse circuito.”
A análise aponta ainda que a crise pode exigir intervenção do governo federal para evitar a quebra de mais uma instituição financeira. Rovai também menciona a possibilidade de novos desdobramentos políticos, inclusive envolvendo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, caso avancem investigações ou eventuais delações.
Outro ponto destacado é o impacto sobre fundos de previdência. Segundo Rovai, um fundo ligado ao estado do Amapá, associado ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, teria comprado cerca de R$ 400 milhões em papéis do Banco Master.
“Pode quebrar o fundo de pensão”, alertou. “E isso explica muita coisa do silêncio político em torno do caso.”
No Congresso, o jornalista também questionou o pedido de CPI do Banco Master, apresentado pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE). Para Rovai, há contradição entre o discurso anticorrupção e alianças políticas locais.
“Não tem santo nessa história”, afirmou. “Isso não é combate à corrupção. É disputa de poder.”
Ao concluir a análise, Rovai fez um alerta ao público diante da enxurrada de informações divulgadas no período.
“Não se emocionem tanto com as notícias”, disse. “O que está por trás disso é uma guerra fratricida na Faria Lima.”
