A greve nacional dos petroleiros da Petrobrás completou uma semana neste domingo (21) sem acordo entre a categoria e a empresa, apesar de avanços parciais na contraproposta apresentada pela companhia. A paralisação teve início na última segunda-feira (15), após semanas de assembleias e a rejeição da segunda contraproposta apresentada pela empresa para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a nova contraproposta apresentada pela Petrobrás trouxe avanços em três dos eixos da pauta de reivindicações, mas deixou pendente um quarto eixo considerado central pela categoria.
Além disso, permanecem pontos considerados decisivos pelos sindicatos, como a garantia de que a proposta seja aplicada a todas as subsidiárias; a não punição nem desconto dos dias parados; a isonomia entre trabalhadores de unidades no Amazonas e a garantia de hospedagem para trabalhadores offshore.
A FUP também cobra a apresentação de uma carta-compromisso para a solução dos Planos de Equacionamento dos Déficits da Petros (PEDs).
Impacto de R$ 200 milhões por dia
Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que, nos seis primeiros dias de greve, a produção acumulou uma queda estimada em cerca de 300 mil barris de petróleo e gás.
De acordo com o economista Cloviomar Cararine, do Dieese, apenas na área de Exploração e Produção (E&P) a redução representa perdas em torno de US$ 18 milhões por dia, o equivalente a aproximadamente R$ 100 milhões. No segmento de refino, o impacto diário é estimado em cerca de R$ 90 milhões.
Somados, os efeitos chegam a aproximadamente R$ 200 milhões por dia, sem considerar impactos em outras áreas do Sistema Petrobrás.
Segundo Cararine, ao contrário do que sustenta a direção da empresa, a paralisação tem impacto direto nas receitas e expõe fragilidades na estratégia de contingência adotada pela gestão.
“Em quase duas décadas acompanhando a categoria, nunca presenciei uma mobilização tão rápida, coesa e expressiva diante de um chamado sindical”, afirmou.
Impasse nas negociações
Para o coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Sérgio Borges, apesar da apresentação de uma nova contraproposta, a ausência de avanços nos pontos considerados centrais pela categoria mantém o impasse e contribui para o prolongamento da greve.
“A Petrobrás escolheu não negociar. Não há proposta concreta e não há disposição de diálogo. Nessas condições, a greve tende a se prolongar, além de Natal e Ano Novo, porque a categoria está unida e disposta a sustentar o movimento pelo tempo que for necessário. E, se depender da categoria, temos muito gás e energia para continuar por tempo indeterminado”, afirmou Borges.
Custo da greve e reivindicações
O economista do Dieese destacou ainda o descompasso entre o custo diário da paralisação e o impacto financeiro das reivindicações da categoria. A proposta apresentada pela Petrobrás prevê um reajuste de 0,5%, com impacto estimado em cerca de R$ 85 milhões ao ano.
“Em um único dia de greve, a empresa perde mais do que o dobro desse valor”, afirmou Cararine. Segundo ele, o custo anual do reajuste representa apenas uma fração do que a estatal deixa de faturar diariamente com a paralisação. “É um prejuízo que poderia ser evitado com a abertura de uma mesa de negociação séria e efetiva”, concluiu.
Contraponto
Por meio de nota, a Petrobras informou que apresentou ajustes em sua última proposta de acordo coletivo de trabalho, contemplando avanços nos principais pleitos sindicais. “Com essa medida, a companhia demonstra seu compromisso com o entendimento com a categoria e busca a suspensão do movimento grevista”.
A estatal afirmou ainda que, até o momento, “a greve não trouxe impacto à produção”, e o abastecimento ao mercado continua garantido e sem alterações. “As equipes de contingência foram mobilizadas onde necessário. A companhia respeita o direito de manifestação dos empregados e se mantém aberta ao diálogo com as entidades sindicais”, afirmou.
