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Homofóbico, religioso e fã de Pinochet: quem é José Antonio Kast, o ‘Bolsonaro chileno’

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José Antonio Kast foi eleito presidente chileno neste domingo (14) ao derrotar a comunista Jeannette Jara por 58,1% a 41,8% dos votos, com 99,33% das urnas apuradas. Conhecido como “Bolsonaro chileno”, ele governará o Chile entre 2026 e 2030.

Ex-deputado de extrema direita e devoto católico, de 59 anos, Kast é casado e pai de nove filhos. Ele defendeu a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e se opõe ao aborto mesmo em casos de estupro, à pílula do dia seguinte, ao divórcio e ao casamento homoafetivo.

“A extrema direita volta ao poder no Chile, bem mais radicalizada do que Sebastián Piñera [que governou o país entre 2010-14 e 2018-22], mas extremamente pinochista, que reivindica um passado glorioso que teria ocorrido durante a ditadura [1973 – 1990]”,  disse ao Brasil de Fato o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Gilberto Maringoni.

Apesar do apelido de “Bolsonaro chileno”, ele tem temperamento mais calmo e comedido do que o ex-presidente condenado e afirma ser um democrata.

“Ele é visto como muito sóbrio, muito pragmático, muito pausado e muito calmo em comparação aos demais”, diz à AFP a jornalista Amanda Marton, uma das autoras do livro “Kast, la ultraderecha a la chilena” (Kast, a ultradireita à chilena, em tradução livre).

Diante da crescente preocupação dos chilenos com o aumento da insegurança e da migração, propõe uma luta implacável contra o crime por meio da deportação dos 330 mil migrantes irregulares que vivem no país, aos quais culpa pelo aumento da criminalidade.

Ele reconheceu possuir um revólver de cinco tiros e quer aumentar o poder de fogo da polícia. Mantém uma contagem regressiva para concretizar seu plano de expulsão dos estrangeiros sem documentos, caso assuma o cargo em 11 de março de 2026. “Se não saírem voluntariamente, iremos buscá-los” para expulsá-los, afirma.

É o mais novo de 10 filhos de um casal de alemães que emigrou para o Chile, onde seu pai fundou um próspero negócio de embutidos.

Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que seu pai, nascido na Alemanha, foi membro do partido nazista de Adolf Hitler. Mas Kast afirmou que ele foi recrutado à força pelo Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e negou que seu pai fosse partidário do movimento nazista.

O candidato ultradireitista foi deputado por 16 anos. Em 2016, deixou o União Democrata Independente (UDI), no qual militou por décadas, por considerar que o partido havia abandonado os princípios conservadores que o inspiravam.

Em 2019, fundou o Partido Republicano, que lidera com uma mistura de “simpatia pessoal” e um “controle rígido”, explica à AFP Javiera González, coautora do livro “Kast, el mesías de la derecha chilena” (‘Kast, o messias da direita chilena’, em tradução livre).

Kast demonstrou alinhamento com Trump, chegando a dizer que apoiaria uma invasão dos EUA à Venezuela. Suas propostas focam em migração e segurança pública, temas que lideram as preocupações chilenas:

Ele prometeu instalar cercas ou valas nas fronteiras com Bolívia e Peru para conter a imigração irregular, inspirando-se nas iniciativas de Trump. Almeja superar o número de autodeportações feitas por Trump. Defende o modelo de “mão dura” de Bukele, tendo visitado a megaprisão em El Salvador.

Assim como o argentino Javier Milei, ele propõe um ajuste fiscal drástico de US$ 6 bilhões em 18 meses, sob o slogan de “cortar gastos políticos”, usando retórica como “casta política”.

Analistas dizem que a campanha de Kast busca capitalizar a frustração eleitoral com o governo Boric, apresentando-se como uma alternativa radicalmente conservadora e focada em segurança e ordem, com forte inspiração em líderes populistas de direita de outras nações.

Esta é a terceira vez que Kast, que se opõe ao aborto mesmo em casos de estupro, disputou uma eleição presidencial.

Há quatro anos, perdeu o segundo turno para Boric, um ex-líder estudantil que chegou à presidência aos 36 anos com a promessa de mudar a Constituição de Pinochet para garantir maior acesso à saúde e educação depois que mais de um milhão de manifestantes foram às ruas em 2019.

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