O Instituto Amazônia 4.0 acredita que o Brasil pode antecipar sua neutralidade climática para 2040, dez anos antes da meta. Para isso, o país deverá promover transformações estruturais no uso da terra e no sistema energético. O instituto realizou um estudo sobre a possibilidade de o país antecipar a neutralidade climática com o objetivo de disponibilizar para o governo brasileiro um material sobre a adoção acelerada de uma meta de emissões líquidas zero de gases de efeito estufa. A pesquisa foi financiada pela Sequoia Foundation e pelo Rockfeller Brothers Foundation.
“A neutralidade em emissões até 2040 é tecnicamente possível, apoiada na bioenergia, em tecnologias de captura e armazenamento de carbono e em governança territorial integrada“, conclui o estudo do Instituto Amazônia 4.0, criado pelos irmãos Carlos Nobre e Ismael Nobre, com o objetivo de contribuir para a preservação do bioma amazônico com o desenvolvimento de infraestrutura econômica que auxilie essa preservação.
O estudo destaca que atingir a neutralidade de emissões em 2040 exige investimentos inéditos, coordenação entre os diferentes setores da economia e parcerias público-privadas. “O sucesso de tal empreitada depende de distribuir custos e benefícios de forma justa, garantindo inclusão social e justiça climática”, concluem os pesquisadores.
A pesquisa ressalta que a antecipação da neutralidade climática em uma década tem potencial de criação de novos empregos “verdes” e acrescenta que a concretização de tal cenário fará do Brasil um modelo a ser seguido internacionalmente, com base em uma receita desenvolvida no Sul Global, demonstrando que ações climáticas são compatíveis com o objetivo maior de desenvolvimento sustentável para todos.
Os pesquisadores dividiram os cenários entre o uso da terra e o sistema de energia. Do lado do uso da terra, setor chamado no estudo de Agricultura, Florestas e Uso do Solo (Afolu), é previsto zerar a supressão de matas nativas até 2030; expandir programas de reflorestamento e restauração; incentivar a adoção de agricultura regenerativa e reduzir emissões através de mudanças no uso da terra e da agropecuária. Pelo modelo, o país atingiria a neutralidade no lançamento de gases de efeito estufa (GEE) em 2040 e a de CO2 até 2035.
Na área de cobertura do solo, o estudo mostra a possiblidade de transformar sistemas agropecuários em “sumidouros líquidos de carbono”, através da adoção de sistema produtivos integrados que removem carbono da atmosfera e estocam em diferentes níveis do solo. Além disso, haveria prioridade no uso de biocombustíveis convencionais e a integração com o uso da terra.
Do lado da energia, há indicações de que o petróleo seria “completamente eliminado” até 2040, impulsionado pela neutralidade total do setor energético; e o fechamento de todas as refinarias que não operam com coprocessamento de biomassa e a manutenção de poucas plantas necessárias para atender a demandas nacionais específicas.
