A combinação entre avanço tecnológico, desinformação e presença territorial do crime organizado deve criar um ambiente de “ameaças complexas e multifatoriais” para as eleições de 2026, segundo um alerta do professor e especialista em cibersegurança Rodolfo Avelino. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele comentou o relatório recente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aponta que o país vive uma convergência de riscos que “afetam diretamente a integridade do pleito”.
Entre eles, os fatores citados pela Abin, estão a desinformação em larga escala, o uso de deepfakes, a polarização social e, de forma cada vez mais relevante, a influência de facções sobre comunidades. “O relatório afirma que, em muitos locais do Brasil, facções criminosas vão exercer controles que serão informais sobre algumas regiões, o que vai talvez criar um ambiente de vulnerabilidade específica”, diz Avelino. “O crime, nesse sentido, vai se tornar um vetor de pressão sobre o processo democrático”, complementa.
Avelino destaca que “a principal ameaça à segurança do processo eleitoral não é um ataque direto às urnas, mas na forma de poder tirar a legitimidade das instituições democráticas”. Entre as vulnerabilidades previstas, ele cita a intimidação a eleitores e candidatos, a restrição de circulação de grupos políticos e o uso de estruturas criminosas para favorecer alianças locais.
O professor também chama atenção para o impacto crescente de conteúdos falsos gerados por inteligência artificial (IA), de vídeos a áudios. “Hoje, temos a inteligência artificial tendo um grande poder de qualidade na geração de conteúdos de vídeo. Na questão do áudio também, temos um termo chamado deepvoice”, menciona.
Ele observa que o Brasil continua sem um marco legal definitivo para a área. O PL 2338, que trata da regulação da IA, deve avançar, mas dificilmente estará aprovado antes das eleições. Assim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve novamente editar normas específicas para o período eleitoral, como ocorreu em 2022. “Minha expectativa é que o marco legal não seja aprovado a tempo do pleito de 2026”, avaliou.
Apesar dos riscos, a IA também pode reforçar estratégias de defesa. O desafio, segundo o professor, é reduzir a dependência tecnológica de países centrais. “Quem detém o conhecimento para desenvolvimento de inteligência artificial está concentrado em dois grandes polos, que são os Estados Unidos e a China”, afirmou.
Ele defende uma estratégia nacional de IA e de cibersegurança, com investimento consistente em ciência e formação de especialistas “para que de fato consigamos ter segurança e garantir que além dos dados do Estado, consigamos ter uma condição mais calma em relação aos ataques”.
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