Três pedidos de impeachment contra o governador do Tocantins, Wanderley Barbosa (Republicanos), seguem paralisados na Assembleia Legislativa do estado. As solicitações foram apresentadas após suspeitas de fraude em contratos firmados durante a pandemia, mas não avançaram porque deputados responsáveis pela tramitação também são investigados no mesmo caso.
Ao todo, dez dos 24 deputados estaduais do Tocantins são alvos da investigação conduzida pela Polícia Federal. Entre eles, quatro integram a Mesa Diretora da Assembleia, órgão encarregado de decidir se os pedidos de impeachment seguem para votação em plenário.
Fazem parte da Mesa Diretora o presidente da Casa, Amélio Cayres, o primeiro vice-presidente Léo Barbosa, o segundo vice-presidente Cleiton Cardoso e o primeiro secretário Vilmar de Oliveira. Nenhum deles declarou impedimento até o momento.
O regimento interno da Assembleia prevê que deputados devem se declarar impedidos em processos que envolvam interesse direto ou causa própria. Como os investigados não podem deliberar sobre o tema, os pedidos não foram aceitos nem rejeitados, permanecendo sem qualquer encaminhamento formal.

Governador e parlamentares foram alvos da Operação Fames-19, da Polícia Federal, que apura um suposto esquema envolvendo a compra de cestas básicas e frangos congelados durante a pandemia. Segundo a investigação, os produtos não teriam sido entregues, e os valores pagos teriam sido desviados. O prejuízo estimado é de R$ 73 milhões, e o inquérito tramita sob sigilo.
Procurados, o governador e os deputados citados não responderam aos questionamentos até a publicação da reportagem. Em manifestação anterior, Wanderley Barbosa afirmou que, à época dos fatos, ocupava o cargo de vice-governador e não era responsável pelas despesas do programa investigado.
Diante da paralisação do processo, o ex-prefeito de Palmas e atual vereador Carlos Amastha acionou o Superior Tribunal de Justiça. Em ofício enviado à Corte, ele classificou a situação como uma “anomalia institucional”, argumentando que deputados investigados têm interesse direto no resultado do impeachment.
Amastha é autor de dois dos pedidos apresentados em setembro, enquanto o terceiro foi protocolado em novembro pelo deputado Júnior Geo. Para a oposição, a proximidade entre investigados e o governador cria risco de interferência nas investigações, incluindo possível combinação de versões e influência sobre testemunhas.
