Em um recente congresso de tecnologia militar em Tel Aviv, as empresas bélicas israelenses fizeram alguns dos comentários mais explícitos até agora, vinculando o valor de seus produtos ao fato de que esse poder de fogo foi testado no mundo real contra os palestinos em Gaza. O Drop Site News obteve uma gravação dos comentários do congresso, que incluem observações do presidente e CEO da empresa Israel Aerospace Industries, além de executivos da Elbit Systems, RAFAEL Advanced Defense Systems, entre outras. A conferência se chamava DefenseTech Week, e aconteceu no começo de dezembro.
A indústria bélica israelense já foi criticada por divulgar seus produtos como “testados em laboratório” nos seres humanos sob ocupação, especialmente pelo jornalista australiano Anthony Lowenstein. Seu livro, Laboratório Palestina, foi adaptado pelo Drop Site em podcast no ano passado.
Os registros recém-descobertos dão a entender que a indústria bélica de Israel não se sentiu reprimida pelo repúdio mundial contra o genocídio em Gaza; pelo contrário, foi encorajada por ele. “A guerra que enfrentamos nos últimos dos anos permite que a maior parte dos nossos produtos se tornem válidos para o resto do mundo”, alardeou Boaz Levy, chefe da Israel Aerospace Industries (IAI), no primeiro dia do congresso. “A começar de Gaza, seguindo para Irã e Iêmen, eu diria que muitos, muitos produtos da IAI estavam lá.”
Os próprios militares estiveram bem representados no encontro. O major-general da reserva Amir Baram é diretor geral do Ministério da Defesa de Israel, e também falou no primeiro dia. “Estes não são projetos de laboratório ou conceitos de powerpoint”, ele disse. “São sistemas comprovados de combate. É isso que a tecnologia de defesa significa em Israel, e isso redefiniu a identidade global de Israel. Por muitos anos, Israel foi conhecido mundialmente como um país cibernético. Agora, evoluímos para um verdadeiro país de tecnologia de defesa.”
Gili Drob-Heistein, diretor executivo do Centro de Pesquisa Cibernética Interdiciplinar Blavatnik, diz que os dois anos de uso da tecnologia bélica israelense sobre os palestinos ajudaram a fazer a transição de Israel, de “país startup” para um ator global no setor de defesa. “Israel é conhecido por ser um país startup, e todos acreditamos que a tecnologia de defesa tem o potencial de se tornar o próximo grande motor econômica de Israel e além”, disse. “A liderança tecnológica de Israel, combinada com inteligência, ousadia e pensamento inovador continua a produzir resultados surpreendentes, como vimos recentemente no campo de batalha durante uma guerra que nos foi imposta em várias frentes simultaneamente. Muitas dessas tecnologias têm aplicações civis e militares.”
Dados sobre a venda global de armas permitem inferir que a propaganda durante a conferência reflete verdadeiras tendências favoráveis para a indústria bélica de Israel, sendo que três fabricantes israelenses de armas aumentaram seu faturamento em 16%, chegando a 16,2 bilhões de dólares (90 bilhões de reais), segundo o Instituto Internacional de Pesquisa de Paz em Estocolmo (SIPRI). “O aumento da resposta negativa às ações de Israel em Gaza não parece ter muito impacto sobre o interesse nas armas israelenses”, diz Zubaida Karim, pesquisadora do Programa de Gastos Militares e Produção de Armas do SIPRI.
A Elbit Systems, empresa bélica de Israel que teria assinado um acordo bilionário com os Emirados Árabes Unidos, também estava fortemente representada no congresso. O vice-presidente executivo, Yehoshua Yehuda, fez propaganda das “tecnologias comprovadas em combate” que permitem que as pessoas sejam atingidas mesmo quando “os alvos são menores que um pixel”.
Os Emirados Árabes estão financiando e equipando as Forças de Suporte Rápido no Sudão, um grupo militante que está realizando um massacre que pode ultrapassar o genocídio em Gaza. Se é que já não ultrapassou.
As armas israelenses desempenham um papel cada vez maior nos conflitos globais, disse Levy à plateia. “80% das nossas atividades são realmente para exportação – apenas 20% das nossas atividades se destinam ao mercado israelense”, ele explicou. “Acho que todas as coisas que aprendemos durante essa guerra em Israel impacto nossa capacidade futura de negócios. E a IAI tem atualmente 27 bilhões de dólares em novos pedidos, e algo como 7 bilhões de dólares de faturamento anual.”
Ao mesmo tempo, os fabricantes de armas reconheceram que um boicote cada vez maior ameaça seus negócios. “Acho que Israel está passando por um boicote”, diz Schlomo Toaff, vice-presidente executivo da Divisão Geral de Ar e Sistemas de Mísseis de Defesa da RAFAEL Advanced Defense Systems Ltd. “Vimos isso no Paris Air Show, em junho, quando fomos bloqueados pelos franceses.”
“É algo que precisamos levar em conta quando falamos sobre o que estamos fazendo aqui na indústria”, diz.
A VIRADA COMEÇA AGORA!
Você sabia que quase todo o orçamento do Intercept Brasil vem do apoio dos nossos leitores?
No entanto, menos de 1% de vocês contribuem. E isso é um problema.
A situação é a seguinte, precisamos arrecadar R$ 400.000 até o ano novo para manter nosso trabalho: expor a verdade e desafiar os poderosos.
Podemos contar com o seu apoio hoje?
(Sua doação será processada pela Doare, que nos ajuda a garantir uma experiência segura)
