O crescimento de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2025 confirma um cenário de perda de fôlego da economia brasileira, avalia o economista Daniel Conceição, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele afirmou que o resultado indica “uma estagnação”, apesar do acumulado do ano seguir próximo de 3%.
Segundo o professor, “a economia está perdendo um pouco do seu fôlego” devido a uma postura mais conservadora na política monetária e fiscal. “O governo tem como se fossem dois freios de mão puxados”, declarou. Conceição reforçou que o Banco Central continua com uma taxa de juros “bastante restritiva”, enquanto o arcabouço fiscal limita o uso do gasto público para estimular a economia.
Para ele, a junção desses dois fatores dificulta que a demanda avance e sustente o crescimento. “Ficamos um pouco sem esse motor, de onde tirar esse estímulo para seguir em expansão, criando empregos, crescendo”, apontou.
O economista defende que o combate à inflação não pode se apoiar apenas na política monetária restritiva. “A nossa inflação quase nunca é uma inflação que seria resolvida minimamente com política monetária”, argumentou. Para avançar, afirma, o Brasil precisa de investimentos que ampliem a capacidade produtiva. “Estamos fazendo o mínimo para continuar funcionando sem colapsar. Eu acho isso sempre muito pouco”, pontuou.
Tarifaço sem efeitos e demanda estagnada
Sobre o impacto do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o economista avaliou que o Brasil conseguiu mitigar os efeitos adversos, com a redução pontual das exportações, mas realizou compensações via novos parceiros comerciais e políticas de subsídio. “Não dá para colocarmos tanto a culpa no tarifaço”, opinou. Segundo ele, o maior entrave é interno.
Ao comentar a Selic mantida em 15%, Conceição relacionou o juro elevado ao enfraquecimento do consumo e do crédito. “O juro acaba restringindo gastos autônomos, porque o custo do financiamento fica mais caro”, explicou. Ele destaca que isso também inibe investimentos e reduz oportunidades de renda, gerando um efeito multiplicador negativo. “A demanda interna que parece estar estagnando”, observou.
Apesar de indicadores positivos como desemprego historicamente baixo, redução da extrema pobreza e aumento da massa salarial no governo atual, o professor alertou para a precariedade do mercado de trabalho. “A informalidade, a subocupação, a qualidade desse emprego está muito precarizado”, disse. Para o economista, esse “segundo nível” de melhora exige políticas públicas mais robustas. “Podemos ir além”, defendeu.
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
