O agronegócio brasileiro atravessa um período de maior pressão financeira em razão do atual nível da taxa básica de juros. Mesmo em um contexto de consumo moderado, câmbio relativamente estável e preços de alimentos em processo de acomodação, a Selic permanece elevada, afetando diretamente o custo do crédito rural e a rentabilidade das atividades no campo.
De acordo com análise do consultor financeiro e produtor rural Fabiano Tavares, o atual patamar de juros não está associado, principalmente, à inflação corrente, mas ao ambiente fiscal do país. Segundo ele, a percepção de risco em relação às contas públicas tem influenciado a política monetária e a precificação do crédito.
Na avaliação do especialista, fatores como déficits recorrentes, incertezas sobre o cumprimento das metas fiscais e a trajetória da dívida pública ampliam a cautela dos agentes econômicos. Esse cenário leva o Banco Central a manter uma postura mais conservadora, com juros elevados, como forma de preservar a estabilidade cambial e reduzir riscos inflacionários futuros.
O reflexo desse ambiente macroeconômico é sentido de forma mais intensa pelo setor produtivo. No campo, produtores relatam dificuldades no acesso ao crédito, aumento do custo financeiro das operações e redução das margens, especialmente em atividades com maior necessidade de capital de giro e financiamento de longo prazo.
Segundo Tavares, o impacto não está restrito a um segmento específico do agronegócio, atingindo desde a produção de grãos até a pecuária. A elevação dos encargos financeiros tem influenciado decisões de investimento, expansão de área e renovação de tecnologia, além de comprometer o planejamento das safras.
A análise também aponta diferenças no comportamento do sistema financeiro diante do cenário de juros altos. Enquanto grandes instituições tendem a manter resultados positivos, beneficiadas por spreads mais amplos, o crédito rural enfrenta maior seletividade, com elevação do risco percebido e restrições adicionais para produtores de menor porte.
Para o consultor, a redução estrutural dos juros depende de maior previsibilidade fiscal. Enquanto persistirem incertezas sobre a condução das contas públicas, a tendência é de manutenção de um ambiente financeiro mais restritivo, com efeitos diretos sobre o custo de produção e a competitividade do agronegócio brasileiro.
