Brasília (19/12/2025) – O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) determinou, por meio do Licenciamento Ambiental Federal (LAF), a proteção dos ninhos da espécie Harpia (Harpia harpyja) e o monitoramento de adultos e filhotes. A atividade ocorre na Área Diretamente Afetada (ADA) por empreendimentos de mineração da Vale S.A. inseridos nos mosaicos de Unidades de Conservação (UCs) em Carajás, no Pará.
- Macho de harpia adulto sobre galho da árvore que contém seu ninho com filhote – Fotos: Projeto Harpia
A harpia está classificada, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), como vulnerável: a espécie está em alto risco de extinção na natureza (tanto no Brasil quanto no restante do mundo). As principais ameaças identificadas incluem a perda de habitat devido à supressão de vegetação, caça e captura, rodovias, hidrelétricas e redes de transmissão. Na Amazônia de terras baixas (parte mais plana e baixa da região amazônica, fortemente influenciada pelos rios e pelas cheias.), último reduto das harpias, encontra-se mais de 90% da distribuição da espécie.
Devido a identificação de filhotes em locais previstos para supressão vegetal, o Ibama considerou urgente o estabelecimento de um protocolo de proteção e monitoramento destes filhotes e ninhos. O monitoramento de espécimes na região fornecerá o embasamento técnico-científico para as tomadas de decisão do Instituto.
Atualmente, ainda existem lacunas no conhecimento sobre o modo de vida da harpia e suas preferências por locais de nidificação no contexto das Unidades de Conservação. Também são escassas as referências sobre os impactos específicos da atividade de mineração e de estruturas associadas, como linhas de transmissão, sobre a espécie.

- Polígono de deslocamento na área de nidificação na Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri – Fotos: Projeto Harpia
Monitoramento dos ninhos
Com apoio da instituição Projeto Harpia, que atua na região desde 2007 em conjunto com ICMBio e com a Vale S.A, foi realizada a Oficina de Elaboração do Programa de Conservação da Harpia, em 2023. Na ocasião, a supressão de vegetação foi identificada como a principal ameaça à conservação da espécie no Mosaico de Carajás e seu entorno.
Dos nove ninhos identificados e analisados na região, a maioria apresentou preferência dos casais quanto ao uso de castanheiras (Bertholletia excelsa) na construção de ninhos e alta fidelidade ao território, reutilizando a mesma árvore ou local em diferentes ciclos reprodutivos, ou construindo ninhos alternativos a uma distância média de um quilômetro do ninho principal.
Dados de uma fêmea adulta equipada com GPS revelaram uma área de uso de 35,7 km² ao redor do ninho em sete meses, com deslocamentos máximos de até 5,69 km. Os filhotes monitorados demonstraram áreas de uso crescentes conforme a idade, chegando a 3,40 km² entre dois e dois anos e meio de idade. O filhote mais velho monitorado (cerca de dois anos e meio) ainda não havia se afastado das proximidades do ninho.
O Licenciamento Ambiental Federal (LAF), a partir das informações coletadas e entendendo que os dados ainda são insuficientes, passou a exigir que todas as licenças de mineração no Mosaico de Carajás incluam programas específicos para monitoramento e proteção das áreas de nidificação.
Nesse sentido, os empreendimentos minerários localizados em Serra Norte, em Igarapé Bahia e em Salobo estão obrigados a cumprir a medida, este último situado dentro da Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri, onde foi recentemente identificado um ninho que é monitorado diariamente, utilizando transmissores GPS e um sistema de vídeo em tempo real.
Sobre a harpia

- Filhote de harpia no ninho – Fotos: Projeto Harpia
A harpia, conhecida popularmente como gavião-real, uiraçu ou gavião-pega-nenê, é considerada a maior águia das Américas e a maior ave de rapina do Brasil. Os indivíduos adultos podem atingir 1,05 metro de comprimento, 2,1 metros de envergadura e pesar até 7 kg (fêmeas).
A espécie exerce papel fundamental no equilíbrio ecológico da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, uma vez que previne a superpopulação de suas presas — mamíferos arborícolas, como preguiças e macacos, além de outras aves. Além disso, é um bioindicador da integridade do ecossistema, visto que necessita de grandes áreas de floresta preservada para sobreviver.
A Harpia harpyja está presente do sul do México ao extremo nordeste da Argentina e Brasil, com estimativa de 18.311 indivíduos em território nacional.
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