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Lula recorre a Trump para tentar mostrar serviço numa área sensível

by admin

Desde meados do ano, Lula recuperava popularidade e abria vantagem nas pesquisas sobre a próxima corrida presidencial. Foi assim até a operação policial deflagrada no Rio de Janeiro para combater o Comando Vermelho, que devolveu o tema da segurança pública para o centro do noticiário e foi usada pela oposição para desgastar o governo petista.

Ordenada pelo governador Cláudio Castro (PL), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, a ação policial serviu para reanimar os presidenciáveis da direita e pressionar Lula, que perdeu alguns pontos de aprovação, conforme pesquisas recentes. Na AtlasIntel divulgada na terça-feira, 2, a desaprovação ao governo subiu para 50,7%, ante 48,1% em outubro. O levantamento também revelou um estreitamento da vantagem do presidente sobre rivais oposicionistas nas simulações de segundo turno.

Agenda espinhosa

Lula e o PT sempre tiveram dificuldade para apresentar um discurso e principalmente um programa para a área de segurança pública, mas não sofreram grandes prejuízos de imagem com o assunto enquanto ele ficou em segundo plano. Agora, no entanto, o desgaste está ocorrendo.

Foi por isso que o presidente apresentou um projeto para combater facções criminosas, destacou nas redes sociais operações contra o PCC com a participação da Polícia Federal e da Receita Federal e defendeu a votação da PEC da Segurança pelo Congresso. Ele quer mostrar serviço num tema que está no topo das preocupações do eleitorado.

Como essas iniciativas ainda não surtiram o efeito esperado pelo presidente, ele fez um gesto mais arrojado. Segundo seu próprio relato, Lula aproveitou uma nova conversa telefônica com Donald Trump para defender “urgência” na cooperação com os Estados Unidos para combater o crime organizado internacional.

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“Destaquei as recentes operações realizadas no Brasil pelo governo federal com vistas a asfixiar financeiramente o crime organizado e que identificaram ramificações que operam a partir do exterior”, publicou o presidente no Instagram, rede social em que tem mais de 14 milhões de seguidores. “O presidente Trump ressaltou total disposição em trabalhar junto com o Brasil”, completou Lula, que até pouco tempo atrás considerava o americano a personificação da ameaça à soberania nacional.

Química e lero-lero

A relação de Lula e Trump mudou depois que os dois se conheceram pessoalmente nos corredores da ONU e, conforme relato de ambos, tiveram uma química imediata. O tarifaço anunciado pelos Estados Unidos, por exemplo, foi reduzido. Na área externa, portanto, há avanços. O problema é na seara doméstica.

O plano do governo para a segurança pública vive sendo contestado — por petistas, internamente, e por potenciais aliados, publicamente. Em entrevista a O Globo, o vice-prefeito do Rio, Eduardo Cavaliere (PSD), chamou de “lero-lero” o discurso de Lula na segurança e disse que não há alinhamento automático com o presidente na próxima eleição.

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Cavaliere é braço direito de Eduardo Paes, candidato ao governo do Rio que Lula pretende apoiar — e de quem espera receber apoio. As declarações do vice-prefeito levaram José Dirceu a insinuar que o PT poderia lançar candidato próprio ao Palácio das Laranjeiras, o que teria um efeito danoso na campanha à reeleição do presidente.

“A hipótese de candidatura própria do PT no Rio de Janeiro não existe. Não vamos fragmentar o campo democrático. Quem investe nisso não tem responsabilidade com o momento histórico que o Brasil vive”, declarou Edinho Silva, presidente do partido, tentando colocar panos quentes na polêmica.

Escalado para a função justamente por ser da confiança de Lula e ter experiência como coordenador de campanhas presidenciais, Edinho ainda reforçou a promessa do governo de priorizar a segurança pública: “Sem asfixiar o crime bloqueando seus recursos, como fez o presidente Lula na operação Carbono Oculto (contra o PCC), você não impede que o dinheiro chegue para os criminosos”.

Em meio a tanta dificuldade, não custa apelar até para Trump, o farol do que a esquerda costuma chamar de extrema direita.

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