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Maconha pode tornar úteros ‘muito férteis’ — mas há um problema, diz estudo inédito

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Uma pesquisa inovadora publicada em setembro no periódico Nature Communications estuda a influência de substâncias presentes na cannabis — gênero de plantas que inclui as espécies Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis — na fertilidade.

Conduzida pela cientista Cyntia Duval, pesquisadora de Saúde da Mulher na Universidade de Toronto, no Canadá, em colaboração com uma clínica de fertilidade, o estudo envolveu observações de 1.059 mulheres cisgênero que passaram por tratamentos para engravidar — a fertilização in vitro (FIV) — entre 2016 e 2023.

De acordo com as análises, pelo menos 62 mulheres que passaram pelo tratamento apresentaram concentrações detectáveis de tetraidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo presente na cannabis, no seu fluido folicular, onde os óvulos amadurecem.

Maconha afeta a fertilidade

As mulheres em exposição ao THC tinham um número maior de óvulos em estágio “maduro” — aqueles prontos para serem fecundados — em relação às outras participantes da pesquisa, o que sugeria um efeito “positivo” da substância psicoativa sobre a fertilidade.

No entanto, um efeito surpreendente apareceu: ao submeter os óvulos a um processo de maturação artificial mediado pelo THC, a pesquisadora observou a frequência de uma “taxa elevada de erros na segregação cromossômica“, que ocorre durante a divisão celular e garante que cada célula nova gerada receba uma cópia correta do material genético.

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Isso significa que os óvulos expostos a THC tendiam a “errar” a divisão de cromossomos nas células, resultando em embriões “aneuploides” — que carregam um número anormal de cromossomos, divididos entre trissomias (cromossomos a mais) e monossomias (cromossomos a menos), e afetam o desenvolvimento genético do embrião na gravidez.

Ou seja, se o efeito do THC parece desenvolver mais rapidamente os óvulos, o que se traduz num efeito de maior “fertilidade” entre as mulheres, ele, no entanto, faz com que os embriões estejam mais sujeitos a erros genéticos, aumentando os riscos de aborto espontâneo e falhas durante a gravidez.

De acordo com o estudo, o sistema endocanabinoide — formado por receptores CB1 e CB2, que estão presentes em várias partes do corpo e desempenham papel crucial na ovulação — é diretamente afetado pelo THC. Ele se liga aos receptores e pode interferir em processos fisiológicos como a ovulação e a maturação dos óvulos.

“O consumo de THC pode afetar os receptores canabinoides no sistema reprodutivo. Muitos estudos relatam que o uso de cannabis diminui a contagem e a motilidade dos espermatozoides. Os homens geralmente são orientados a evitar o uso de cannabis por pelo menos três meses antes de tentar engravidar”, diz Duval à revista Science News.

A pesquisa dá um passo importante, agora, para entender como os efeitos da cannabis se dão especificamente sobre a reprodução feminina, que ainda sofre de lacunas em comparação às análises realizadas com pessoas do sexo masculino.

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