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Macron na China, Ucrânia em baixa

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Mas a esta altura, é um gesto pouco mais que protocolar. Diplomatas europeus em Pequim reconhecem que as chances de que o governo chinês se mexa para pressionar Moscou, que nunca foram altas, hoje é próxima de zero. Para a liderança em Pequim, o conflito na Ucrânia foi algo indesejável no início, mas tornou-se uma realidade que gerou benefícios para o país, a começar por ter tornado a Rússia dependente da China. De um lado, barateou as vendas de gás e petróleo da Rússia para o país; de outro, ampliou o mercado russo para produtos chineses de todo tipo, em substituição aos fabricados no Ocidente.

Com a volta de Donald Trump à Casa Branca, os europeus perderam o principal parceiro não apenas no suporte financeiro à defesa militar ucraniana contra a invasão russa — mas também na pressão política sobre a China para influenciar Moscou. O governo americano tem negociado o fim da guerra diretamente com o Kremlin, sem coordenar com os europeus e com o governo ucraniano. Sendo assim, os apelos europeus como o feito por Macron a Xi chegam ao destino completamente esvaziados.

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A ânsia de Trump em ganhar crédito pelo fim da guerra, custe o que custar, também esvaziou a proposta articulada no ano passado por Brasil e China, centrada num cessar-fogo seguido de negociações diretas, e também do chamado “Grupo de Amigos da Paz” liderado pelos dois países. Melhor para a China, comenta um diplomata próximo do assunto. Afinal, observa ele, ao contrário de Trump, os chineses não querem protagonismo nessa guerra.

Segundo um diplomata europeu em Pequim, os chineses reagem com impaciência quando cobrados para tentar conter os russos — “já não aguentam mais ouvir o mesmo pedido”, diz ele. É o desgaste causado pela guerra à imagem da China, que é responsabilizada por manter a máquina de guerra russa andando, já que sem o elo econômico entre os dois países seria muito difícil para Moscou continuar sua ofensiva na Ucrânia.

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Os europeus devolvem fazendo uma analogia com uma questão crítica para Pequim: Taiwan, a ilha governada de forma autônoma que os chineses consideram parte de seu território, a ser reunificado em algum momento. Se Taiwan é um tema central para a China, “a guerra na Ucrânia é uma questão existencial para a Europa”, explica o diplomata europeu. Em sua última visita à China, em 2023, Macron foi alvo de críticas na França ao dizer que a Europa deveria manter distância dos EUA em relação a Taiwan. Mas saiu com um acordo para a expansão da linha de produção da Airbus na China.

Até agora, a reação do governo chinês ao “plano de paz” americano para a Ucrânia foi discreta, o que é interpretado por diplomatas europeus como um aval tácito. Quase quatro anos depoi s do início da guerra, a “parceria sem limites” entre a China e a Rússia parece inabalada. Na última terça, o chanceler chinês, Wang Yi, esteve em Moscou para mais uma rodada das “consultas de segurança” entre os dois países. Foi no mesmo dia em que estavam na cidade os negociadores de Trump, Steve Witkoff e o “primeiro-genro”, Jared Kushner.

Além de Trump, o que tem enfraquecido a posição europeia é o lobby das empresas do continente que tem negócios na China. Dependentes do mercado chinês ou de insumos processados no país, muitas empresas europeias preferem que não haja interferência de desavenças geopolíticas. Desanimado, o embaixador em Pequim de um país europeu diz que em décadas de carreira diplomática nunca havia testemunhado uma distância tão grande entre os interesses das empresas e o interesse nacional.

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Na próxima segunda chega à China o chanceler da Alemanha, Johann Wadephul. Sua agenda certamente inclui o pedido habitual, para que Pequim bote pressão sobre Moscou. Mas os temas econômicos estão competindo pelo topo da lista de prioridades. Na quarta-feira, a Comissão Europeia anunciou sua nova doutrina econômica para se proteger de ameaças externas. Um dos principais objetivos é reduzir a dependência da China em vários setores, sobretudo no fornecimento de matérias-primas críticas.

Ampliar a estratégia conhecida como “de-risking”, ou seja, afastar os riscos da relação com a China, é uma tarefa árdua, depois de anos de aprofundamento nas cadeias de produção. Numa pesquisa recente da Câmara de Comércio Alemã na China, 56% dos empresários consultados disse que planeja aumentar os negócios no país. É um momento delicado, em que as relações de Pequim com a União Europeia chegaram a um ponto baixo.

O continente agora se vê num “crise tripla”, conforme a definição esboçada pelo diplomata de um país da UE, diante da dificuldade em romper as dependências criadas nas últimas décadas, e que agora se tornaram um risco. Primeiro, no setor energético, após a ruptura com a Rússia. Em seguida vem a insegurança econômica, devido à crescente rivalidade com a China. E, por fim, o abalo mais inesperado foi na aliança de defesa com os Estados Unidos, após o retorno de Donald Trump.

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