Malu Gaspar voltou ao tema das supostas conversas entre o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e Gabriel Galípolo, do Banco Central, em torno do Banco Master.
“Enquanto salvava a democracia, Moraes se movimentava no coração do poder de uma forma que não é preciso código de ética para considerar imprópria. O contrato de sua mulher foi fechado em janeiro de 2024 e continuava válido em julho de 2025, quando Moraes esteve com o presidente do BC”, escreve ela.
Alguns trechos:
Uma vez que as conversas foram reveladas, Moraes disse que se reuniu, sim, com Galípolo, mas não falou sobre o Master, só sobre as sanções da Magnitsky aplicadas pelos Estados Unidos contra ele. Fez o mesmo que o colega Dias Toffoli — este viajou no jato de um empresário a Lima com o advogado de um réu do caso Master no mesmo dia em que chamou para si o controle da investigação sobre o banco e decretou sigilo máximo sobre o caso — mas garante que não conversou sobre o assunto com o vizinho de poltrona, só mesmo sobre o jogo do Palmeiras a que assistiriam.
Galípolo, que andava assertivo, dizendo estar à disposição do Supremo e de Toffoli para todos os esclarecimentos e afirmando ter documentado todos os contatos, mensagens e discussões a respeito do Master, passou a adotar um comportamento errático.
Primeiro, negou “em off” a alguns veículos ter sido pressionado, mas admitiu que, nas conversas com Moraes, se falou sobre o caso Master. Procurou jornalistas para afirmar não ter sido pressionado, mas pediu que não publicassem ter dito isso. Mas se não houve pressão, por que não dizer em público, alto e bom som? (…)
Os esclarecimentos que nada esclarecem imediatamente passaram a servir de munição ao Fla-Flu das redes, dando aos “mitodependentes” combustível para recorrer ao velho argumento da perseguição e das fake news contra o herói da democracia. Não faltou quem argumentasse haver uma campanha de ataques contra Moraes, orquestrada pelo bolsonarismo e/ou pelo “lavajatismo”.
A Lava-Jato acabou em descrédito e foi completamente desmontada em razão das mensagens mostrando que Moro cruzou o balcão para orientar o Ministério Público nas ações contra o megaesquema de corrupção montado no governo Lula. Sob essa régua, como classificar as atitudes de Moraes e Toffoli?
A investigação sobre as fraudes que avalizaram a cessão de créditos no valor de R$ 12,2 bilhões pelo Master ao BRB, embora tutelada por Toffoli, continua. O processo de liquidação do banco está em curso e, se for sério, fará o escrutínio de todos os contratos e pagamentos, incluindo os R$ 500 milhões a consultorias e escritórios de advocacia que o Master informou no balanço de 2024.
O conteúdo do telefone celular de Vorcaro, apreendido no dia em que ele e outros cinco acusados foram presos, também está trancafiado em diferentes versões e locais. Pode nunca vir à tona, mas permanecerá como fantasma sobre todos os que, de alguma forma, se envolveram nos rolos do Master.
Nesse contexto, o ideal seria que tudo fosse apurado e exposto à sociedade. Não é o que se desenha, a julgar pela reação dos envolvidos e pelo silêncio dos que deveriam agir — aí, sim — pelo fortalecimento da nossa democracia. O mais provável é que toda essa história acabe tragada pela dinâmica da polarização e pela disputa eleitoral de 2026, para depois ser soterrada por algum outro escândalo mais picante.
Independentemente do que aconteça, duas lições estão evidentes para quem quiser aprender. A primeira é que cada um pode acreditar no que melhor lhe aprouver, mas crenças ideológicas nunca foram capazes de apagar os fatos. A segunda: numa sociedade que idolatra heróis (ou mitos) e despreza instituições, a democracia sempre estará em xeque. Preservá-la é a missão não de falsos heróis, mas de uma sociedade inteira.
