Após uma mobilização nacional contra o feminicídio, o Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (8) recebeu a ativista, ex-deputada federal e pré-candidata ao Senado Manuela d’Ávila (PSOL) para debater sobre o cenário violento que se perpetua contra as mulheres no país. A ex-deputada destacou que o combate à violência contra a mulher exige um conjunto de medidas que devem ter o objetivo não só de acabar com o feminicídio, mas também com as diversas violência que acontecem no cotidiano das mulheres.
“Não existe solução simples para um problema que é complexo. De um lado, nós ainda lutamos para efetivação das medidas previstas na lei Maria da Penha”, lamenta Manuela. Ela afirma que é preciso, por exemplo, além de leis para punir agressores e assassinos, de estruturas de acolhimento às mulheres vítimas de violência de forma descentralizada e tornozeleiras eletrônicas em homens que cumprem medida protetiva.
“Veja o exemplo da Casa da Mulher Brasileira. Foi feito um levantamento aqui no Rio Grande do Sul, naquele final de semana sangrento da Páscoa, que as mulheres que morreram teriam que caminhar pelo menos 80 km para chegar a um local de acolhimento. Isso dá conta um pouco do desafio que é colocar a descentralização desses espaços de acolhimento adequado para mulheres”, diz Manuela.
A ex-deputada também pontua que as tornozeleira e delegacias resolvem violências que já aconteceram, e que é preciso medidas que possam evitar que agressões e assassinatos ocorram.
“Nós já sabemos que até chegar no feminicídio, nós temos um conjunto de violências que atingem essas mulheres. Então, o feminicídio não é um primeiro ato de violência. O feminicídio é o último ato de uma violência que acontece no cotidiano de mulheres e meninas desde a mais tenra idade.”
“Se a gente desconecta essas outras violências do feminicídio, nós não chegamos em lugar nenhum”, acrescenta Manuela.
A ausência de homens no debate
Manuela também chamou atenção para a ausência de homens nos debates sobre a violência contra a mulher. Ela citou, como exemplo, os atos realizados em Porto Alegre nesta última semana, que reuniram centenas de mulheres e no máximo uma dezena de homens. A ex-deputada diz que provocou a plateia sobre o motivo pelo qual os homens não estavam presentes.
“Nós estávamos falando de algum assunto que era exclusivo nosso? Nós queríamos um ambiente seguro para compartilhar as nossas experiências de violência sexual? Não, os homens não estavam nos ouvindo debater os temas relevantes, porque eles julgam que quando nós falamos, nós falamos sobre parte da sociedade, sobre nós mesmas. Nós não somos interlocutoras capazes de falar aos olhos desses homens”, afirma.
“Basta que a mesa seja composta por mulheres que eles deduzem que esse assunto não diz respeito a eles. E quer saber, em última instância, é isso que faz o feminicídio ser tão grande no Brasil”, complementa Manuela.
Ela lamenta que, diante dos olhos de uma “imensa maioria de homens”, as mulheres não podem ser interlocutoras de uma agenda para o país em qualquer área importante. Manuela reforça que para combater a violência contra a mulher, é preciso entender que no centro dos feminicídios está uma cultura que cala mulheres e gosta apenas de homens.
Manuela ainda critica os debates sobre o futuro da esquerda no Brasil ao ver que são compostos, em sua maioria, por homens falando sobre as coisas deles e “excluindo as coisas importantes importantes para a maior parte do povo: creche, posto de saúde e problemas do cotidiano”. “Porque o cotidiano é tocado por mulheres na base da sociedade”, afirma a ex-deputada.
Candidatura ao Senado
Em relação à sua candidatura ao Senado, Manuela afirmou que sua campanha, assim com as de 2018 e 2020, terá o objetivo de mostrar que as mulheres têm agendas que dão conta de problemas da sociedade no geral, e que quem defende a “agenda de parte”, na verdade, são os homens, ao não colocarem no centro da disputa o mundo do trabalho e o tema das creches, por exemplo.
“Então, o nosso ponto de largada, que é a construção de uma agenda política que escute o que as mulheres têm a dizer, é justamente aquilo que pode aproximar o que nós conseguimos acumular como campo de esquerda no Rio Grande do Sul”, afirma Manuela.
“Como é que a gente vai construir a agenda de Segurança Pública se nós não ouvirmos quem vive o cotidiano das comunidades, quem deixa de ir para o trabalho, para a escola ou ao posto de saúde? Como é que a gente vai construir agenda de redução da jornada de trabalho, fazendo de conta que o fim da jornada 6×1 é igual para todo mundo? Não é. As mulheres trabalhadoras no 1 do 6×1 estão lavando roupa em casa, estão cozinhando a marmita da semana, estão preparando caderno de filho para apresentar para professora”, destaca a ex-deputada.
Confira a entrevista completa de Manuela d’Ávila ao Fórum Onze e Meia
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