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Depois de mais de um ano na clandestinidade, María Corina Machado reapareceu na sexta-feira em Oslo, onde era esperada para a cerimónia do Prémio Nobel, mas não chegou a tempo de receber o Prémio da Paz que lhe foi atribuído em outubro.
A líder da oposição, que vive escondida na Venezuela para evitar ser presa, surgiu na varanda do Grand Hotel pouco antes da meia-noite. Cansada mas sorridente, saudou os seus seguidores e cantou o hino nacional com a mão no peito, enquanto dezenas de venezuelanos a gravavam com os seus telemóveis, entre gritos de “viva!
Depois desta saudação inesperada, Machado desceu à rua e aproximou-se dos que a esperavam atrás das vedações instaladas pela polícia norueguesa. Em várias ocasiões, subiu para apertar as mãos, mandar beijos e abraçar os presentes. Embora não tenha discursado, o seu gesto de agradecimento com as duas mãos foi repetido vezes sem conta. Está previsto que nas próximas horas participe numa conferência de imprensa juntamente com o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre.
A cena surpreendeu até o presidente do Comité Nobel norueguês, Jørgen Watne Frydnes, que minutos antes tinha anunciado que não haveria encontro com o público porque Machado queria primeiro encontrar-se com a sua família, que não via há dois anos. No aeroporto de Gardermoen, esperavam por ela os seus três filhos, a sua irmã e a sua mãe. A sua filha Ana Corina Sosa foi quem recebeu o Prémio Nobel da Paz em seu nome e leu o discurso de aceitação.
Uma partida arriscada para Curaçao
A chegada de Machado a Oslo foi o fim de uma viagem complexa. De acordo com o Wall Street Journal, o líder da oposição deixou a Venezuela de barco em direção a Curaçao, a menos de 80 quilómetros da costa venezuelana. A viagem, feita em segredo, sofreu atrasos e obrigou ao adiamento do seu plano inicial de aterrar na Noruega no dia da cerimónia do Nobel.
As dificuldades em sair do país e a incerteza quanto à possibilidade de regressar fazem temer um exílio forçado. Apesar disso, Machado reiterou que regressará “muito em breve” à Venezuela. Durante a cerimónia, a sua filha leu um discurso em que a líder da oposição prometeu que o país “voltará a respirar” e garantiu que, assim que houver uma mudança de governo, “as portas das prisões” serão abertas para libertar os presos políticos.
Os Estados Unidos também entraram em cena, quando o presidente Donald Trump avisou que “não gostaria” que Machado fosse presa, embora tenha reconhecido que não sabia se Caracas estava a planear proceder à sua detenção.
Caracas rejeita o Nobel: um prémio “manchado de sangue”.
O governo de Nicolás Maduro reagiu com dureza ao anúncio do Prémio Nobel da Paz. A vice-presidente Delcy Rodríguez qualificou o prémio de “prémio manchado de sangue” e afirmou que a cerimónia em Oslo foi um “velório” e um “fracasso total” devido à ausência de Machado.
Rodríguez afirmou que a líder da oposição não compareceu por “medo” e sublinhou que na Noruega houve protestos contra o prémio, devido ao facto de a líder da oposição ainda não ter condenado os ataques extrajudiciais dos Estados Unidos contra alegados traficantes de droga nas águas das Caraíbas.
Criticou também a presença de líderes internacionais que, segundo ela, “levantaram a mão a favor do genocídio contra o povo palestiniano”. O governo venezuelano afirma que o Prémio Nobel está “desacreditado” e acusa o comité norueguês de se alinhar com os adversários políticos de Maduro.
Caracas denuncia “roubo flagrante” após apreensão de petroleiro
O Dia do Nobel foi também marcado por um novo confronto entre Washington e Caracas. O governo venezuelano qualificou de “roubo descarado” a apreensão de um petroleiro ao largo da sua costa pelos Estados Unidos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros garantiu que Washington cometeu um “grave crime internacional” e anunciou que vai levar o caso às instâncias internacionais.
O presidente Trump disse que o navio é “o maior já apreendido” e relacionou-o com as sanções contra a Venezuela. De acordo com a Bloomberg, trata-se de um petroleiro anteriormente sancionado por Washington. A operação poderá dificultar ainda mais as exportações de crude venezuelano, numa altura de tensão bilateral acrescida.
Caracas considera que este episódio se junta ao “roubo” da Citgo e inscreve-o numa escalada que inclui ameaças militares diretas. Maduro pediu aos seus seguidores para estarem prontos a “partir os dentes” aos Estados Unidos, se necessário, ao mesmo tempo que acusou a administração Trump de planear uma agressão nas Caraíbas.
