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MBL traz ao Brasil um dos ideólogos mais radicais da extrema direita dos EUA

by admin

Por Heloisa Villela

No último dia 29, o MBL recebeu, com todas as honrarias, na convenção nacional que lançou o recém criado Partido Missão, o americano Curtis Yarvin. Nome de destaque do encontro, o blogueiro que começou a vida como engenheiro de computação, é uma das vozes mais conhecidas e influentes no mundo da extrema direita dos Estados Unidos.

Extrema de verdade. Yarvin diz que a democracia estadunidense deve ser substituída por uma “monarquia”, administrada por um CEO. Uma forma menos assustadora de dizer ditador. Ele também aponta as universidades e a mídia como inimigos fundamentais do futuro do país. Lá e cá, há muitas semelhanças com o grupo que ficou conhecido no Brasil por invadir salas de aula e campus universitários para gravar e ameaçar professores alunos.

A vereadora paulista Amanda Vettorazzo, do MBL e eleita pelo União Brasil, ao lado de Curtis Yarvin

Na foto acima, publicada em suas redes sociais, a vereadora paulista Amanda Vettorazzo, do MBL e eleita pelo União Brasil, posou ao lado do guru dos extremistas e agradeceu a presença dele no gabinete — em português e inglês. Renato “Impera”, um dos representantes da ala mais radical desse grupo que se intitula neoconservador, também tirou foto ao lado do ídolo e publicou na internet.

 

Renato “Impera” ao lado do guru da extrema-direita

Orlando Lima não deixou por menos. Colunista da revista do MBL, a Valete, e um dos fundadores do MBL e do partido Missão, ele igualmente fez questão de registrar o momento.

Orlando Lima, colunista da revista e um dos fundadores do MBL, ao lado de Curtis Yarvin

A mente por trás das ideias radicais

Mas quem é Curtis Yarvin e por que o tratamento VIP oferecido a ele em São Paulo pela turma do MBL/Missão deve preocupar os brasileiros? Yarvin é conhecido como um dos pensadores que tem mais influência sobre o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e de outros nomes graúdos do movimento MAGA, ligado a Donald Trump. Para ele, a democracia liberal é um inimigo decadente que precisa ser destruído.

Em junho deste ano, a revista The New Yorker publicou um perfil de Yarvin e contou que ele surgiu na internet com um pseudônimo para divulgar teorias que, nos idos de 2008, eram consideradas totalmente absurdas e descabidas. Hoje, essas mesmas ideias formatam o pensamento de gente poderosa.

No verão de 2008, o então blogueiro publicou um manifesto assinado pelo nome fictício de Mencius Moldburg. Sob o título “Carta Aberta aos Progressistas de Mente Aberta”, apresentava o diagnóstico e os supostos remédios para as mazelas do país.

Ele diz que o igualitarismo é o problema central da sociedade, e os cidadãos só pensam diferente porque são influenciados pela mídia e pelas universidades, que, segundo ele, trabalham para perpetuar um consenso liberal de esquerda.

No manifesto, Yarnin — ainda sob o pseudônimo —, batizou essa “aliança” entre mídia e academia de Catedral. E ofereceu o remédio: acabar de uma vez por todas com a democracia e a Constituição. O poder, segundo ele, deveria ser entregue a um empresário que dirigisse o país como o CEO de uma empresa, transformando-o o em “uma corporação ultra lucrativa e fortemente armada”.

O novo regime, segue a pregação, acabaria com as universidades e a imprensa logo de início, mas também venderia as escolas pública e eliminaria a maior parte dos servidores públicos. É, em boa parte, o que já está acontecendo nos Estados Unidos de Donald Trump. E foi esse o “teórico” escolhido como convidado de honra para a primeira convenção do recém-criado Partido Missão.

Não é de se estranhar, então, o estrago que Trump está colocando em marcha nos Estados Unidos. Neste segundo mandato, em apenas um ano de governo, ele desmantelou agências reguladoras, desmobilizou o que já foi o maior centro de pesquisas biomédicas do mundo, o NIH (National Institutes of Health), e cumpriu a promessa de reduzir o Estado ao máximo. A velha pregação de que quanto menos Estado, melhor.

O guru da nova extrema direita do MBL/Missão não inventou nada, apenas radicalizou. Assim como Curtis Yarvin, está reempacotando ideias antigas, reacionarismos passados que não desaparecem. Mas o americano não fica só nisso. Badalado nas mídias radicais de direita, que não se cansam de demonizar a academia, ele é o criador de um movimento às vezes chamado de “iluminismo escuro”.

Segundo uma reportagem do jornal britânico The Guardian, durante anos Yarvin defendeu ideias antidemocráticas, como a de que a república autogovernada já acabou e que o poder real é exercido, de forma oligárquica, por um pequeno número de instituições acadêmicas e de mídia de prestígio.

Na convenção do MBL/Missão, Curtis Yarvin fez um discurso. Disse pouco, mas conseguiu, mesmo em apenas seis minutos, dar uma pequena amostra do que pensa. Afirmou que os brasileiros precisam parar de seguir as ideias que chegam dos Estados Unidos como, por exemplo, a luta por igualdade racial e reparação. Nada de cotas e combate ao racismo. “Ninguém aqui deveria ter que dizer qual é a cor da pele que tem para entrar em uma universidade”, afirmou.

Peter Thiel, nome pouco conhecido dos brasileiros, foi um dos maiores doadores da campanha de Donald Trump. Cofundador do PayPal e da Palantir Technologies, ele é um ultraconservador com interesses no Brasil e, segundo o jornal The New York Times (NYT), considera Yarvin um historiador poderoso e investiu em uma empresa do guru direitista. Pessoas como ele viviam nas sombras, nos recantos mais escondidos da internet. Hoje, se tornaram visíveis e influentes com a volta de Donald Trump à Casa Branca.

O NYT tentou fazer uma entrevista com Yarvin em janeiro deste ano. O jornal, que o guru moderninho diz que tem que acabar, definiu o pretenso intelectual como alguém que, para seus seguidores, serve de referência para entender a história, mas que para os críticos, mistura e distorce, além de simplificar grosseiramente os acontecimentos e oferecer interpretação pessoal como fatos.

Na postagem de Benjamin Pontes, assessor do deputado estadual Guto Zacarias, a participação de Curtis Yarvin no evento foi motivo de comemoração. “As próximas décadas serão demais”, afirmou. Um aviso, ou alerta, importante.

Publicação nas redes sociais de Beijamin Pontes



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