A 16ª edição da feira estadual Cícero Guedes, no Rio de Janeiro, foi palco de uma homenagem póstuma à Eunice Paiva, ativista pelos direitos humanos, que teve atuação importante contra a ditadura militar. Ela foi viúva do então deputado Rubens Paiva, assassinado nos porões do DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Após o desaparecimento do marido, Paiva começa uma longa jornada de luta por justiça registrada no filme Ainda Estou Aqui, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. E foi apenas em janeiro deste ano que a certidão de óbito de Rubens Paiva foi corrigida para o reconhecimento de que sua morte foi violenta e de responsabilidade do estado.
A Medalha Pedro Ernesto, maior honraria do legislativo carioca, foi entregue a Chico Rubens Paiva na solenidade “Defender a Memória é Alimentar a Utopia”. Em fala durante a cerimônia, o neto do casal celebrou a luta por justiça do passado e do presente. “Ter mulheres eleitas democraticamente fazendo essa homenagem em praça pública mostra a evolução que a gente teve nas últimas décadas. A prisão e o assassinato do meu avô e outros companheiros não se deram no vácuo e sim pelo o que eles defendiam. Meu avô defendia a reforma agrária e as reformas de base e, por isso, ele foi morto. As lutas de Eunice e Rubens são as mesmas do MST, do movimento negro, da juventude e quanto mais a gente se une, mais a gente se fortalece. Enquanto for necessário, vocês podem contar com nossa família. Enquanto for necessário, nós estaremos aqui”, disse.
A homenagem é uma iniciativa da vereadora Maíra do MST (PT) e ocorre no contexto da aprovação da Lei nº 9.192, que cria o Programa Memória, Verdade e Justiça Carioca no município do Rio. A partir de agora, o Poder Executivo terá de identificar publicamente os locais onde houve repressão política, sequestros, torturas, desaparecimentos forçados, assassinatos e ocultação de cadáveres durante a ditadura. A lei foi sancionada pelo prefeito Eduardo Paes neste 8 de dezembro, dia anterior à homenagem.
“Quero expressar a felicidade imensa do nosso mandato de fazer essa homenagem justamente durante a realização da 16ª Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes porque isso significa conectar os fios que o capitalismo tenta desconectar, que é a luta pela terra e por memória, verdade e justiça. A luta por democracia não é algo do passado, é uma batalha que a gente trava no presente para honrar aqueles que tombaram e também criticar a manutenção da Polícia Militar, que continua matando e torturando pessoas nas favelas e periferias”, disse a vereadora.
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Já a deputada Marina do MST (PT) destacou a importância do papel do legislativo para as lutas. “Quero destacar a importância de levar pra dentro da institucionalidade as lutas sociais e históricas que se conectam com as lutas da sociedade brasileira e fluminense. Esse ato feito no meio da praça é tão importante quanto fazer dentro do Palácio Pedro Ernesto. O plenário da Câmara Municipal do Rio está acontecendo aqui no meio do povo e esse é o melhor reconhecimento que a Eunice poderia ter”, disse a deputada Marina do MST (PT).
Presente na cerimônia, a dirigente nacional do MST, Eró Silva, relacionou a reforma agrária popular a continuidade da luta por reparação. “O debate da reforma agrária popular também é um debate sobre reparação histórica e todos os dias a gente tem que lembrar disso para não repetir os mesmos erros do passado”, afirmou.
Já Felipe Lott, integrante dos coletivos RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação e Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça, destacou o protagonismo dos camponeses e dos indígenas na luta contra a repressão política. “A gente faz questão de lembrar os 1.200 camponeses mortos e mais de 8 mil indígenas assassinados na ditadura porque muitas vezes eles sofrem um processo de apagamento na história”, enfatizou Lott.
