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Uma pesquisa conduzida no Laboratório de Astrobiologia do Instituto de Química da USP reforça a ideia de que antigos lagos de Marte poderiam ter oferecido condições favoráveis à vida. O estudo, publicado na revista Astrobiology, investigou como íons de ferro presentes na água marciana seriam capazes de bloquear a intensa radiação ultravioleta que atinge o planeta.
A equipe avaliou o comportamento da levedura Saccharomyces boulardi, escolhida por sua sensibilidade ao ultravioleta e resistência à acidez. Em laboratório, os pesquisadores expuseram amostras a diferentes concentrações de ferro e a níveis crescentes de radiação. Os resultados indicaram que mesmo quantidades baixas de Fe³? conseguem absorver parte significativa do ultravioleta tipo C, permitindo que os microrganismos mantenham taxas de sobrevivência compatíveis com ambientes habitáveis.
Modelagem de sobrevivência e implicações para Marte
A partir dos experimentos, os cientistas desenvolveram um modelo capaz de simular cenários variados de radiação e concentração de ferro. O ajuste entre previsões e dados experimentais permitiu estimar profundidades mínimas de habitabilidade em lagos marcianos: cerca de 1 centímetro para a levedura testada e aproximadamente 1 metro para a bactéria Acidithiobacillus ferrooxidans, amplamente estudada no contexto marciano.
Essas projeções se conectam a evidências geológicas encontradas por missões atuais, como a exploração da cratera Jezero pelo jipe Perseverance. Minerais como jarosita, associados a ambientes aquosos e ácidos, sugerem que Marte já abrigou lagos ricos em ferro há mais de 3 bilhões de anos, quando o planeta ainda preservava parte significativa de sua atmosfera.
O trabalho também foi destacado por especialistas. Pesquisadores nacionais e internacionais apontaram que o estudo amplia a compreensão dos limites da vida em ambientes extremos e fortalece o papel do Brasil na pesquisa astrobiológica. A equipe do AstroLab lembra que o foco em organismos resistentes ao ultravioleta ajuda a interpretar tanto regiões da alta atmosfera terrestre quanto possíveis nichos microbianos fora da Terra.
Assinado por cientistas da USP, UEL, UFScar e Unip, o estudo reforça a hipótese de que antigos lagos marcianos poderiam não só ter existido, mas favorecido a sobrevivência microbiana mesmo sob radiação severa.
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