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Sempre que um novo ciclo político se aproxima ou que uma polêmica se instala em Brasília, vejo uma legião de investidores, principalmente os pequenos, morder a isca e entrar nos debates, comprar brigas e entrar no modo ativista.
É o clássico comportamento de “torcida”: uns celebram, outros lamentam, mas quase todos cometem o erro fatal de tentar ajustar a sua carteira de investimentos com base no “ruído” do momento e da percepção que “o seu lado” tem do cenário.
Serei direto contigo: os governos mudam a cada quatro anos, mas as grandes empresas permanecem. Se você realmente tem foco na construção de patrimônio para buscar sua independência financeira através dos investimentos, precisa aprender a desviar dos ruídos e focar no que realmente importa.
O ruído político é uma distração muito cara
O grande problema de investir com “paixão” política é que, no mercado financeiro, quem se move por emoções ideológicas acaba invariavelmente por servir de “boi de piranha”. Enquanto o pequeno investidor discute a última declaração polêmica nas redes sociais, os grandes players estão olhando para o fluxo de caixa, para a margem Ebitda e para a resiliência dos modelos de negócio.
As polêmicas passam, as empresas ficam. E mais do que isso: as empresas de qualidade legislam, muitas vezes, em causa própria ou adaptam-se com uma agilidade que o investidor comum ignora.
Um estudo relevante da Purdue University, EUA, publicado pela professora Kateryna Holland, analisou décadas de dados sobre o investimento governamental em empresas e concluiu que, embora a influência política possa gerar incerteza a curto prazo, o que realmente sustenta o valor de uma empresa no longo prazo são os seus objetivos financeiros e não as agendas políticas.
O mercado é pragmático. Se uma empresa é eficiente, ela vai encontrar formas de lucrar, independentemente de quem ocupe a cadeira presidencial e também do que você pensa sobre ela.
A sobrevivência das empresas aos ciclos
Muitos investidores acreditam que um governo “X” será o fim do mercado, enquanto o governo “Y” será o paraíso. A história desmente essa visão simplista. Se olharmos para o índice S&P 500 ou para o Ibovespa em janelas de 20 ou 30 anos, veremos que a tendência de crescimento das empresas sólidas ignora as alternâncias de poder.
Dados de um relatório da Gestora Commonfund, de Connecticut, EUA, indicam que o desempenho dos mercados está muito mais correlacionado com o crescimento econômico e avanços tecnológicos do que com o partido que detém o controle executivo. O progresso humano e a eficiência empresarial são forças muito mais poderosas do que quaisquer mandatos políticos temporários.
Ao investir, por exemplo, em empresas como a Weg, a Vale, Itaú, ou Alpargatas (só para não deixar de mencionar a polêmica da vez) você está adquirindo a capacidade de execução de milhares de profissionais qualificados que trabalham para gerar lucro sob qualquer regime tributário ou regulatório. Elas ajustam preços, cortam custos e encontram novos mercados.
As decisões de gestão financeira ou jurídica dessas empresas não se pautam pelo que está bombando nas redes sociais ou pelas paixões políticas que mobilizam A ou B, mas sim, pelo que irá otimizar o negócio e gerar resultado para o acionista, independente do contexto.
O risco de ser um “Experimento Social”
Quando o pequeno investidor entra na onda das pautas ideológicas para decidir onde colocar o seu dinheiro, ele torna-se um experimento social de quem detém a informação privilegiada. A “meia dúzia” que realmente se beneficia das oscilações políticas ou das polêmicas são aqueles que operam no curtíssimo prazo com informações que o investidor comum não tem acesso.
Focar em fundamentos é a única forma de não ser manipulado. Analisar se a empresa é lucrativa, se tem baixo endividamento, se tem vantagens competitivas em seu segmento e se entrega dividendos consistentes é o que te protege e garante vida longa aos seus investimentos.
O NBER (National Bureau of Economic Research), instituto independente estadunidense que mantém dados sobre ciclos econômicos desde 1920, publicou recentemente um estudo sobre a “dança entre governos e investidores privados” reforçando que investidores privados de sucesso são aqueles que mantêm os seus investimentos alinhados com o sucesso do negócio, e não com promessas políticas que, como sabemos, muitas vezes se revelam “palavras vazias” após as eleições.
Investimento de longo prazo atravessa governos
O meu convite para você que anda tentado a opinar sobre polêmicas vazias é: desliga a televisão, esquece as fofocas das redes sociais e abre o balanço de alguma empresa na qual esteja pensando em investir. Leia, se tiver dúvidas, mande perguntas ao RI da empresa – eles sempre respondem. Aprenda sobre o que tem potencial para mudar sua vida para melhor e não sobre quem é melhor no bate boca das redes, porque isso não pagará sua aposentadoria.
As crises vêm e vão, poder político muda de mãos e se alterna entre ideologias à direita ou à esquerda, polêmicas e disputas de narrativa pipocam toda semana. Entretanto, a única coisa que contribui para seu crescimento em todos os campos da vida é ter autonomia, poder de escolha. E isso você só conquista através da posse de ativos reais que resolvem problemas reais da sociedade.
O investidor que se move por polêmicas é um amador condenado à mediocridade. O investidor que foca em fundamentos é aquele que, daqui a dez anos, irá colher os frutos da sua resiliência enquanto os “torcedores” ainda estarão à procura do próximo culpado para o seu fracasso financeiro.
Mantenha seu foco naquilo que você controla, estude e escolha suas ações de empresas como quem escolhe sócios de vida: pela competência, não pela ideologia. É assim que se constrói riqueza de verdade.
