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O plano de potências europeias para superar a dependência energética

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Até o fim da década, a União Europeia quer atingir a meta de instalar até 60 milhões de bombas de calor, segundo projeções da Comissão Europeia.

As bombas de calor, sistemas que transferem calor de um ambiente a outro, em vez de gerá-lo por meio da queima de combustíveis fósseis, usam eletricidade para captar o calor do ar, do solo ou da água, mesmo em temperaturas muito baixas, e o direcionam ao aquecimento de edifícios, da água ou de processos de produção industrial.

Como alternativa à forte dependência das importações de gás natural liquefeito (GNL) — cujo principal fornecedor europeu foi a Rússia, responsável por até 45% do mercado até 2021 por meio de sua infraestrutura de gasodutos —, esses dispositivos vêm sendo implementados por grandes indústrias, como BASF, Siemens Energy e MAN Energy Solutions, que instalam sistemas industriais e públicos de aquecimento em larga escala.

Atualmente, a Europa conta com cerca de 26 milhões de bombas de calor instaladas, segundo a Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA). Elas substituem o consumo aproximado de 5,5 bilhões de metros cúbicos de gás por ano e reduzem em cerca de 45 milhões de toneladas as emissões de dióxido de carbono geradas pela queima do gás, o equivalente a quase 5% das emissões totais dos edifícios da União Europeia.

De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), as bombas de calor poderão reduzir a demanda de gás para aquecimento em edifícios na Europa em pelo menos 21 bilhões de metros cúbicos até 2030.

Cerca de 50% de toda a energia consumida na União Europeia é utilizada em sistemas de aquecimento e arrefecimento, e mais de 70% ainda provém de combustíveis fósseis, especialmente o gás, segundo dados do Eurostat.

Enquanto países da Ásia, em especial a China, concentram esforços na expansão de energia verde a partir de fontes solar e eólica, a Europa domina uma parcela significativa do mercado global de bombas de calor, componentes eletrônicos de alto valor agregado.

Com financiamento estimado em 300 milhões de euros, o plano REPowerEU, lançado pela Comissão Europeia para apoiar a transição energética limpa e reduzir a dependência do bloco em relação aos combustíveis fósseis russos — em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022 —, prevê três objetivos principais:

  • Eliminar todas as importações de gás russo por gasoduto e de gás natural liquefeito até o final de 2027;
  • Adotar medidas para combater a chamada “frota fantasma” da Rússia — navios utilizados para contornar sanções — e eliminar as importações de petróleo russo até o final de 2027;
  • Restringir a importação de urânio, urânio enriquecido e outros materiais nucleares provenientes da Rússia.

“Os países da UE têm de apresentar à Comissão, até 1º de março de 2026, planos nacionais de diversificação que incluam medidas e metas pormenorizadas para a eliminação gradual das importações diretas e indiretas de gás e petróleo russos”, afirma a Comissão Europeia.

O principal benefício das bombas de calor é a eficiência muito superior em relação às tecnologias baseadas em combustão. Enquanto uma caldeira a gás converte combustível em calor com eficiência próxima de 90%, uma bomba de calor entrega, para cada unidade de eletricidade consumida, entre três e cinco unidades de calor útil, o que reduz de forma significativa o consumo energético do sistema.

Os países que lideram a produção e a implementação de bombas de calor são Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca, que já utilizam a tecnologia em larga escala como padrão de aquecimento.

Entre 2022 e 2024, a Europa conseguiu ampliar a produção de energia elétrica a partir de fontes solares e eólicas e garantir até 47% de todo o suprimento energético proveniente de fontes limpas. No final de 2023, a Comissão Europeia apresentou ainda um plano de ação para acelerar a implantação e a modernização das redes elétricas.

Para acelerar a instalação de bombas de calor, a Comissão lançou, em janeiro de 2025, a Plataforma Aceleradora de Bombas de Calor, um programa que reúne especialistas, políticos e outras partes interessadas para discutir medidas de aquecimento sustentáveis.

A Comissão estima que sejam necessários mais 750 mil novos instaladores até 2030, além da requalificação de pelo menos 50% dos já existentes, para cumprir as metas de seu programa energético. A partir de 2026, além disso, todos os países da UE terão acesso ao Fundo Social para o Clima, um fundo da União Europeia com previsão de 86,7 milhões de euros a fim de apoiar medidas de eficiência energética e descarbonização, o que inclui projetos para a instalação de bombas de calor, em especial para aqueles em situação de pobreza energética e microempresas.

Os recursos provêm de uma quota específica das receitas do leilão de licenças de emissão no âmbito do novo regime de comércio de emissões (‘ETS2’), que, a partir de 2027, deve atribuir um preço ao carbono dos combustíveis utilizados em edifícios, transportes rodoviários e outros setores a fim de reforçar a competitividade das bombas de calor e torná-las mais atrativas, afirma a Comissão Europeia.

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