As gargalhadas são legítimas diante de planos de fuga que mais se parecem às piores comédias americanas. Mas me recuso a lidar com o fenômeno do êxodo de bolsonaristas apenas como parte de uma história de um grupo de covardes e de trapalhões – sem ofensa aos humoristas.
Quando um ex-chefe da agência de inteligência debocha da Justiça, quando um ex-deputado se humilha diante de um líder estrangeiro para pedir sanções contra seu próprio país, quando uma ex-deputada condenada ofende um país europeu dizendo que ali estará blindada ou quando um chefe de uma das forças policiais foge com passaporte de outra pessoa, o que está evidenciado é o sentimento que serve de base nesse movimento político: o da absoluta certeza da vitória da impunidade.
Contam com a falência do sistema, apostam na esperteza de verdadeiros calhordas, buscam nos atalhos um novo destino para suas falsas narrativas.
No governo, adotavam a mentira como parte de suas políticas públicas. Condenados, tentam transformar essa mesma mentira em arma de defesa legítima. Em ambos os casos, revelam um profundo desprezo pela democracia.
O golpe não estava apenas na minuta que estabelece um estado de exceção. A tentativa de golpe está em cada ato desses sequestradores que fizeram um país de refém.
A anistia que defendem, portanto, não é o caminho da pacificação de uma sociedade. E sim a legalização da impunidade.
Hoje, eles começam a descobrir que não foram apenas seus planos de fuga que fracassaram. Descobrem, em situações humilhantes, o que significa o estado de direito.
E descobrem, finalmente, o significado da frase atribuída a um ex-presidente do país que lhes serve de destino: não se pode enganar a todos todo o tempo.
