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O que está por trás do boicote às Havaianas? – Cubo

by admin

Chega a ser cômico ver os vídeos de bolsonaristas queimando e cortando suas havaianas, a maioria nem são novas, são velhas e sujas de tanto usar.

Há uma fórmula triste e previsível que se repete na cena política brasileira: enquanto a esquerda busca pautar o aumento real do salário mínimo, a defesa do SUS e a taxação de super-ricos, a direita bolsonarista gasta suas energias decifrando códigos imaginários em propagandas de chinelo. O caso patético do “boicote” às Havaianas (por uma mensagem de incentivo a “começar com os dois pés”) é a síntese perfeita de um projeto político que, esvaziado de qualquer substância para melhorar a vida do povo, reduz-se a fabricar inimigos em comerciais de TV.

A gritaria histérica de deputados e “influenciadores” conservadores contra uma campanha publicitária revela uma verdade inconveniente para eles: são pequenos. Pequenos na ambição, pequenos nas ideias, pequenos na capacidade de enxergar além do próprio umbigo ideológico. Enquanto o país debate o futuro da Previdência, o custo dos alimentos e a crise climática, a suposta “vanguarda” da direita oferece ao trabalhador uma trincheira vitalícia… dentro de uma loja de artigos de praia. É a política como birra de redes sociais, onde a medida do sucesso é um indicador social melhorado, mas o engajamento de um tuíte raivoso.

Essa é a tática do desespero narrativo. Sem um projeto concreto para enfrentar a desigualdade, a violência ou a dependência econômica, restam-lhes as guerras culturais fabricadas. Criar um inimigo a cada semana (seja um filme da Disney, um entrevistado no Fantástico ou agora um chinelo) é o mecanismo para manter uma base militante em estado de fúria constante. É a politização do nonsense, onde o argumento é substituído pelo ataque, e a discussão pública, intoxicada por confusões deliberadas.

Chega a ser cômico ver os vídeos de bolsonaristas queimando e cortando suas havaianas, a maioria nem são novas, são velhas e sujas de tanto usar.

O mais irônico, e poeticamente justo, é que essa máquina de ódio, movida a click e falso moralismo, acabou por fazer o trabalho de marketing que a Havaianas talvez nem precisasse. O comercial que poderia passar como mais um jingle de fim de ano ganhou um canhão de holofotes, grátis e nacional, catapultado pela histeria daqueles que queriam sufocá-lo. A direita, mais uma vez, mostrou-se biruleibe das ideias no sentido mais literal: agiu contra seus próprios interesses, deu audiência monumental ao “inimigo” e revelou ao grande público a profunda irrelevância de sua pauta. O tiro, como tantas vezes, saiu pela culatra.

Enquanto isso, do lado de cá da realidade, os problemas do povo brasileiro permanecem, grandes e concretos. A fome não se combate boicotando sandália. O desemprego não cai com interpretação maluca de slogan. A violência não recua com ataques a artistas. A pequenez dessa direita está justamente em sua incapacidade crônica de olhar para essas questões e apresentar soluções sérias.

O episódio Havaianas é um raio-X que revela a ossatura frágil de uma oposição que abandonou a arena das ideias para trancar-se no quarto escuro das teorias da conspiração. Mostra que, quando se esvazia o conteúdo, sobra apenas o mimimi estratégico.

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