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Os Desafios de uma Lenda do Uísque para Criar o SirDavis, a Bebida de Beyoncé

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Os Desafios de uma Lenda do Uísque para Criar o SirDavis, a Bebida de Beyoncé

Cortesia de SirDavis

O Dr. Bill Lumsden apreciando um drinque com a Sra. Knowles-Carter, como ele se refere a Beyoncé

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Há décadas, Dr. Bill Lumsden figura entre os nomes mais respeitados do universo do uísque escocês. Conhecido como “o cientista maluco do uísque”, ele atua há quase trinta anos como diretor de destilação, criação e estoques de dois single malts icônicos: o Glenmorangie, de Speyside — reconhecido por seu sabor suave e acessível — e o Ardbeg, de Islay, marcado por notas intensamente defumadas e turfadas. Ambos pertencem ao grupo LVMH, onde o Dr. Bill é considerado uma verdadeira instituição.

Dedicado e curioso por natureza, ele supervisiona armazéns de envelhecimento, cria novos blends e testa métodos experimentais de destilação e maturação. Raramente um mês passa sem que uma nova garrafa concebida por ele desperte a atenção do mercado. Além de mestre destilador, é também uma figura midiática: explica com precisão técnica suficiente para encantar especialistas, mas sempre com clareza para quem está começando a se aventurar no mundo do uísque.

Em uma de suas criações mais recentes, no entanto, o protagonismo não é dele — e poucos consumidores sequer sabem que seu talento está por trás do projeto. Afinal, quando a parceira criativa é Beyoncé, uma das maiores artistas e empresárias da cultura pop contemporânea, a discrição é compreensível. Como foi, então, para o Dr. Bill criar o SirDavis, o uísque mais ousado de sua carreira — e também o primeiro americano — permanecendo nos bastidores enquanto a “Sra. Knowles-Carter”, como ele a chama, assumia os holofotes?

Cerca de cinco anos atrás, Jonas Tahlin, presidente das marcas de destilados da Moët Hennessy, telefonou para o Dr. Bill na Escócia com uma proposta confidencial. Antes de revelar qualquer detalhe, pediu que ele assinasse um termo de sigilo eletrônico. Do outro lado da linha, veio a notícia: uma celebridade de renome internacional — apreciadora de uísques — queria criar sua própria marca, em parceria com o grupo. Surgiram ideias iniciais, incluindo uma mistura de Glenmorangie com uísque americano, mas o projeto esfriou temporariamente.

Em 2021, o telefone voltou a tocar. Era Caspar MacRae, então executivo da empresa (hoje CEO). “O que você vai fazer amanhã?”, perguntou, em um domingo de manhã, em Edimburgo. Ao ouvir que o Dr. Bill pretendia passar o dia no laboratório, respondeu: “Que tal vir a Los Angeles conhecer a Beyoncé?”.

O convite surgiu de forma inesperada — originalmente, quem conduziria a reunião seria Orlin Sorenson, fundador e CEO da Woodinville Whiskey, que acabou impossibilitado por ter contraído Covid-19.

O encontro aconteceu nos escritórios da cantora, em Hollywood, durante uma degustação de três horas que percorreu uísques escoceses, japoneses (os preferidos de Beyoncé na época), americanos e irlandeses. Após dias de reuniões, a equipe identificou com clareza o perfil de sabor desejado pela artista — e ficou evidente que o estilo intenso do Ardbeg não correspondia ao que ela buscava.

A partir dali, Dr. Bill e Sorenson começaram a desenhar as possibilidades. Construir uma destilaria própria chegou a ser cogitado, mas o tempo necessário até o primeiro lote tornava a ideia inviável. Optaram, então, por buscar bases junto à MGP, em Indiana, e testaram diversas combinações até chegar a um blend marcante: 51% de centeio e 49% de cevada maltada — uma fórmula exclusiva, com fornecimento garantido apenas para a marca SirDavis.

Maddy Talias

Dr. Bill com SirDavis, entre os barris

O centeio trouxe o toque americano, enquanto a cevada maltada adicionou o caráter escocês — elemento essencial, já que Beyoncé sempre demonstrou apreço por single malts. Ainda assim, faltavam ao blend a elegância e a sutileza típicas dos uísques japoneses.

O destilado-base, já com alguns anos de maturação em barris novos de carvalho americano tostado, passou a ser finalizado em diferentes tipos de barris de vinho. Beyoncé e sua equipe voltaram a se reunir com os produtores, dessa vez em Seattle, para uma degustação decisiva. Foram testados quatro protótipos, e a artista escolheu aquele finalizado em barris de xerez Pedro Ximénez (PX) — uma referência direta à sua admiração pelo uísque japonês Yamazaki. Essa escolha conferiu ao SirDavis o equilíbrio ideal entre potência, suavidade e profundidade aromática.

Atualmente, o uísque segue sendo destilado em Indiana. A maturação inicial ocorre ali, mas o processo de finalização é conduzido no Texas, onde está sendo construída uma nova instalação em Houston — cidade natal de Beyoncé e futura sede da marca.

Segundo o Dr. Bill, a parceria foi especial não apenas pelo peso do nome envolvido, mas pela clareza de visão criativa da artista. “Desde o início, Beyoncé sabia exatamente o que queria que o SirDavis representasse e como deveria ser seu sabor”, contou. O papel dele foi traduzir tecnicamente essa visão, garantindo que o resultado expressasse a identidade e o gosto pessoal da cantora.

Beyoncé permanece envolvida em todas as etapas do projeto — da estratégia da marca e inovação de produto até os detalhes mais minuciosos, como as receitas de coquetéis que levam o SirDavis como base.

Para o Dr. Bill, a colaboração representou uma nova maneira de criar. “O objetivo não era lançar mais um uísque com a minha assinatura, e sim algo que refletisse o universo dela”, afirma. Ao mesmo tempo, o projeto abriu espaço para explorar novas fronteiras dentro do uísque americano, um terreno ainda em expansão no portfólio da Moët Hennessy.

Ele reconhece que muitos consumidores atraídos pelo SirDavis talvez nunca tenham ouvido seu nome — e encara isso como algo natural. “Para quem não me conhece, é apenas uma nova bebida com uma história fascinante. Mas, para quem entende de destilação, há ali um trabalho técnico consistente que dá legitimidade ao projeto.”

O resultado, segundo o próprio Dr. Bill, é um uísque que dialoga tanto com os apreciadores experientes quanto com um novo público, mais aberto, cosmopolita e curioso. Uma criação que une a precisão de um mestre escocês ao olhar visionário de uma artista global — e que, de certa forma, reinventa também a própria noção de luxo no mundo dos destilados.



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